Doc Bloc

Um dia no meio da noite acordei com uma forte dor de cabeça. Aquilo não passava de jeito nenhum, pelo contrário, ia aumentado cada vez mais.

Eu não conseguia mais suportar. Meus gritos de dor eram estridentes. Andava de um lado para o outro do quarto a toda hora e começava a morder meu próprio braço para não acordar a vizinhança. Os meus gritos eram assustadores e não queria preocupá-los.

Chegou um momento que a dor ficou tão intensa, tão forte, e pensei que todo meu corpo ia explodir.

Só minha cabeça explodiu. Na verdade algo foi expelido de dentro dela. Não era algo. Era um ser. Parecia-se com um animal, mas não era um animal. Poderia até ser um homem, mas não era um homem. Certo! Era um homem mesmo. Não um desses homens comuns, igual a eu e a você. Era um homenzinho peludo com orelhas de cachorro e nariz de gato que usava um cinto e carregava um pequeno martelo.

Logo percebi que os gritos estridentes que eu dava, na verdade, eram dele. Aquele ser começou a gritar de um jeito tão escandaloso que tive de tapar a boca dele.

-Pare com isso! Você quer que o bairro inteiro acorde com essa sua gritaria?

-Você não manda em mim e eu adoro gritar!

-Ah é! Tudo bem. Foi você quem pediu por isso.

Dei um grito tão forte nas orelhas dele que o fez perder o equilíbrio e cair atordoado.

Mas isso foi pior. Para me provocar ele pegou seu martelinho e começou a dar fortes marteladas no chão. Parecia que estava tocando um tambor. O barulho era mais insuportável agora.

Não tive outra alternativa. Fui para cima dele e segurei uma das suas mãos. Como ele tinha muita força fomos os dois para o chão. Meu ombro esbarrou na mesa e a garrafa de café caiu.

Ao sentir o cheiro do café ele ficou paralisado. Não pensei duas vezes. Peguei a garrafa e a segurei fortemente.

-Você quer um pouco disso?

-Quero! Quero! Quero!

-Que bom! Então, cale-se, por favor.

Ele se calou imediatamente e passou a olhar com intenso desejo para a garrafa.

-Vou te dar um pouco. Você quer?

-Quero!

-Então se comporte! Pare de destruir minha casa.

-Sim! Sim! Sim!

Peguei um copo e dei-lhe um pouco de café. Parecia que ele estava tomando algo mágico, saboreava a bebida com um desejo intenso. Aquele ser inteiro tinha entrado em comunhão com o sabor. O café e ele eram uma coisa só.

-Quero mais!

-Vamos com calma!

-Não! Eu quero mais, muito mais.

-Tudo bem! Eu te darei mais café. Só que você vai ter que cooperar.

-Quero café! Faço o que você quiser.

-Ótimo! Assim mesmo. Quero saber seu nome. É chato conversar com alguém sem sabem como ele se chama.

-Sou o Doc Bloc!

-Certo Doc Bloc! Tome mais um pouco.

Ele bebeu tudo com uma voracidade e com um desejo tão intenso que até eu tive vontade de pegar uma xícara e tomar um pouco.

-Você quer mais um pouco de café Doc Bloc?

-Quero?

-Você faz o que eu mandar? Se fizer te darei mais um pouco.

-Sim! Faço! Faço!

-Quero que você arrume minha casa e concerte o chão.

-Farei com muito prazer.

Fiquei surpreso. Ele era muito ágil e extremamente veloz. Em poucos segundo a casa estava toda em ordem e os pisos estavam trocados. Dei-lhe mais um pouco de café que foi sorvido rapidamente como antes.

Percebi que ele poderia ser vantajoso para mim. A partir daquele instante passei a dar-lhe café muitas vezes ao dia, exceto quando eu saia para trabalhar. Nessa hora eu o encarregava de fazer os serviços mais pesados, e quando chegava estava tudo perfeito. Eu fazia o café e o alimentava.

Tornamo-nos grandes amigos. Ele passou a morar comigo e até hoje não precisei nem sequer lavar uma louça. Fiz-lhe reformar toda a minha casa. Agora ela está linda e muito confortável. E tudo isso graças ao café.

Daniel Tomaz Wachowicz
Enviado por Daniel Tomaz Wachowicz em 14/01/2011
Código do texto: T2727919
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