QUADRILHA MODERNA

(Inspirado no poema "Quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade)

     Eu confesso a vocês que um dia amei João, que não amava nenhuma Teresa. Amava Simone, que pensava que amava Francisco.   Mas Francisco, na surdina, amava mesmo era Ricardo, que amava Vera, que amava Cido, que amava Márcia, que amava Gilberto, que não amava ninguém.
     João casou-se, mas não foi com Simone. Casou-se com uma tal de Maria José, que eu nem sei quem é. Mas depois de 25 anos descasou-se. E eu desistí de esperá-lo (não ia ficar 25 anos esperando, né?).
     Ninguém nessa história foi para o convento, pois nenhum deles dava prá isso e todos estão vivinhos da silva.
     Quem ficou prá tia fui eu, que tô aqui fazendo poesia.
     Simone trocou de nome e de outras coisinhas: virou transexual.
     Ricardo namorou com Vera, que namorou com Cido e depois passou por todos os garotos do quarteirão. Desiludido, Ricardo procurou Francisco, que já havia saido do armário. Os dois estão juntos até hoje. Aliás, foi o único casal que se formou dessa história.
     Márcia não quis saber de Cido nem de Gilberto. Depois de muitos anos sendo a "certinha" da turma, virou garota de programa. Num desses programas, conheceu um italiano que a levou consigo. Hoje vive na Itália, cercada de regalias. Se deu bem...
     Prá não dizer que não tentei, de minha parte, andei namorando o Cido, andei namorando o Gilberto, mas com nenhum dos dois deu certo.
     Faz um tempinho que não os vejo. 
     Sei que entre eles há uma espécie de "disputa" para ver quem "pega" essa solteirona aqui.
     Mas acho mesmo que um dia ainda vou arranjar um " J. Pinto Fernandes" (aquele da Lili) que nem entrou nessa história.