A mulher que fechava os olhos e volta a ser... criança!

Costumavam dizer que na cidadezinha de Catargena Segunda, que havia uma moça piradinha. Dona mesmo, que dizia 'ser criança'. Mas ela já era da segunda idade...

Amália era até bonita, e aparentava uns 42, mas só aparentava! Sua mente era uma mente totalmente infantil, de bem com a vida.

Vira e mexe Amália estava rodeada de crianças. Mas tinha uma hora que ela mais gostava: a hora em que faziam uma rodinha e contavam histórias de duendes, fadas mágicas, princesas e outros contos. Passavam horas e horas lá, naquela salinha, reunidos, ela no meio de um monte de crianças. Era uma verdadeira contista de história e estórias; contava história verdadeiras, clássicas, inventadas, contava todo o tipo de história que pudesse existir. Mas também contou uma que ficou, e que se parecia muito com a sua vida: A mulher que fechava os olhos e volta a ser... criança!

Amália contava muito bem! Ela voltava a ser criança contando essa história. As crianças ficavam fascinadas pela contista, queriam mais e mais. E uma criança pediu que Amália contasse mais uma vez aquela história de uma mulher fechava simplesmente os olhos, voltando assim a ser criança.

- Tá. Vou-lhes contar mais uma vez, por hoje.

[NARRANDO] Vivia na cidade de Psicose, nomezinho esquisito, que não se sabia porque chamava-se assim. Vivia sozinha, totalmente sozinha, com sua cama, seu quarto, sua cozinha, sua casa! Fazia tudo simplesmente sozinha, acompanhada apenas de si mesma, de Deus. Mexia o ensopado, enquanto assistia a um programa de Televisão.

Nomezinho estranho da moça, que não vem ao caso dizer. Depois da janta, se sentava ao seu lindo sofá solitário e fechava os olhos. Costumava dizer que aparecia a sua frente uma magia, alguma luz brilhante, que a fazia sentir o espírito infantil. Na sua cabeça, passava um monte de imagens de seu tempo de criança, dos mais bons aos ruins. Se espantava, chorava, se emocionava, mas depois que via tudo aquilo, ela voltava a ser criança. Muitos diziam que era 'literalmente', mas não, ela voltava a ser criança.. Ah, crianças, ia me esquecendo de dizer o nome dessa mulher: Ela se chamava Pérola, mas também se chamava Cristal.

As crianças ficaram encafifadas com essa questão: Como alguém podia ter dois nomes ao mesmo tempo?

[NARRANDO] Mas ela não tinha só dois nomes, ela tinha mais de cem nomes. A cada 'volta' à infância, se identificava. Todos do bairro viviam a chamando de louca. Era louca pra cá, louca pra lá... Nunca entendiam o que a mulher de cem nomes dizia. Parecia que ela tinha uma linguagem própria que usava com suas imaginações.

Lá ia de novo, num dia comum, a mulher de cem nomes, imaginar novamente seus tempos bons e ruins de criança.

Podia dizer que essa mulher foi criança a vida toda, porém não. Sabem por quê? Porque a vida toda não chegou pra ela. Ela é criança até hoje. E ser criança é magia, alegria e tudo mais.

Quando Amália contava essa história pras crianças, elas pulavam de alegria, aproveitavam mais ainda essa maravilha chamada INFÂNCIA.

Microconto.

Obrigado, leitores. O que acharam?

Lucas Vinícius
Enviado por Lucas Vinícius em 28/12/2011
Código do texto: T3410054
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