A ILHA DE TCHAUZINHO

Desde os mais remotos tempos, a problemática da morte sempre constituiu motivo de dúvida, de pavor e de inquietação para o homem, em considerando o misterioso
cenário que ela oculta, após o decesso físico. -O que
nos espera? Ela pode mesmo tornar-se objeto de questões
e de problemas de uma comunidade, de um grupo, enfim, de
uma sociedade etc.

Foi o que se deu na "Ilha de Tchauzinho." À cada morte
ocorrida na Ilha, um grave problema se apresentava; -Onde
sepultar o transgressor involuntário do artigo 3° § 1º da
carta constitucional que proibia terminantemente óbitos no
perímetro ilhal? O dito artigo, ainda complementava assim;
Todo habitante, ao atingir a idade de 50 anos, fica obrigado a cumprir o programa de emigração, no mesmo dia
do natalício. Que crueldade! Mas, havia uma falha naquele
artigo. -E, as exceções? Para esses casos, nada previa
a legislação da Ilha.

Bem! naquela cinzenta e turva segunda-feira, uma mulher
fora vítima de violento infarto, morrendo aos 48 anos de
idade.

A Ilha, abrigava uma super-população -consideradas as
dimensões geométricas - de 200 pessoas, alojadas em 35
tendas-residências, rústicas e adequadas ao meio ambiente,
sem contar uma Escola, uma capelinha e uma loja fruto-mar (espécies-marinhas), sem sobrar, portanto, um metro sequer
para o luxo de um necrotério. Há que se considerar ainda, o
extremado zelo dos seus habitantes em defesa da flora e da
fauna. Na Ilha não havia animais e, a cidade mais próxima
distava cerca de 400 km e, por tudo isso, jogar o corpo no
mar, estava absolutamente fora de cogitação.

Diante daquela desafiadora questão, as autoridades se
reuniram e após as mais acaloradas discussões, decidiram-se
por implantar já a partir daquele corpo, o sistema de cremação. Daria certo isso? Não, pois a família da infartada,
repeliu enérgicamente contra tão absurda solução. E, outra
dificuldade fora levantada para a Comissão Administradora
da Ilha; - Quanto custaria o novo serviço e, a quem caberia
arcar com as custas do sinistro? Os cofres da Administração estavam, como sempre, zerados. Assim, sem chegar a um
consenso, a solução do problema fora adiada para o dia
seguinte, em nova etapa de discussões.

Ali, estava "ela", a morte, impetuosa, incômoda e perturbadora.

Naquela mesma noite, entretanto, na contra-mão da solução
lógica e inteligente buscada pelo homem, violentíssimo
furacão, varreu impiedosamente a Ilha de Tchauzinho, sem
deixar vestígios de que ela existira num tempo e, que até
habitada, fora.

Moral: Quando o homem é incapaz, a Natureza faz!


JRay - 19/09/2006, às 19h 55 min.


jray
Enviado por jray em 19/09/2006
Reeditado em 01/05/2009
Código do texto: T244346