Do alto da árvore

De cima da minha casa eu via tudo.

Via os carros passando, as pessoas apressadas indo e voltando, os meninos nos faróis pedindo coisas, os cachorros de rua, os catadores de papelão, a briga do marido e da mulher, a vizinha carregando as compras, a criança e o velho andando de mãos dadas, eu via o mundo.

E do alto da minha inquietude me perguntava por que a vida era assim, tão insólita às vezes, e porque às vezes ela não nos dá uma segunda chance.

Por que precisamos passar por tantas coisas, tantas experiências, para podermos enxergar o que é realmente importante...

Por que não podemos enxergar tudo isso enquanto somos jovens, belos, e com muito mais energia?

Por que precisamos queimar todas as velas para depois descobrir que o defunto nem era aquele?

Ora... que coisa mais descabida...

Deveria ser diferente. Poderíamos comer todos os milkshakes do planeta sem engordar, por exemplo, todas as bananas-split com coberturas enorrrrrrrrrrmes, todas as lasanhas, pizzas, chocolates, massas infinitas, açúcar e coisas não muito saudáveis como "gorduras trans", e tudo isso seria diluído e balanceado dentro de nós mesmos, para só ficarmos como que fosse positivo para nós.

Tudo o que fosse ruim, seria expulso automaticamente. Já pensou como seria bom? Nada de energias ruins, fatos ou acontecimentos que deixassem marcas dentro de nós, nada de traumas, medos, perdas, ilusões e desiluões... Nada de notícias ruins no jornal nacional, nem nas revistas, e jornais, invadindo nossas casas, nossos ouvidos na rua, na loja, no supermercado, no ônibus. Só sentimentos positivos.

Que maravilha...

Não quero mais descer da árvore. Talvez a árvore seja o começo, ou o fim, ou o porto seguro que tanto almejei, quero ficar aqui. Quero olhar alguma coisa que me dê vontade de continuar, quero fechar os olhos para as coisas ruins, e abrir os olhos para as coisas boas. É isso.

Viver num mundo irreal, surreal, mas com mais chances de felicidade, nem que seja num sonho, num devaneio, em cima de uma árvore... nem que seja loucura.

cibele aguiar
Enviado por cibele aguiar em 28/11/2006
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