A “MALANDRINHA”

Para a minha neta Marina - 22/07/2010

Certa vez conversando com Marina pelo telefone, chameia carinhosamente de “Malandrinha”, ela deu risada e gostou muito do apelido que lhe dera. Resolvi então contar a sua história que começou uns quatro anos antes do seu nascimento. A minha filha já era mãe de duas crianças e ela e o marido resolveram, de comum acordo, que não teriam mais filhos. Acontece que eu e nosso médico sempre falávamos que ela teria mais um filho, o que a deixava muito irritada. Não sei porque afirmávamos isto, talvez com o intuito de vê-la zangada. O tempo foi passando e minha filha, talvez impressionada com nossa afirmação, resolveu pedir ao meu genro que fizesse vasectomia, com o que ele concordou, pois assim ficariam livres de sobressaltos. Assim combinado, assim realizado. O procedimento foi feito pelo médico da família (naquela ocasião ainda se podia dar ao luxo de ter médico da família) e tudo correu normalmente, sendo apenas necessário o meu genro fazer os exames periódicos para que fosse constatado o exito cem por cento da cirurgia. O tempo foi passando dentro da normalidade prevista. Acontece que la na outra esfera, alguém muito malandramente insistia com seu mentor que queria fazer parte daquela família que ela sempre visitava em seus passeios invisíveis na terra e pela qual se apaixonara, principalmente pelas duas criança que pareciam anjinhos como ela. O mentor lhe explicava exaustivamente que ainda não estava na hora dela descer definitivamente para a terra. Mas a pirralha era insistente e não abria mão do seu propósito e azucrinara dia e noite o pobre mentor, até que um dia ele cedeu aos seus rogos e tratou de fazer que o meu genro esquecesse do último exame a ser feito após a vasectomia. Passaram-se os meses e alguns anos, até que um dia minha filha sentiu-se estranha, com alguns sintomas não comuns e a falta de menstruação, mas como o marido havia sido operado, já a mais dois anos, resolveu ir ao médico para saber o que estava acontecendo com sua saúde, até então muito boa. Depois de examiná-la deu-lhe a notícia que ela menos esperava naquele momento. Estava grávida do terceiro filho, assim como eu e ele sempre dissemos. Olhou para mim e para o médico e falou que nós éramos dois “bruxos”! Mas como pode ser, se meu marido foi esterilizado e o procedimento foi feito pelo senhor mesmo? O médico pediu-lhe que mandasse meu genro lá para saber se ele seguiu todas as recomendações pós operatórias. Final da polêmica: ele esquecera de fazer os últimos exames e as chances dela engravidar seriam pequenas, mas aconteceu, talvez por uma vontade maior do que a humana. Nove meses depois nascia, de uma cesária, a Marina, que não foi planejada aqui na terra, mas foi muito festejada a sua chegada e muito cercada de amor pela sua nova família. Quando a vi no berçário e no colo da mãe mamando, vi naqueles olhinhos brilhante e naquela boquinha de morango, a deliciosa “malandrinha” que ela iria ser. Continua conquistando as pessoas que a cercam o seu espaço na vida e seus ideais de progresso, tal como fizera com seu mentor, lá na outra morada.

Lucilia Cavalcanti
Enviado por Lucilia Cavalcanti em 16/08/2010
Código do texto: T2441123
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