CONTOS DRACONINOS 4 - AHRIMAN TONATIUH – O ESCARLATE

O céu límpido exibe uma lua cheia acinzentada cercada por estrelas. A luz refletida pelo disco lunar ilumina a clareira aberta no meio da floresta. Num círculo, cobrindo quase toda a clareira, vê-se gigantescas criaturas. Seus olhos flamejantes sodam a escuridão. Suas poderosas asas em movimento agitam o ar seu redor. São dragões de tamanhos, cores e temperamento diversos. Então um grande dragão vermelho dirige-se ao centro e altivo fita os outros.

-Irmãos e irmãs eu, Ahriman Tonatiuh, os convoquei. Fala com voz poderosa como um trovão. “Muitos devem estar se perguntando por que fiz tal coisa” em silêncio Ahriman caminho pela clareira. “Sei que aqui há aqueles que possuem desavenças, outros que não se suportam e há aqueles que são indiferentes a tudo e a todos. Mas acima de todas estas discórdias devemos lembrar que somos dragões, seres semelhantes , irmãos de sangue , filhos do poderoso Dracon, primeiro dragão que pisou na Terra e pai e mãe de todos nós, dragões”. Ahriman silencia-se novamente enquanto os outros falam entre si. “Pois, bem meus irmãos, é legitimado por esta verdade que eu os convoquei”. Um novo intervalo se estabelece antes que Ahriman retome o discurso. “ Mas o que será tão urgente a ponto de colocarmos nossas diferenças de lado e nos reunamos? Eu lhes direi: humanos.”

- Grande Dracon! Ahriman não acredito que você esteja devotando seu tempo e o nosso a essas criaturas insignificantes, sugadores de leite? Protesta uma fêmea dourada em meio ao vozerio.

- Minha cara Sedna, diga-me quantos dragões há no mundo? Altivo Ahriman fita a interpelada.

- Não , não sei responder. O dragão vermelho caminha pela clareira com passos firmes e olhar fixo em cada rosto escamoso ao seu redor.

- Pois bem, nós somos os últimos dragões do mundo. Eramos milhões e hoje estamos reduzidos a cento e quinze indivíduos. Dominamos mares, céu e terra por milhares de anos, atualmente estamos confinados a territórios cada vez menores.

- E tudo isso por causa dos humanos? Interrompe um grande dragão branco. Ahriman volve o olhar em sua direção. Seus olhos tornam-se uma labareda.

- Meu caro Ormuz, sabemos que temos longevidade, somos extremamente resistentes, mas como tudo que é vivo estamos sujeitos a morte, seja ela natural ou provocada. No entanto os humanos de caça estão se tornando caçadores de dragões. O dragão vermelho silencia-se por alguns instantes. “Eles proliferam-se rapidamente e estão ocupando o planeta com suas cidades, destruindo florestas inteiras a medida que seu povo cresce, seca rios e polui mares. Todas as ações humanas são destrutivas. Habilidosos em construir máquinas de destruição estão interferindo no futuro da nossa espécie. Por isso proponho que unamos nossas forças e exterminemos esta praga enquanto ainda é tempo. Se não fizermos nada todos aqui e seus filhotes morrerão”. A assembleia agita-se, pois, o que Ahriman havia dito era uma verdade comprovada por todos.

- Sua preocupação é louvável e procedente. Mas devemos analisar a questão sob outros aspectos. A voz do dragão branco sobressai a dos demais.

- E que aspectos são esses, Ormuz? Impacienta-se Ahriman.

- Bem, não podemos esquecer de que presenciamos a extinção de muitos outros seres que habitaram este mundo, como os nossos primos os dinossauros, os lagartos voadores, os gigantes dos mares, os grandes pássaros das pradarias e os gigantescos mamíferos da era glacial. Todos estavam bem adaptados ao meio onde viviam. No entanto, por obra da natureza, foram exterminados.

- Aonde você quer chegar? Indaga Ahriman.

- Todos essas especies foram extintas sem a intervenção humana, a qual é bem jovem se comparada com outras. A natureza, a qual todo vivente está sujeito, goste ou não, se encarregou de seu fim. Ou seja, é natural que as especies nasçam, cresçam, atinja o apogeu, decaiam e desapareçam. Talvez tenha chegado o momento do fim da nossa especie, talvez os humanos, que também fazem parte da natureza, sejam os executores de ordem superior. As palavras de Ormuz são eloqüentes. Como efeito divide os ouvintes em dois grupos: os que concordam com ele e os que apóiam Ahriman. Rapidamente o dragão vermelho retoma o discurso.

- Talvez você esteja certo, Ormuz! Digamos, hipoteticamente, que os humanos estejam a serviço da natureza. Mas como saber que de fato é chegado o nosso fim? Ou, talvez, quem sabe, nós que sejamos os algozes dos humanos e fomos incumbidos de extermina-los? Ahriman silencia-se aguardando suas palavras produzirem efeito na assembleia. “Não há como respondermos nenhuma dessas perguntas. O que de fato temos, como natural, é o sagrado instinto de sobrevivência. Ele está acima de qualquer questionamento, de qualquer dúvida. Se for a vontade do poderoso Dracon que morramos que assim seja. Mas que seja lutando e não como gado que caminha passivo para a morte. Pois , somos dragões, filhos das estrelas, seres divinos”. As criaturas escamosas explodem em euforia. Ahriman havia atingido o seu objetivo, todos o apóia. Ormuz observa com preocupação aquela manifestação.

Como um general Ahriman delegada as próximas ações aos seus soldados. Então as criaturas aladas ganham o céu seguindo cada qual seu destino. Ahriman fita as estrelas e com avidez absorve a atmosfera noturno.

- Parabéns!!! Você conseguiu o que minguem havia conseguido antes : unir dragões num mesmo proposito. Congratula Ormuz.

- Obrigado! Espero que não esteja contrariado.

- Não estou. Responde Ormuz.

- Ótimo!! Antes que parta não esqueça de que quem não está a favor está contra. Ormuz fita com severidade o dragão vermelho.

- Você está me ameaçando, Ahriman??

- Não. Nos conhecemos a bastante tempo para saber que não faço ameaças.

- Claro! Você é capaz de outros meios para atingir seus objetivos, como emboscadas, traições, mentiras e outras formas do gênero, mas ameaças não. Ironiza Ormuz.

- Digamos que estou lhe dando um aviso de amigo para amigo. Ahriman abre suas poderosas asas e num salto ganha o céu. Ormuz permanece em silêncio observando as estrelas.

Sannyon
Enviado por Sannyon em 25/05/2009
Código do texto: T1614125
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