Elizabeth Taylor em Genipabu?

Izabelle Valladares

Elisabeth Taylor em Genipabu ?

Severino era um homem muito esperto e sortudo, que vivia em uma cidade chamada Natal, capital do Rio Grande do Norte.

No ano de 1990, Severino concorreu com alguns amigos da empresa em que trabalhava e ganhou com eles um bolão da loteria federal,percebendo que a sorte estava do seu lado, Severino não pensou duas vezes, aproveitaria a quantia de dinheiro recebida e faria a viagem que sonhava realizar desde os primórdios da infância pobre no interior nordestino. Severino ainda lembrava com clareza o dia em que foi convidado para assistir uma matinê gratuita no cinema local e empolgado em meio a pipocas sorrisos e falação. Severino contava com 7 anos de idade, ainda franzino não podia acreditar no que seus olhos viam, ali na sua frente, quase ao alcance das mãos, a mulher mais linda que Severino já tinha colocado os olhos. Os cabelos negros, o corpo perfeito e os olhos de um azul que beiravam violeta, o fascinaram.

Severino estava extasiado e quando viu aquele mundão de areia fina no filme e as dunas, as lágrimas chegaram a inundar os olhos e derramar por sua face queimada do sol ardente do sertão. Severino sofreu em imaginar que aquela belezura morava nas dunas de Genipabu, mas como nem tudo são flores ,a infância passou e apesar daquelas imagens não saírem do pensamento do menino, Severino descobriu que o longa metragem Cleópatra havia sido rodado bem longe do Brasil, que as dunas não eram de Geribapu e sim do deserto de Sahara e que Cleópatra, ou melhor, Elizabeth Taylor, não vivia na Baia formosa, nem em Pitangui e nem em qualquer outro lugar perto de Geripabu e que a mesma já tinha idade para ser sua avó, mas nem isso fez morrer no coração de Severino, a vontade de conhecer aquele lugar cheio de mistérios e encantos e quando ganhou aquela bolada de dinheiro, não pensou duas vezes:

‘’ Egito, aqui vou eu ‘’.

E assim começou a saga de mais um brasileiro cheio de sonhos e desejos não realizados, mas, Severino precisava pensar em algo convincente para convencer a família que empregaria o valor ganho na loteria em uma viagem dos seus sonhos de criança, foi então, que Severino passou uma noite inteira matutando o que poderia dizer para que não houvessem criticas, afinal, a fama do pobre é receber e torrar tudo, e com Severino não seria diferente, foi então que na calada da noite, em meio a pensamentos teve uma grande idéia.

Severino acordou cedo, foi até uma livraria que vendia material antigo e comprou um mapa do Egito com o vale dos faraós e o deserto do Sahara, pediu ao balconista que lhe desse o mais surrado, levou o mapa para casa, anotou coisas daqui e dali e marcou uma reunião com os amigos do trabalho. Chegando lá, Severino convenceu aos amigos que ganharam com ele o premio que o mapa era um mapa com o tesouro que um tio dele havia escondido em uma construção abandonada e que se ele fosse buscar esse tesouro e o encontrasse, dividiria o valor com os amigos, mas para isso acontecer, Severino deveria viajar com pelo menos a metade do premio ganho na loteria. Na hora, os amigos riram, mas Severino era tão convincente que a metade acabou concordando e uma semana depois, lá ia Severino desembarcando em terras africanas.

Durante 15 dias, Severino nem lembrava dos amigos, queria conhecer tudo, freqüentava todos os pontos turísticos, conhecia novos sabores e respirava a poeira do deserto. Mas, o tempo passava e com o final das férias, Severino começou a se preocupar com a desculpa que daria aos amigos quando chegasse com as mãos vazias. Então, Severino começou a pensar nas justificativas e contratou um fotógrafo para produzir provas de que Severino havia procurado um tesouro no Egito, tirando fotos com pás e enxadas, mexendo em escavações como se tivesse à procura de um tesouro de verdade . E foi em uma dessas armações que Severino viu seu futuro mudar de vez!

Ali no deserto, ao olhar o horizonte em baixo daquele sol tórrido, Severino viu algo que parecia uma miragem, seus olhos pareciam lhe trair, a felicidade de visualizar seu futuro brilhante a sua frente, gerou em Severino, uma emoção muito grande que o mesmo não resistiu de alegria e desmaiou.

Os dias se passaram, as férias acabaram e lá vinha Severino de volta ao Brasil, só que desta vez, de navio.

A noticia da volta de Severino para Natal, de navio, criou um reboliço enorme na cidade, logo Severino ficou famoso. Imaginavam que ele trazia um navio cheio de ouro, jóias faraônicas e quem sabe, até uma múmia.

Quando Severino desembarcou no navio, seus companheiros de empreendedorismo nem acreditaram que era ele, Severino usava um turbante na cabeça e parecia um rajar. Os amigos ficaram felizes, certos de que haviam containeres com ouro no navio, mas a grande surpresa, era que a carga não era feita de jóias preciosas e sim de animais nunca vistos naquelas bandas. Severino trouxe do Egito uma Cáfila, de dromedários, que são parentes bem próximos dos camelos, os amigos olharam aquilo estupefatos, alguns queriam matar Severino. O que ele pensava em fazer? Abrir um circo? Um Zôo? Então Severino, explicou, que faria de natal, o Egito brasileiro, tornando as já famosas dunas de Genipabu em um grande atrativo do turismo nacional. O reboliço foi enorme, as tvs e revistas registravam tudo, os dromedários custaram para se adaptar, tropeçavam nas dunas de areia mais fina, os amigos brigavam e Severino já famoso, na cidade não estava nem ai, afinal, seu sonho já estava realizado e quem não quisesse ser sócio na empresa, que pegasse seu camelo de direito e criasse no quintal, é claro que ninguém ousou em fazer isso.

Assim entre um empreendimento e outro, entre uma armação e outra, Severino foi vivendo da fama de mega empresário do turismo . Os dromedários e os passeios nas dunas já não são mais dele, ou dos seus amigos, Severino certamente deve estar fazendo outro negócio da China, ou melhor, do Egito em alguma banda do Rio Grande do Norte, ou quem sabe, vendendo gelo para esquimós.

Izabelle Valladares Mattos
Enviado por Izabelle Valladares Mattos em 23/03/2011
Código do texto: T2866353
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