O Retorno do Dragão de Trevaterra - parte V

Um dia, enquanto a Rainha trabalhava ao lado do ministro, bateram na porta. Quando ela foi abrir, viu que eram pés de dragão que se avistavam pela fresta.

Exitou. Seu coração parecia que ia sair pela boca. Mas foi, e parecia que a maçaneta era quente. Abriu.

Era ele quem estava lá.

Os olhos do Dragão sempre faziam com que os seus se inundassem.

Ele tinha um olhar triste, mas tão fundo, que muitas vezes ela tentava entender e não conseguia. Parecia que ele estava sempre querendo dizer algo que sua boca não tinha forças para falar; então. dizia com os olhos.

A Rainha olhou pra trás. O ministro sentiu que algo estranho estava acontecendo e pediu licença. Disse que iria pegar um café.

Mas naquela manhã ele não voltaria. Sabia de tudo o que estava acontecendo com ela, e fora ele o primeiro a ver os hematomas, e condenar o Rei, em pensamento. Por isso não voltaria e deixaria os dois a sós em sua sala. A Rainha agora era menina, e ele via isto, e a compreendia.

- Então? Que bons ventos o trazem? - Ela continha o choro e a vontade de jogar-se em suas patas.

- Precisava vir até aqui pegar umas coisas que estavam guardadas em meu armário. - Ele a olhava seriamente. Oa lábios apertados, como se doesse vê-la.

- Não havia levado tudo?

- Não. Nunca vou levar tudo.

- Então pretende voltar de quando em vez?

- De forma alguma. Tenho muitas coisas pra fazer em Trevaterra.

Ela desabou. Ele era a única criatura no mundo que sabia quando ela iria começar a chorar:

- Mas eu sinto tanto sua falta. Se pudesse parava o tempo quan...

Ele colocou seus dedos escamosos sobre a boca dela, solicitando silêncio.

- Acho que agora está tudo em seu lugar. Me deixe longe do seu Rei. Ele já nos fez muito mal.

Ela baixou a cabeça e murmurou "não tenho culpa", mas ele estava muito interessado em seus próprios afazeres para ouvir.

A Rainha levantou a trancou a porta.

- Não tenho culpa! -Gritava.- Eu sei que fui eu quem te virou as costas primeiro, mas como eu iria saber, se querias estar apenas trancado naquela caverna? Por que veio até aqui? Para se vingar pelo o que eu fiz sem querer? Por que me procuras? Tens que aprender que se sente algo, deve apenas sentir e não evitar.

- Eu vou embora.

- Eu te odeio. Odeio.

- O que é passado, está no passado. Queria que me entendesse como antigamente, mas nada disso é possível. O que sentíamos ficou no passado. Pode dizer o que quer, o que pensa. eu vou ouvir do mesmo jeito.

- Não vai adiantar. Se eu gritar, tu vais ficar? Não. Vais me tocar? Não. Se eu pedir, implorar, não sei, vais me levar embora?

- Eu vou embora.

- Já disse: tens que aprender a lidar com isso. Tu não és uma máquina, mesmo usando um capacete de construtor. Tens coração. e corações não entendem cálculos e medidas! - Ela estava aos berros.

Ele foi calmamente até a porta, enfiou uma das unhas na fechadura e abriu a porta como quem fatia manteiga:

- Quem disse que odeia quem?

E saiu, fechando a porta atrás de si.

Ela chorava caída no chão...escondida entre suas saias.

"(...)Mas foi como a fotografia

De um velho filme francês

Não fosse a roupa que eu vestia

Naquele estilo new wave

Quem sabe eu conseguiria

Chegar perto de você

(...)

Fiquei ali sentado

Sentado sobre as mãos

Pensando em te perder

Querendo te encontrar(...)"

Continuação de "O Retorno do Dragão de Trevaterra. Parte IV".

Caroline Garcia Cruz
Enviado por Caroline Garcia Cruz em 03/04/2009
Reeditado em 28/12/2011
Código do texto: T1520662
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