Quando a lua nos acaracía, - Cap I encontro

Cap I - O encontro

O velho autocarro, subia paulatinamente a encosta coberta de neve, vencendo os últimos metros que sobravam.

Lá dentro, apenas um passageiro, cara colada na janela, olhar vago e sonhador, esperança num futuro que tardava. No corpo um fato coçado, passado de moda, nas mãos, uma velha mala de cartão, no coração, a esperança de ser finalmente feliz.

Na memória, assola todo um passado, como flashes momentâneos dos tempos que esteve preso. No bolso, dezenas de cartas já amarelas e sujas, mil vezes relidas. Junto ao peito, aquela foto que um dia recebeu e que milhões de vezes beijou.

Foram as cartas e a velha foto, que durante as longas noites de presídio, lhe deram a esperança e a força que lhe faltava, e o faziam sonhar.

Recorda-se com ternura do 1º anúncio que mandou editar:

Jovem presidiário, vítima de um momento infeliz, 26 anos, cumprindo pena por cinco anos, romântico, pretende corresponder-se com menina ou senhora, para poder deixar de se sentir tão só.

A resposta chegou ao fim de 11 dias, em forma de carta dizendo apenas:

Jovem senhora 25 anos, sentindo-se muito só também, romântica, aceita ser sua correspondente de presídio. Aguardo resposta.

Debaixo de um guinchar de travão, o autocarro parou fazendo que interrompesse o seu pensamento.

Os seus olhos ávidos procuram… lá fora a neve ia-se acumulando, deixando os telhados e os passeios cobertos de neve, alguns peões ocasionais, corpos recurvados, andavam apressados, para rapidamente recolherem às suas casas. Nisto, o seu coração bate mais forte, quase que pulando pela boca: Tremendo de frio, estava do outro lado da rua, olhos esbugalhados, sorriso radiante, a mulher que ele tanto ama.

Continua

Alma Lusíada
Enviado por Alma Lusíada em 21/05/2006
Reeditado em 21/05/2006
Código do texto: T160185