Transformação

Princesa das Csárdás que mudou o roteiro de minha adolescência, com seus cabelos dourados e seus olhos de um azul muito claro; sua voz saia da alma, das células mais profundas do coração, quando mostrava toda a religiosidade que jurava ter. Princesa das Csárdás que nunca entendia o que eu dizia, porque eu criara uma linguagem exclusiva para seus ouvidos. Era mais importante para mim do que todos os apóstolos, incluindo Judas Iscariotes; mais importante que as palavras sábias do Reverendo Joaquim de Lucas, no tempo em que este prelado era santificado, à beira da canonização; antes de entregar a alma ao demônio, acusando os evangélicos, que davam doces às crianças, de terem parte com o demônio; como padres e bispos gostam de falar no demônio; será que também os cardeais, ou o próprio Papa?

Princesa das Csárdás, por que me fazias sofrer tanto, deixando os olhares furtivos para o Gilberto, que tinha lábio leporino? Por que me fizeste sofrer tanto, ao me declarar árbitro de uma contenda entre seus dois amores? A bem da verdade, um deles cantava maravilhosamente a “Voz do violão”, mas preferiste o outro com nome esquisito de Mirolho, talvez por ser estrábico. Princesa das Csardás como me fizeste sofrer, ao destruir minhas fantasias juveenis, vendo-te jovem adulta, pálida, de dentes escuros e de cabelos mal cuidados; felizmente teus óculos escuros me pouparam o desgosto de ver teus olhos de cor diferente do azul claro da minha infância; assim mesmo, te dediquei um poema em azul.