O que há embaixo da cama?

Foi numa dessas noites que ouvi um barulho estranho vindo debaixo da minha cama pela primeira vez. Como o barulho não parava, decidi dar uma espiada para ver se havia algum animal ali. Acendi o abajur e fiquei de ponta cabeça para espiar o que se passava lá embaixo. O escuro nada revelou, me enfiei novamente embaixo das cobertas e apaguei a luz. Mas quando eu estava quase pegando no sono novamente, o barulho recomeçou, parecia que algo estava aranhando o assoalho. Achei que fosse uma das bichanas que residem aqui em casa, talvez alguma delas tivesse entrado antes de fechar a porta, sem que eu notasse. Ralhei com as felinas pelo breu do quarto e tentei outra vez dormir. E lá veio o ruído novamente. Acendi o abajur e dessa vez desci da cama, olhei ao redor, todos os bonecos estavam em seus lugares, não avistei nenhuma das gatas. Abri o armário de roupas e peguei a lanterna, me ajoelhei e iluminei embaixo da cama, espantando o escuro que ali habitava. E para minha surpresa nada havia ali.

- Estão me pregando uma peça, só pode!

Fui até o quarto do meu irmão caçula e ele dormia de verdade, assim como todo o restante da casa e as felinas, que nessa noite fizeram do sofá da sala sua cama. Voltei para o quarto com minha indignação.

- Não é possível. Vai ver que dormi e acabei sonhando!

Apaguei a luz, me cobri e fechei os olhos. De repente, o barulho veio novamente... Rec, rec, rec... Mais uma vez repeti os gestos e não havia nada lá!

- Todo mundo dorme nessa casa, só eu que não consigo! - Resmunguei para mim mesma.

Nunca acreditei em bicho papão e não seria depois de velha que começaria a acreditar nesse tipo de coisa. Resolvi deixar a luz do abajur acesa por um tempo por via das dúvidas, de repente o que estivesse fazendo esse barulho tivesse uma certa timidez da claridade. Coloquei um travesseiro no rosto por causa da luminosidade excessiva da lâmpada de 100 watts. Minha mãe sempre diz: “Pra quê uma lâmpada tão forte nesse abajur guria?”. “Porque eu gosto de claridade e das coisas bem iluminadas mãe!” Argumentava de volta.

Já passava da meia-noite e eu ainda estava com os olhos parecendo duas bolitas de tão abertos. Sentia sono, mas não conseguia dormir pensando naquele barulho irritante e com o travesseiro me abafando as narinas. Ouvi um barulhinho bem baixo, como se fossem as unhas de um cachorro tocando o assoalho, fazia um tec, tec, tec ritmado. Espiei por uma frestinha do travesseiro e não acreditava no que estava vendo. Consegui ver uma pequenina sombra atravessando correndo em disparado pelo quarto e indo para o corredor pela pequena fresta embaixo da porta. Mais que depressa me levantei e corri procurando pelo que seria aquilo, se eu acreditasse em gnomos poderia dizer que era um. O facho de luz da lanterna sacudia enquanto eu corria à procura da desconhecida sombra. Consegui perseguir a coisa até a cozinha, fui pé por pé para ver se o pegava. Mas quando acendi a luz, levei um susto maior ainda.

- O que houve Ana? - Minha mãe estava lá, bebendo água.

- Poxa mãe, que susto tu me deu!

- Não consegues dormir filha?

- Não... – Nesse momento pensei se devia ou não contar sobre a minha suposta desconfiança da casa estar habitada por pequeninos gnomos ou seres de outro planeta, resolvi não falar nada, talvez ela quisesse me internar num hospício!

- É que... Eu acho que tem ratos aqui em casa mãe, ouvi uns ruídos!

- Ora menina, como poderia ter rato aqui em casa, com tantas gatas que temos? Teria de ser um rato bem audacioso e cara de pau para aparecer por aqui, e burro, pois seria devorado na hora! Deves ter sonhado sem perceber!

- É mãe, acho que tem toda razão, eu devo ter sonhado alguma coisa mesmo... Vou pra cama, boa noite!

- Durma bem! - Disse ela, mas eu já havia saído da cozinha.

Por via das dúvidas, passei pelo banheiro e peguei o spray de inseticida, se aquela coisa persistisse em fazer o barulho, eu iria espirrar aquele troço fedido pelo quarto inteiro se fosse preciso!

Voltei para o quarto e minha gatinha repousava em cima da minha cama. Bom, pelo menos se houvesse barulho novamente, ela caçaria a tal criatura não identificada. Será que poderia ser uma barata mutada geneticamente? Eu odeio baratas!

E mais uma vez em enfiei na cama para tentar dormir, apaguei a luz e deixei a lanterna embaixo do travesseiro. Dessa vez só houve silêncio e finalmente consegui dormir. O que quer que estivesse ali, já não estava mais, ou resolvera ocupar outro cômodo da minha casa.

Lilith Góthica
Enviado por Lilith Góthica em 13/10/2009
Código do texto: T1863937
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