Rosa Negra - Sons do Infinito
Estou morta.
Adormecendo no vazio...
Apagada em minha sepultura.
O vento bate, como que querendo entrar.
E começa o barulho do chacoalhar dos imensos ciprestes.
Minh'alma sai para fora e percebo a lua vigiando-me, velando meu sono eterno.
Vejo-o aqui.
Por que???
Por que choras, pobre ser?!
Seu choro é tão profundo...
Seu triste e melancólico olhar aprecia a lua, agora.
Seus longos trajes negros e face pálida encantam-me como jamais encantei-me algum dia.
Como queria poder confortá-lo em meus braços...
Seus soluços doentios misturam-se com o silêncio.
Derramando pesadas lágrimas larga sobre meu túmulo um botão de rosa negra.
Ele deita-se no chão para apreciar melhor a mãe dos céus, cheia e impotente em seu imenso trono azul.
És tão perfeito...
Seus olhos verdes contornados do negror de su'alma fazem-me imaginar afogando-me em um mar de inquietantes desejos.
Desço ao chão.
Percebo que nota-me, e fica assustado.
Seus longos dedos enxugam o rosto molhado, e borra a maquiagem.
Ele suspira, e uma onda de tristezas e solidão invade-nos.
Um vento forte e gélido chacoalha mais os enormes ciprestes, como se a natureza pudesse sentir o que nossas almas sentiam.
Ele joga seus negros cabelos para tras, olha-me e tão calmamente me aproximo.
Ele procura um lugar negro, obscuro para se esconder de si mesmo...
"segure-se em meus braços e dancemos sob a luz do luar, em seu brilho eternecido!"
Tocamo-nos e sem perceber começamos à flutuar...
Algo que não sentia à tempos embala-nos por completo.
Como gostaria que isso fosse eterno...
Ouço o vento sussurrar aos adormecidos...
"sua beleza encantadora encontrou seu lado negro, e finalmente ambos se completam."
Ele toca meu rosto congelado pelo tempo.
Aproximo-me de seu rosto e sinto sua respiração acelerar mais e mais.
Toco seu rosto macio como o veludo e sinto ser aprecida pelo seu olhar encantador.
Uma tristeza repentina enche-me por dentro.
"o medo de não vê-lo nunca mais... me traz agonia!!!"
Olhamos para baixo e vemos um corpo tombado ao chão.
É ele.
Sua roupa negra está agora ensangüentada.
Ele se libertou...
E continuamos à bailar aos sons do infinito, todas as noites sob a luz do luar, por trás dos portais do cemitério...
15/10/2005 (sábado