Delírios de Kuekas Mensalus

Há muito que tudo era ruína onde ele viveu, o céu era negro, e anjos esverdeados assemelhados a notas de dólares rasavam no que restou do ninho da horda de miseráveis que habitou aquele pedaço do inferno.
Kuekas Mensalus, o último dos miseráveis ainda sentia o cheiro de podre vindo daquele prédio cercado por belas águas, e que tanto ele conhecia, e que hoje depositava restos de uma dinastia que deu lugar ao caos e que tinha ele como fiel depositário, de um espólio sujo que mais parecia uma pocilga.
Em seus devaneios via envelopes enfileirados, e em cada um que ele abria jorravam impropérios e insulto que explodiam em sangue nos seus olhos, quanto desespero, e pensava solitário Kuekas...
___Que faço eu agora, que a decadência chegou no império de Barbudos Primeirus, e alguém vai ter
que ajustar contas com o Capeta?
Vasculhou as adegas de Barbudos há tempos atrás e desde então encharca-se de cachaça barata, que ele
trouxe de presente quando deu umas 200 bolsas e angariou além das 100 garrafas de cana, uns votinhos também.
Barbudos o enganou, fez da sua vida um inferno, perdeu mulher, filhos, matou uns 30 só por um cursinho de guerrilha, nas sarjetas Venezuelanas, e agora Barbudos passou e ele ficou na lama dos delirantes sem pai.
Em seus delírios os anjos com asas esverdeadas rumam para o norte e de lá retornam urubus com asas vermelhas de sangue, que declamam uma estranha oração, a Oração da Propina, e que ele repete a cada vez que pensa em seu fim.
Na manhã em que Kuekas foi devorado pelos abutres, fora acometido de novas viagens ao esgoto de sua vida:
Ainda de madrugada, depois de um porre fenomenal, e de ter sonhado com Barbudos brincando de gangorra com Fidelis Castradus, eis que se viu diante de uma cadeira elétrica, e passavam diante dele páginas e mais páginas pintadas de verde e em alto relevo contavam sua vida, e a cada página passada, Barbudos dizia: Foi você...
E ambos, Barbudos e Fidelis, marchavam em direção a ele com umas maletas 007, que em suas bordas tinham enormes dentes, como se fossem tubarões, e que mais cedo ou mais tarde o devorariam.
E ao final do delírio, depois de terem passado todas as páginas de sua vida, uma enorme porta se abriu e ele viu uma multidão esticando uma enorme corda, que enlaçou em seu pescoço, e aos gritos de, O Kuekas é nosso...O Kuekas é nosso, enforcou a ultima merda que havia ainda vivo no país.

Isto é ficção é claro, mas também se vive de sonhos...

xxeasxx

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 10/02/2010
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T2080239
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