Magia Pesada V - Scarred Forever

O mundo não é feito de amor, de paz ou de felicidade. É uma mistura complexa de conceitos em que o amor, a paz e a felicidade são conceitos relativos, geralmente dependentes da sorte de um e do azar de outros. Um certo grupo de pessoas pensava ardorosamente que seu amor, paz e felicidade poderia existir exclusivamente se não houvesse mais ninguém que pensasse diferente deles em sua paz nessa tríade perfeita de conceitos. Eles garantiam que quem quer que pensasse diferente iria para um lugar muito ruim, onde queimaria graças a desobediência a alguém que os amava, mas que preferia vê-los sofrer a ser contrariado.

Foi uma dessas pessoas que entrou no galpão em que Ed estava descalço, sem camisa, com um pé machucado e com um papagaio preto como familiar. Descabelado, o jovem mago tentou procurar um lugar para se esconder. Enfrentar um daqueles inimigos, e eles sempre eram inimigos, não era nada fácil. Na situação em que estava seria pior.

- Você está aí, Ímpio! – gritou um homem de voz potente.

Ed o viu se aproximando das sombras. Por sinal, as sombras não conseguiam se agarrar a ele. Nunca ocultavam completamente sua imagem. Deixavam transparecer aquele terno escuro e a gravata marrom. Os cabelos eram aparados tão metodicamente que só poderiam mostrar que aquele estranho era uma daquelas pessoas metodicamente chatas e metodicamente previsíveis.

O mago soube que não dava para fugir. Abaixou-se e pegou sua bolsa. Nem tentaria disfarçar que não era um mago. Com aquele círculo de invocação no chão e um olhar treinado o observando, seria loucura tentar.

O homem sacou uma maça de dentro do paletó e um livro. Aliás, era o Livro. Ed sentiu raiva, pois já via que o sujeito queria briga. Preparou uma magia para confundi-lo e sair dali. Trevas. Foi a única que veio à mente para sair dali sem ser percebido. Pegou um pano preto, embebeu rapidamente em piche e jogou na direção do inimigo.

O pequeno pedaço de pano cresceu para se transformar em uma trama de escuridão. Envolveu o homem como uma teia. Ed deu as costas para fugir enquanto a mosca ficasse presa naquele emaranhado negro. Mas aquela não era uma mosca. Podia ser uma daquelas pessoas que falam do quanto são pequenas no mundo, mas na verdade era uma presa maior, um caçador. Estava longe de ser um mero inseto. Nunca se sentiu assim e estava mais para um predador das diferenças do mundo.

- O Homem está comigo! – gritou o estranho de terno, rompendo as trevas com o livro nas mãos. Havia uma aura de luz em volta dele e Ed virou-se de volta para encará-lo. – O Homem está junto de mim!

- É? Então manda ele comer sua bunda e me deixa em paz!

O mago procurou por novos componentes materiais na bolsa.

O homem do Livro correu velozmente mesmo usando sapatos e terno. Ed o viu se aproximando e tentou dar alguns passos para trás para ter tempo de preparar a magia. O pé machucado falhou e o fez perder tempo para recuperar o equilíbrio. O inimigo chegou perto o suficiente para erguer a maça e acertar-lhe o ombro. O jovem caiu machucado com o braço esquerdo imóvel. Quase não o sentia.

- Blasfemador. Virá comigo para ser purificado por fogo santo.

Ed gemeu de dor. O homem colocou o pé sobre seu peito.

- Venham para prendê-lo. – chamou.

O mago ouviu passos e soube que eram os zumbis se aproximando. Tinha que fugir dali depressa. Era hora de usar seu novo familiar. Chamou-o imediatamente.

Aquele papagaio não era bem um papagaio. Era mais do que isso agora. A criatura que voou para a cabeça do homem de terno era tão agressiva que parecia mais uma águia atacando uma cobra. A cena não foi tão elegante quanto essa, afinal, ainda em aparência, aquilo era um papagaio preto bicando feito um louco um homem vestido de terno no meio de um galpão escuro. Talvez a comparação com um morcego fosse melhor.

Ed aproveitou-se que o inimigo estava distraído e procurou alguma coisa na bolsa. O pé com o sapato lustrado ainda o prendia no chão, mas o mago conseguiu achar um pequeno vidro de ácido em meio a seus materiais. Abriu-o e recitou as magias. O frasco se quebrou. O mago apontou para a face do oponente. O ácido quadruplicou em quantidade e voou para o alvo, espalhando um odor fétido e irritante.

O papagaio voou xingando. O homem gritou em seguida. O ácido acertou sua face esquerda. A pele queimou e se desfez, liberando o sangue junto a uma massa disforme. O cabelo quebrou. Por impulso, o homem levou a mão ao rosto e seus dedos se encheram de sangue e carne desfeita. Gritou de raiva e dor.

Ed aproveitou o momento para puxar a perna do inimigo e jogá-lo no chão. Levantou-se depressa, mas não adiantou nada. Cinco pessoas estavam próximas dele, prontas para segurá-lo e dar um fim a suas magias.