O conto do gato preto

Os raios do sol poente se despediam dos campos, iluminando-os de forma que os trigais pareciam feito de ouro.

Michelle os fitava, em silêncio, com admiração. Adorava aquela hora do dia, quando todo o trabalho da plantação estava feito e ela podia sentar-se na varanda, esperando Julian.

Julian era um gato preto, com pelos longos e macios, fofos como algodão. Tinha olhos azuis vívidos, como se fosse gente. Sempre aparecia no começo da noite e ficava com ela até o amanhecer, quando ela ia trabalhar com o pai.

Michelle dava-lhe comida e carinho, mimava-o com todas as regalias que pudesse. Até mesmo dormia com o animal junto ao peito. Gosta de ouvir o ronronado dele quando ia dormir.

O que ela não sabia era que Julian não era um gato qualquer. Nem um gato ele era!

Originalmente, ele era um homem. Mas uma feiticeira da aldeia, Paullete, o transformara num gato, uma vez que se apaixonara por ele e fora rejeitada, já que ele se encantara pela filha de um camponês plantador de trigo.

O que Paullete não podia prever era que seu encanto ajudasse o jovem a ficar perto da amada, uma vez que a moça adotara o gato em que ele se transformara.

Com raiva, ela fez um acordo cruel com o gato: fizesse ele um manto de lã com os novelos de ouro que ela lhe daria, ele estaria livre, seria humano outra vez.

Ora, seria impossível um gato tecer um manto de lã! Com suas garras, ele sempre estaria estragando o trabalho. Além disso, novelos de lã são um brinquedo irresistível para um bichano!

Desacorçoado com o destino, o felino voltou à casa da camponesa. Assim que ela viu a lã, ela empolgou-se e resolveu que faria um manto para o animal dormir no inverno.

Pronto a peça, o gato tratou de carregá-lo à Paullete, que morrendo de raiva e presa à promessa que fizera, teve que livrar o gato gatuno do feitiço.

Assim, muito satisfeito, ele se foi ao encontro de sua dona.

Naquele dia de campos de ouro, Julian, o gato, não apareceu. Michelle já se ia triste para sua casa, pensando ter perdido para sempre, quando um moço surgiu. Tinha cabelos escuros e olhos azuis como os do gato. Roubara os olhos do bichano!

Foi esclarecida a história pelas falações do moço, que contou tudo sobre a feiticeira e seu encanto. Findo o relato, Michelle sorriu e disse que assim como amara o gato que ele fora, o amava.

Assim, ficaram os dois jutos, na fazenda de trigo, enquanto a Paullete sobrou um manto cheio de pelos de gato e um ataque fulminante de rinite alérgica.