O Legado de Beto - Desejo

Eu não estava lá, mas vou contar somento o que eu vi:

Era 11 de setembro; o sol cortava fendas nas pesadas nuvens lá no céu enquanto Beto trilhava calmamente seu caminho. Andava pela avenida mais movimentada de Nova York, mas nenhum carro passava perto dele - mesmo ele sendo invisível à meros mortais. Apenas um pensamento corria em sua mente: receber sua recompensa divina. Beto havia realizado alguns feitos que lhe haviam garantido um favor dos deuses, e seu desejo foi simplesmente um inimigo à altura, que realmente ameaçasse sua supremacia. E esse pedido foi-lhe concedido. Não sabia quem ou o que estava esperando-o, mas Beto sabia que deveria seguir em frente. Parou alguns metros adiante e ergueu os olhos para encarar seu inimigo tão desejado. Beto não desejara esse inimigo para morrer, mas para mostrar que ainda está vivo.

Os pensamentos e a voz tranqüila em sua mente cessaram. Era aquilo que tanto queria. Não sentia medo ou nervosismo, somente uma atração - algo intocável que o impelia para frente, em fração de centímetros. O duelo de titãs havia se iniciado, e sem dizer uma única palavra, o enviado dos deuses atacou com sua espada.

A velocidade do golpe deslocou o ar e sua força fez a terra tremer, mas sob a poeira que se erguera estava Beto, aparando o ataque com sua lendária Masamune. O olhar fixo de ambos era frio e implacável, mas foi logo quebrado com um impulso do Enviado contra Beto, empurrando-o para trás, executando na seqüencia um movimento de extrema perícia militar - saltou sobre o Guerreiro Lendário enquanto este ainda se recompunha do empurrão e com um salto mortal desferiu um golpe que trouxe consigo fúria semelhante a que havia em seus olhos. Beto desviou o ataque com um movimento de incrível agilidade, mas o impacto no solo causou uma explosão de chamas, e ondas de calor provenientes da espada atingiram o Guerreiro Implacável.

- Não podemos lutar aqui - bradou Beto. - Muitas vidas podem ser tiradas em vão.

O Guerreiro dos Deuses não respondeu com palavras, mas desferindo outro golpe contra Beto, que desviou-se e correu em direção aos mais altos prédios da cidade, tendo seu inimigo em sua perseguição.

As janelas do World Trade Center se quebravam com a pressão de seus passos, lançando os estilhaços de vidro para fora. corriam lateralmente pelo prédio até que Beto saltou, atingindo a cobertura do mais alto prédio da área. O vácuo do salto fez o prédio de onde ele veio desabar, e agora, Beto não conseguia mais ver seu oponente, apenas sentir a lâmina de sua espada trespassando seu peito. Tudo estava perdido para Beto... ou não. O que estava sendo cortado não era Beto, e sim uma ilusão de ótica causada por sua incrível agilidade. Beto estava sobre a caixa d'água, e utilizando apenas a força do pensamento afundou o Enviado prédio abaixo, deslocando-o por dezenas de andares. Beto não gostava de brincar em seus combates e pulou da cobertura para desferir um golpe mortal contra o oponente que se encontrava imóvel no chão, mas quando pensava que havia cortado-o ao meio percebeu que na verdade era ele quem estava sendo trespassado pelas costas. Ainda via o inimigo caindo morto em sua frente mas sentia sua espada o perfurando enquanto a imagem virtual sumia com o vento e a poeira que caiam sobre seu corpo. Sentia o calor da espada que guardava os portões do Éden nas suas costas e sua consciência o abandonando. trevas fora e trevas dentro, tombou. Sentia o calor em seu corpo e o frio do chão em seu rosto, mas sabia que não podia perder. Retomou a consciencia no tempo exato para conseguir se esquivar do golpe de misericórdia, rolando para o lado, e com um movimento de extrema agilidade ergueu-se.

