A dama da noite
Debaixo de todo chorume do aterro sanitário sai a bela enlamaçada com o profundo olhar e um misterioso cheiro de sexo. Prostituta dos garis e amante dos catadores espera que a noite seja tão boa quanto a de ontem.
Bela negra de olhos cor de mel, pele macia e aveludada, lábios carnudos e a arte irresistível de seduzir; Acompanhavam ela em suas noitadas ao redor do aterro. Ela atacava quem se aproximasse dela levando qualquer forma de iluminação (velas, lanternas etc), chorava nas noites chuvosas e antes de se levantar cantava suas melodias.
Na noite de lua cheia e neblina, ela surgia de vermelho quando as cobras entravam em seus buracos e os ratos guinchavam ferozmente ao sair do local. A dama da noite cantarolava músicas de línguas e melodias desconhecidas porém muito apreciada pelos homens que ouviam seu cantar. Todos eles sabiam que não deveriam se aproximar dela enquanto ela não os chamasse; Hipnotizados eles faziam reverências a ela, a deusa das noites sombrias.
Separadamente um garoto de 12 anos, filho de um dos garis presentes acompanhava do outro lado do aterro todas as noites de coitos e orgias regadas ao sangue de um dos escolhidos da noite. Com muita coragem ele queria entender o que aconteceu com o seu irmão mais velho que havia morrido a pouco tempo, sua carne havia apodrecido começando das partes íntimas, espalhando-se rapidamente e olhos amarelados. Os médicos nunca viram algo daquele tipo e o tampouco aquele garoto.
Risos e gemidos atrás da caçamba de lixo e as navalhas cortam a carne, o rito está em andamento e jamais o menino esteve tão perto de tudo o que acontecia diante de seus olhos. Repentinamente uma coruja sobrevoa suas costas e dá um piado, todos os garis e a dama da noite passaram a saber que havia alguém espiando. Hipnoticamente
todos correm atrás do garoto e tapam sua boca. Uma voz diz:
- Vinícius! Acorde! Vamos pro meu quarto, sua irmã e esses rapazes estão fazendo muito barulho, fique tranquilo meu filho...