Stroke

Os adultos que olharam minha infância juravam que havia almas do outro mundo perturbando o sono das crianças indefesas e adultos desavisados. Todos da família já tinham encontrado algum morto; contavam casos de estranhas aparições precedendo desmaios, acidentes vasculares cerebrais, crises epilépticas, infartos do miocárdio e outras mazelas; assombração deixava de ser susto pra ser etiologia! Por informações de D. Moça, meu avô materno, antes do stroke, fora visitado por um fantasma; juravam pela luz que os alumiava estarem falando a verdade; devem ser os motivos, que faziam o Joca entrar em casa à noite em louca disparada, como se estivesse cavalgando um corcel e exorcizando espíritos. D Moça me contava histórias familiares; repetia com detalhas a história de uma filha viúva com quatro filhos; o marido era um sargento do Exército, exemplar chefe de família, que morreu e deixou cartas no armário do quartel encontradas pela esposa! Cartas de amor, que uma prima lhe mandava; imaginem, correspondência amorosa familiar...Foi um escândalo, e D. Moça pode testemunhar as conseqüências, pois, a prima escriba foi banida pela família; dai, justificar-se aquele aforismo: - “Se fazem isso com os que se amam, imaginem o que não fariam com os que se odeiam”...Está claro, que a viúva teve ódio pelo resto da vida, nunca perdoando o marido, embora vivesse com a pensão deixada pelo militar pecador...Pois bem, D. Moça viajando num trem em Realengo,vê refestelado num banco o genro falecido; deveria estar de serviço, pois, era área militar...Espírito, extremamente gentil, ofereceu-lhe o lugar e ela aceitou; apenas não me disse se ele se transformou em fumaça, se saiu pela janela, se o lugar estaria frio ou coisa parecida. A filha permaneceu viúva o resto da vida.