- Você aparenta ser digno de morrer para mim - dizia Beto, mas essas palavras trouxeram enorme fúria a seu oponente, que o atacou impulsivamente.

Beto retirou sua Masamune da bainha e agilmente esquivou-se desse ataque fulminante, tendo em sua frente o peito de seu rival, indefeso. Golpeou. Caso não tivesse retomado o juízo um instante antes, o Enviado dos Deuses teria tombado com aquela espadada.

Estavam agora de frente um para o outro, feridos e ofegantes, encarando-se.

- Me diga seu nome para eu recordar após sua morte - bradou Beto.

- Não preciso dizer meu nome a quem vai morrer - disse em resposta o Servo Divino correndo em direção do que deveria ser o ataque final.

Beto fez o mesmo, e o impacto das lâminas fez a segunda torre do World Trade Center tombar, com um enorme cogumelo de fogo. No centro deste caos estavam os dois de pé, afrontando-se com as espadas cruzadas. O Enviado chutou a barriga de Beto e aproveitou a reação dolorida dele para chutar-lhe a face, levando-o novamente ao chão. Saltou sobre Beto como um leão sobre um cervo indefeso e teria cravado-lhe a espada no coração, caso Beto não rolasse para o lado, erguendo-se em seguida. Agora, era a vez de Beto atacar. Desferiu milhares de ataques através do deslocamento do ar contra o Servo Divino, em fração de milésimos, mas estes foram facilmente aparados pelo mesmo. O Rival de Beto correu por entre o vento cortante que saia da Masamune, desviando-se de todos os ataques, e frente a frente com o Lendário Guerreiro, desferiu outro poderoso golpe, indefensável, a não ser por... Beto, que aparou o golpe com imensa maestria, mas o movimento foi tão desafiador que lançou ambas as espadas a uma distância incomensurável. O combate estava apenas começando. O Enviado começou a falar palavras impronunciáveis, enquanto Beto investia contra ele com a velocidade do relâmpago. Era tarde demais - a magia conjurada pelo Servo dos Deuses já havia se concretizado, e um círculo de fogo surgiu ao redor e Beto, enquanto um terremoto abalava a área, impossibilitando qualquer pessoa de escapar das chamas ardentes. Mas do centro do vórtice surgia... Beto, implacável, o qual golpeava o rosto do inimigo com um soco perfeito, deslocando-o para trás alguns metros, apenas o suficiente para dar tempo ao Guerreiro Supremo de pegar sua Masamune que estava no chão, e a espada de Deus. E o fez, mas não valia a pena acabar com seu sonho tão cedo - pensava, enquanto lançava a espada que guardava os portões do Paraíso de volta a seu dono.

- É hora de acabar com essa brincadeira - bradou Beto.

- Foi uma honra para mim lutar contra você - disse em resposta o Enviado, empunhado sua espada mais uma vez, seus olhos fixos no Guerreiro Lendário.

Beto apenas observava, esperando o momento exato para o ataque. E o fez. O Servo dos Deuses usou um ataque de calor que cortou o vento, atingindo Beto à distância, seguindo numa investida violenta contra Beto, mas o Guereiro Implacável também atacou com um ataque do vácuo, com a intensão de tirar a vantagem de terreno do Enviado, forçando-o a desviar-se. Mas foi em vão.

O sangue corria pelo braço de Beto, que já tinha sido ferido anteriormente, e agora, e agora ele tombava sem forças. Sentia o frio da terra em seus olhos e boca, que o arranhavam, e a escuridão da morte entrando pelas portas de seu coração.

- Você está além das capacidades de qualquer um... - dizia o Enviado, tombando, com a Masamune em seu peito.

Alguns segundos se passaram e o mundo ficou em silêncio, até que Beto pegou sua espada, apoiando-se nela para erguer-se novamente, e caminhar rumo à novos desafios...

P.S.: Beto adquiriu a espada que guardava os portões do Éden.