MAGIA

Eu acredito em magia. Mas não por devoção. Acredito porque gosto de acreditar. Não acredito de verdade, como quem se vê obrigado a acreditar. De verdade, eu não acredito em nada; finjo que acredito, porque gosto de fingir que acredito. O bom de acreditar não acreditando é que você já sabe toda a verdade, e nenhum letrudo terá o prazer de vir decepcioná-lo. Mas então você não poderá dizer que acredita, porque você acredita pra você, e não para os outos. Para os outros, você não acredita. Essa é uma verdade sua, que para os outros não pode nunca ser verdade. Não é uma verdade de verdade, mesmo. É a verdade que você sabe que não é verdade, mas acredita. E acredita porque gosta, e não porque realmente acredita. É uma fé pueril, de quem acredita como criança. A criança não acredita de verdade, ela acredita de "mentirinha".

Eu acredito de mentirinha, por exemplo, em horóscopo. Eu leio o horóscopo, e fico satisfeito com o que leio (porque o horóscopo só fala coisas boas pra você). Mas não levo a sério. Porque acreditar a sério é quebrar a magia da brincadeira. Ninguém brinca sério.

Também gosto de acreditar em reencarnação, e fico imaginando o que eu deveria ter sido antanho. Eu me imagino como um cantor famoso. Sempre. Mas só pelo prazer que isso dá.

Por isso, quando uma pessoa me fala sério sobre essas coisas, eu acho ridículo. O legal de tudo é acreditar sem acreditar, sem levar a sério. Então você não tem obrigação de acreditar, assim como não tem obrigação de brincar. A gente em alguns momentos tem a obrigação de ser sério, de ver as coisas seriamente; mas ninguém é obrigado a brincar. A gente brinca porque gosta, quando gosta e se gosta. E, quando a gente não quer mais brincar, a gente para de acreditar.

Luiz Carlos Martins B Bueno Dantas de Oliveira
Enviado por Luiz Carlos Martins B Bueno Dantas de Oliveira em 25/03/2010
Código do texto: T2158267
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