O velho da montanha

Numa montanha no fim de uma pequena cidade morava um homem muito inteligente que erra por muitos considerado um oráculo, este homem tinha um mistério que era de onde vinha toda a sua sabedoria. Ele tinha um criado, que era encarregado de fazer a comida do velho homem alem de levar livros velhos, os mais velhos que ele encontrasse a ele, o velho queria livros escritos a mão, que ninguém mais desse importância, de preferencia os que estivessem quase apagados pelo tempo.

Dentro de sua caverna este homem morou desde sua infância, nunca saiu de la. Ele afirmava que nunca havia aprendido a ler, daí o motivo de tantas perguntas a respeito de seu conhecimento, pra que ele quer os livros? as pessoas se perguntavam, sem nunca ter uma plausível resposta.

Alguns diziam que ele morava ali a mais de dois séculos, e outros não davam muita importância ao que ou quem ele era.

Um dia apareceu na cidade um jovem que ouviu sobre a fama do velho homem da montanha, e decidiu que gostaria de aprender com ele as coisas da vida, as maneiras de se viver, e quem sabe a fonte da eternidade.

Como ninguém nunca dava atenção ao pico da montanha, o homem não tinha visitas e acabou recebendo o jovem de coração aberto para responder-lhe as perguntas que pudesse responder. O jovem começou por perguntar, por que ele sempre queria os livros mais velhos e escritos a mão. Ele pois-se a responder que estes tinham alma a principio, pois saíram dos movimentos calígrafos humanos, e que pedia os antigos pois as pessoas não tinham tanta preguiça de desenhar seus textos, e de colocar neles todas as palavras cabíveis na escrita. Perguntou novamente o garoto quantos anos tinha o velho, que veio acompanhado de uma rápida resposta com o numero trezentos. O jovem a principio ficou espantado mas não viu porque retrucar a resposta. Perguntou a seguir porque dava tanta importância a livros que a maioria não deu, e o velho sem pestanejar disse que aqueles livros tinham a alma de um escritor que não pode crescer, mas que seria melhor do que a maioria pudesse entender.

Intrigado com a resposta dos trezentos anos o rapaz pergunta o como ele viveu tanto. O velho lhe responde que o espirito que traz um texto é muito grande e que se interpretado e entendido lhe da muitos anos de vida a frente de quem não o interpretou. O garoto então se satisfez com aquela resposta já que pensou que o velho não lhe disse a idade de corpo mas a de mente, sem saber que a idade de corpo do velho era aquela e a de menta quase impossível de se dizer já que ele tinha um dom, um dom magnifico que lhe permitia saber o que o autor escreveu sem que precisasse ler nenhum texto. O homem conseguia extrair o espírito do texto deixado por seus escritores na hora da escrita.

O jovem pediu para o velho lhe ensinar como ele poderia interpretar um texto da maneira que é perfeita e magnifica, da maneira como o escritor em consciência plena o escreveu, o velho lhe responde que não poderá ensinar isso para ele, pois aquilo é um dom que deus lhe deu, e que para não desperdiça-lo não quis aprender a ler. Pois quando se escreve algo aquilo não passa mais a lhe pertencer e sim de quem o consome.

O jovem entusiasmado com a conversa e louco querendo saber como o velho sabia tanto sem ao menos saber ler, pergunta se pode ver como o velho aprendia tanto. O velho diz que sim, mas que ficasse entre eles. O velho disse que a coisa que ele fazia lhe partia o coração, mas foi algo que levou-o ao vício, e que por isso se isolava. Ele levou o jovem para o lugar mais fundo e escuro da caverna em que ele morava na montanha, um lugar onde tinha rochas esculpidas que podiam ser vistas somente por causa das tochas que ali iluminavam naquele momento, eram personagens de mitologia e contos, muitas coisas que o jovem não podia nem imaginar um nome para elas, a rocha bruta talhada a mão, por pedaços de rocha, ou ferro, não sabia ele naquele momento, foi onde levou ele a perguntar quem havia feito tais esculturas. Fui eu disse o velho no decorrer de minhas viagens aos livros que queimei... que queimou... Disse jovem com uma exclamação envolta em uma interrogação maior ainda. Sim disse o velho meio triste, é assim que consigo ver o que realmente tem neles.

Quando eu era criança, meu pai para me livrar do frio de uma noite de viagem, queimou seu precioso diário para me esquentar e me livrar da morte, antes disso ele havia escrito algo, o que seria seu ultimo texto naquele livro com capa de couro. Assim que começou a queimar página por página, eu via subindo nas labaredas que seu diário fazia, as histórias de aventuras que meu pai cravou. Daquele dia em diante eu prometi que não leria absolutamente nada, e também não escreveria nada, pelas memórias que meu pai teve que queimar para salvar minha vida.

E cada vez que eu faço isso, acrescento algo em minha mente, e vivo mais a partir de uma memória escrita indo por chamas, tenho trezentos anos de vida, me alimentando das escrituras que o mundo não quis ler.

Nisso o jovem abismado e sem palavras decidiu que enquanto o velho ainda quisesse viver e enquanto houvesse forças para estar em pé ele estaria a seu lado ouvindo o velho lhe contar as histórias que o mundo não quis saber.

besouro
Enviado por besouro em 28/07/2009
Reeditado em 16/03/2011
Código do texto: T1724102