Acidente. (Após o Fim.)

Só dei-me por conta do ocorria, pois os gritos despertaram-me do sono, bem, eu devia não ter acordado; os instantes que se seguiram foram de agonia e pânico, a queda foi absurda, lembro de uma mulher ter batido a cabeça em meu ombro antes que ela caísse para frente.

Tudo estava escuro, não sabia bem o que ocorrera, afinal, eu estava num ônibus de viagem dormindo enquanto esperava meu destino, que se mostrou um realmente ponto final. Talvez a escuridão fosse à falta de meus sentidos após o impacto da queda do ônibus daquela ribanceira; lembro-me de ver tudo rodando antes, estávamos capotando, sem sombra de dúvidas; não sentia nada além de uma dor fulgurante, sem sons, nem frio, nem calor, nenhuma sensação além da dor. Imaginei naqueles instantes se teria sido eu o único sobrevivente e se alguém iria me tirar dali, ou teria o mesmo fim dos desconhecidos companheiros de viagem.

Decidi que deveria concentrar-me em mim, minha dor, uma maneira de aliviá-la, isso se mostrou impossível, a dor aumentava e aumentava e aumentava.

Clac, clim, poft, algo estava se quebrando, a ajuda finalmente chegara? -Pois é, não era bem a ajuda que eu esperava.-

Minha visão quase como num milagre voltou, assim como desapareceu a dor. Percebi então que estava em pé, atrás de mim, nada além de uma densa neblina que não me permitia notar nada. O chão parecia macio, meu corpo estava leve. À minha frente, a neblina, muito menos densa, me permitia notar algo como uma barca, não grande, não pequena, contudo eu não conseguia notar se havia água ou se aquilo estava apenas ali, abandonado. Andei naquela direção, já que para todos os outros lados não conseguia a segurança de ver nenhum vulto de forma, novamente não existia sons e sensações, ao menos podia ver, um sinal de que algo estava bem. Ou não.

Finalmente havia chegado à beira do lago, sim era um tipo de lago, e a barca estava ali, boiando, sobre ela estavam os três, e eu crente que estava salvo, idênticos em suas aparências mórbidas e vestimentas negras e remos nas mãos. Acenaram para que eu subisse a bordo e fiz o que me mandaram, - Como é que não achei isso estranho?

Nenhuma palavra, não respondiam. Para onde foram às outras vitimas do acidente? Como fui parar ali? Onde está o veículo?

Olhei para fora do barco, n’água, não havia reflexo além de uma um tipo de aurora roxa, ou algo assim, olhei então para o céu e a estranha luz roxa estava em toda a parte, rasgando o branco da névoa que se dispersava a cada vez que íamos mais longe, eu e os três estranhos sujeitos dos remos. Afinal, voltei o meu olhar novamente para a água e surpresa! Era como se eu assistisse o momento do acidente, do lado de fora, como se fosse um filme, desde o momento em que entrei naquele ônibus, claro, me reconheci e também a garota bonita que sentou ao meu lado; troquei algumas palavras com ela antes de dormir, disso me lembro, o sono era grande demais para que eu conseguisse ficar conversando. Continuei a assistir aquilo, atônito, como poderia estar vendo aquilo, seria alguma brincadeira sem graça? Comecei a me apavorar, porém estava interessado em ver aquilo. As cenas se alternavam, entre dentro e fora do ônibus, o motorista tinha uma ótima aparência, diferente de alguém que fosse atirar um veiculo cheio de pessoas num barranco profundo. As outras pessoas também pareciam bem normais. As cenas continuavam, era um tormento, o desejo de querer saber o que acontecera comigo próprio.

E finalmente o culpado; outro corte de cena, desta vez para um carro, alguns jovens cantarolando, aparentemente bem ALTOS, vindo em direção contraria à do ônibus, correndo como se fossem pilotos, oras. E lá se foi, contramão, em direção ao busão, o nosso motorista se assustou e tragédia, você deve saber o que aconteceu.

Ribanceira a baixo.

Eu assistir essa cena foi cruel, pois ao fim, entendi. Estava morrendo, corpo perfurado pelas ferragens. Não sei quanto tempo assisti minha própria agonia, ao menos sabia o motivo de tanta dor. Os sons, sim, agora me lembro, bombeiros serrando o ferro retorcido. Pareciam desesperados, estavam tirando alguém. –Jovem de sorte!- Meu corpo serviu como um amortecedor ou airbag*, impedindo que ela sofresse danos letais. A única sobrevivente do incidente. Além dos imbecis que o causaram. Então creio que morri, as cenas terminaram.

O barco seguia, mas para onde? Me perguntei até estar aqui, diante de você, estranha criatura. -Guardião do portão da morte? Qual será o Próximo passo? Julgamento, céu ou inferno?

Estou morto, o que deveria temer?

Ariel Lira
Enviado por Ariel Lira em 12/10/2011
Código do texto: T3272599
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