Este conto não tem título

Enxergava ao longe uma luz vacilante, parecia uma chama. Senti-me intrigado, e entrei no meio das árvores para ir ao encontro dela. As árvores eram enormes, com centenas de anos de histórias pra contar, perdidas ali, no meio da escuridão, que agora era pouco iluminada pela pequena radiação de luminosidade que eu avistava. Cada vez que me aproximava, a imagem se tornava mais clara, e eu tentava assimilar o que via com alguma lembrança, mas nada me vinha à cabeça para explicar. Enquanto os pensamentos transcorriam acelerados em minha mente, eu percebi que pisava em lindos cogumelos de todas as cores, tamanhos e espécies. Pensei em parar para admirá-los, mas podia ficar para depois, porque minha curiosidade em decifrar o que eu via era maior no momento.

A luz ficou mais nítida e o pequeno ser que a irradiava tomou forma definida. Não se parecia com nada que eu já tinha visto ou ouvido falar. Podia ser a coisa mais estranha que eu já vira até aquele momento, mas não podia deixar de assumir que era belo. Sim, belo. De uma maneira diferente, uma beleza diferente. Tinha no máximo cinqüenta centímetros de altura e sua cabeça tomava a maior parte dessa medida. Seus olhos eram enormes, pretos, parecidos com bolas de tênis, se estas fossem pretas. Suas pequenas mãozinhas saíam logo abaixo da cabeça e terminavam em grandes dedos, cinco em cada uma. Estranhei o fato dele não ter orelhas, porém o que me intrigou mais foram seus pés, desproporcionais ao pequeno corpo. As pernas seguiam as estranhas proporções do corpo, mas os pés eram quase da metade do comprimento de seu todo e também apresentavam cinco longos dedos.

Nenhuma imagem semelhante passava pelos meus pensamentos, mais acelerados do que nunca naquela noite. Muitos problemas me atormentavam e acho que foi por esse motivo que me senti obrigado a ir ao encontro daquela luz vacilante. Acho que nada mais fazia sentido para mim e fui procurá-lo ali naquele bosque cheio de mistérios. Voltei a pensar em tudo que estava me fazendo mal naqueles dias nebulosos em que nem o Sol vinha me dar um bom dia, nas coisas que me tiravam o sono ou que me faziam ter pesadelos nas poucas noites de sono.

A cabeça estava a mil por hora e nada me fazia parar, até que me lembrei onde estava e por qual motivo, então voltei a mim de repente. Saltei cerca de um metro para trás, assustando a pequena criaturinha que me fitava com aqueles olhos negros. Balbuciei algumas baboseiras e percebi que a criaturinha olhou para mim como se entendesse o que eu acabara de dizer. Pensei em arriscar uma conversa. “Você me entende?” Ela respondeu que sim com a cabeça, porém eu não tinha dito nada, apenas em minha mente, como se para confirmar o que eu estava preste a dizer. Foi então que eu senti que ela estava falando comigo. Eu não ouvia nada, mas sentia meus pensamentos se organizando e obtendo respostas imediatas a eles.

A expressão inicial de susto da pequena criatura havia se transformado em um pequeno sorriso maroto de compreensão que me tranqüilizava tanto quanto as respostas dos meus maiores problemas.

Comecei a sentir um calor muito agradável atrás da cabeça, que foi se espalhando pelo corpo, seguido de arrepios. Fechei os olhos para tentar aproveitar aquela sensação maravilhosa e senti como se tivesse entrado em um túnel muito branco. Eu estava a uma velocidade absurda, correndo através daquele caminho de luz, quando o calor passou e eu abri os olhos e não vi mais nenhuma luz ou sinal algum da pequena criatura que acabara de ver.

Um pouco decepcionado e muito aliviado, me virei e segui a direção de volta para ver os cogumelos que tinham me chamado à atenção momentos antes.

melão
Enviado por melão em 21/07/2006
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