A FOLHA DE AZEVINHO

A FOLHA DE AZEVINHO

A Claridade solar ,há algumas semanas,vinha pouco a pouco diminuindo,e,com isso,uma brisa fria envolvia a natureza...

No bosque ,as famílias pereira,videira,pajurá,mangabeira e outras,já cuidavam para um novo ciclo de transformações.

O azevinho, que fora cultuado no natal com suas folhas colocadas nas portas como decoração, iria vivenciar um momento inusitado.

No início da primavera,pequeninos pontos esverdeados começaram a brotar,rapidamente,e,eis,que surgiram as alegres irmãzinhas,as folhas de azevinho com seus desenhos sinuosos,excêntricos!

_”olá, amiguinhas,estou muito feliz com meu nascimento e vejo que vocês também...”.

A folhinha de azevinho cumprimentou todas as companheiras de galhos,bem como as vizinhas dos pessegueiros,quaresmeiras,enfim saudou a natureza pela oportunidade,simplesmente,de...viver!

Os passarinhos,insetos,saltitavam entre elas e o que era mais divertido,sem dúvida,era quando os tico ticos usavam as folhas como guardanapos,pois tal fato,provocava “cosquinhas”nas folhinhas que se dobravam de tanto gargalhar...

E o final da tarde!Cabia ao sabiá entoar aquele canto triste,mas,ao mesmo tempo de acalanto para a noite que se aproximava.

As folhas da maranta,planta rezadeira,se uniam,a semelhança de duas mãos em prece,em reverência a melodia pastoral vespertina.

E,assim,os dias iam se alternando numa monotonia,mas,que ao se iniciar um novo dia,a folha de azevinho esperava por uma novidade.

Dias,após,observou que o azulão trazia pequenos fiapos e tecia uma espécie de novelo,bem próximo a ela.Logo,um ninho fora construído e,não demorou para que se ouvisse uns fracos pios ,onde o casal de azulões se desdobravam com o filhinho.

A folha começou a perceber que a cor de suas irmãs estava mudando do verde alegre,para um vermelho-amarelado e,falou:”Minhas irmãs,noto que vocês estão empalidecendo,o que ocorre?”

A resposta não veio do azevinho,mas,do pajurá da mata :”Amiga,você está morrendo e ,em breve,se desgarrará de sua mãe”!

Aquelas palavras caíram como uma bomba e a folhinha de azevinho estremeceu pela primeira vez,sentindo que não estava,realmente,tão firmemente,ligada ao azevinho.

Passaram-se oito dias,e o vento de outono chegou,envergando galhos frondosos.Um besouro se debatia,agarrando-se como podia nas folhinhas débeis do azevinho.

Sùbitamente,a folha viu uma de suas irmãs caindo,num movimento pendular,titubeante,mas,elegante e,ao se aproximar,simplesmente,disse:”E preciso que aconteça !”

Logo,outras,outras e mais outras.Com a força do vento da nova estação,centenas de folhas,flores,galhinhos eram arremessados longe.

Em frente a folha de azevinho prestes a cumprir seu destino,uma borboleta esvoaçante,que mais parecia um par de pétalas de flor,na dança

do acasalamento ,pousou sobre ela,delicadamente,acariciou-a e depositou um minúsculo pontinho amarelo.

O momento crucial havia chegado,ao som de trovoada e silvo dos ventos ,emprestando a região a sensação de final dos tempos...

A folha ,enfim,foi lançada bem longe de sua mãe arvore que pranteava a separação.Os movimentos eram os mesmos,uma espécie de valsa aérea,leve,incerta,mas com a liberdade absoluta para um destino incerto e desconhecido.

A folha de azevinho foi ter com as águas claras de um riachinho que acariciava as pedrinhas arredondadas pelo eterno afago.Ao tocar na superfície ,notou que sua forma assumira um aspecto de gôndola e,logo,serviria como folha de salvação para aquele besourinho persistente.

Horas,a fio,seguia o curso do rio,até que encalhando entre as pedras,percebera que ,ali,seria seu derradeiro local,aliás,belíssimo,pois,era ornado de felícias azuis,margaridas silvestres.

AH!Mãe natura de insondáveis ,profundos mistérios,por que me encanta ,levando-me as lágrimas de agradecimento por “TUDO ISSO “ ,nas pequenas coisas.

Meus ignotos amigos de leitura,a minha comoção foi indescritível,quando percebi que a lembrança ,aquele pontinho amarelo que a borboleta depositara no dorso da folha de azevinho,em verdade,fora um ovinho e que,rapidamente,desenvolvera o ciclo,gerando,maravilhosamente, a borboleta azul do riacho !!