Defensores do Paraíso : Fox

Na grande cidade de Nastar,entre as ruas enlameadas onde pessoas correm de um lado a outro atrás de suas vidas, onde frutas e legumes pútridos se espalham ao chão sendo pisados enquanto a maior feira livre da região está em atividade.

Pode-se ver, por baixo das barracas, olhando por entre as pernas das pessoas, algumas crianças a catarem rapidamente seu sustendo do chão antes que sejam esmagados ou outra criança os pegue. Cada uma delas possui sua própria história de abandono e lutas, algumas são pobres vítimas da guerra, vivem nas ruas, dormem onde encontram lugar, e às vezes roubam quando a feira não funciona ou os guardas, temidos por deceparem mãos que furtam, não estão olhando. Entre elas uma é especial, não tem nome, todos a chamam de felpuda por causa da cauda de raposa que ostenta por ser de uma raça antiga e quase extinta.

Felpuda vivia com seus pais e irmão numa aldeia chamada Greenlend, onde as flores estavam sempre abertas a perfumar os campos, e as árvores eram famosas por darem frutos o ano todo. Ali aldeões, carpinteiros, ferreiros e fazendeiros viviam há gerações quando ela nasceu. Era um lindo bebe com olhos púrpuras feito a mãe e cauda branca como a família do pai. Cresceu saudável e se mostrava muito veloz já aos cinco anos quando os meninos apostavam corridas em campeonatos famosos, ao menos na aldeia.

Toda a beleza de Greenlend se acabou quando a aldeia foi atacada, campos e plantações foram queimadas, os homens foram mortos e as mulheres levadas escravas. A mãe de Felpuda, cuja o nome hoje não se recorda, lutou com todas as forças para proteger seus filhos, em vão, pois foram todos mortos, foi estuprada e assassinada a na frente de sua filha caçula. Felpuda foi levada escrava para trabalhar numa casa de família, mas dali fugiu após ter sido violentada no ano seguinte. Foi o dia que ela mais correu em toda sua vida, correu por dois dias seguidos até chegar a um rio, e ali desmaiar e permanecer inconsciente por horas. Acordou cansada e com muitas dores, chorou muito, sentia-se violada e humilhada, tinha muita saudade da família e o medo era quase insuportável. Não se lembra como nem quando mais foi encontrado por um garoto de quatorze anos, porém esperto como poucos que viveram seus pobres anos lutando para sobreviver na cidade de Nastar. Acolheu-a em sua turma de três meninos e duas meninas, todos mais novos, e deu-lhe o nome de Felpuda. A ensinou a resistir e lutar por seu lugar na grande e cruel cidade.

Tem agora apenas sete anos de idade, mas promete grandes coisas para seu futuro.

A raposa e Germano Lopes

Ilhéus, 14 de Janeiro de 2011. Bahia.