Zé, o duende.

Zé é um duende que mora na vereda do sossego. Ele é um duende

especial. Muito sabido, em sua roupinha verde musgo, é ele quem prepara o borlé para ser fumado nos cachimbos nas noites de lua cheia.

Sabes? A receita é bem simples: ele arranca a raiz do carapià, bota pra secar, torra e raspa e, depois, guarda numa bocetinha de couro de rã-pimenta. Prepara o chá de flor-cigana, que também é tomado nas festas da lua cheia. É só colhê-las na época certa, secá-las à sombra e guardá-las num pote de argila. Quando for preparar o chá é só colocá-las na água fervente.

Zé toca a flauta de bambu, chamada queena, ele gosta de compor canções alegres que divertem a todos.Zé sempre é convidado para tocar uma de suas músicas em ocasiões especiais.

ááááálálálááláátchurururutchuruuuututuruuuáááá...

Quando é de tardinha, Zé gosta de correr pelas vargens da vereda do sossego montado na inhuma, sua amiga, ele gosta de ver os animais que vêm beber no bebedouro: as pacas, cutias, os catetos - que só andam em bandos- os ariscos veados e outros animais do cerrado que não se importam com a sua presença.

Ele ouve o triste piar da juriti nos tabocais...FUUUuuuu...

Na vereda também aparecem aves aquáticas que vêm de longe, cansadas. Elas lhe contam várias histórias de lugares e bichos que vivem distantes e que também fazem parte da grande jornada da vida e que são nossos irmãos. Quando é boquinha da noite, Zé se despede de sua amiga e volta para casa - uma concha esverdeada que ganhou de um velho caramujo, que resolveu mudar de casa - Ele prepara um pouco de chá de cogumelos e se senta na porta de sua casa, gosta de ouvir os sons da noite na vereda: O som da jia - que é grande, esverdeada com o peito de um vermelho psicodélico... Puuuuu Puuuuu... O coaxar dos sapos... Cróc Cróc... O cricar dos grilos, O socó-boi nos pindaibais, passarinhos da noite - os curiangos... AMANHÃEUVOUAMANHÃEUVOU... os urutaus... FOOOOIFOOIFOOOOI... As raposas se acasalando nos carrascais... Ele olha para o céu! E o que ele vê? Ele vê Luzes... Torvelinhos... Turbilhões... estrelas pisca piscando na imensidão, outras riscam o céu... miríades, milhares... luzes flamejantes na escuridão do universo em expansão... Atraindo seus pensamentos, tragando-o para o éter transformando-o ... ôôôuuuuááá....

Zé é despertado por passos que se aproximam, é Bergonzil, seu meio-irmão. Ele vem gritando:

__Zééé, deixa um pouco desse chaziim pra miiimmm...

Zé se alegra. É muito bom tomar chazinho com seu meio-irmão...

Geraldo Rodrix.