Madalena...


Para ver as pessoas passarem, trouxe minha cadeira para a calçada, mas antes
vesti um manto encantado para não obter retornos destes contactos e, dali, olhava até onde a vista alcançava…Até quando a reta da rua se encontrava com a curva
e essa engolia a todos...

Alguns passavam novamente outros nunca mais apareciam… Uns passavam conversando, outros de outros sorriam, uns assobiavam, outros cantavam, mas o certo é que para nenhum eu aparecia… O manto me dava poderes, mas não os que eu queria, carecia…

Ganhara aquele artefacto de esconde-esconde quando, por um imperativo da vida, perdera família e amigos, todos os amigos, menos um, que nem era um, era uma… Madalena.

Chamava-se Madalena e a tinham como pecadora… Mas não era… Madalena era única filha na casa de muitos filhos, e como meninas não se misturavam com meninos, eu não podia brincar com Madalena…

Mas ela era mesmo minha amiga… E eu fugia para irmos brincar, e foi ela minha amiga tão, tão, querida que me dera aquele manto poderoso, para ninguém me bater, para eu fugir e com ela ir me encontrar…

Hoje não sei mais de Madalena, mas a vejo em todo lugar… E o presente que me dera, o manto mágico, continua a me dá poderes especiais os quais uso em causa própria e de outros… Magia usada mais em causa própria, confesso.

Ainda gosto de me esconder, de algumas pessoas, de algumas situações da vida… Por que? Porque gosto de surpreender… Esta vaidade cultivei desde cedo, quando não sabia o que era ter ou ser, ou ser e ter… Será que faz diferença?

Sei não… Naquele tempo em que perdera tudo, e me sentira um nada, eu tive tudo… Tive o amor de Madalena… Minha amiga que me fez sentir ser alguma coisa… Agora, que tenho tudo, aquela essência que ficou, talvez seja alguma coisa no nada, do tudo que talvez eu possa ser um dia… Quisera ser pelo menos um pouco do que fora, para mim, Madalena.

Madalena, foi pro mar e eu fiquei a ver navios...


Ibernise.
Goiânia (Goiás/Brasil), 26FEV2010.
Núcleo Temático Filosófico.
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.
Ibernise
Enviado por Ibernise em 26/02/2010
Reeditado em 26/08/2013
Código do texto: T2109221
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.