Diário de um ronco

Diario de um Ronco

Segunda-feira 03:33 h.

Fui dormir com fome. Maldita dieta. Comi uma bolacha, tomei três jarras de chá verde e não consegui conciliar o sono, depois de ter atualizado o caderno de receitas para minha mãe que tem as mãos duras para escrever. Tive pesadelos que era atropelada por um pudim de chocolate coberto de calda de caramelo, quem me salvava era o bonitão do primeiro andar todo besuntado de doce de leite para eu lamber. No fundo do sonho a voz do meu chefe gritava: - Quero mais biscoitinhos recheados de goiabada! Acordei com um ruído horrível que acordou até a velha surda do décimo nono. Uáaaaaaaaaaaaaaa rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr , Meu Deus! O que é isso, eu perguntava a mim mesma. Não quis me responder, acho que fiquei vermelha, vermelha não, roxa de vergonha, ter que admitir que acordei com um ronco de fome. Estava tão agitada que resolvi tomar um banho, a fome aumentava, me policiei para não devorar o sabonete com essência de maracujá.

Na mesma madrugada 05:00 h.

Já arrumei a lancheira para levar para o trabalho. Metade de uma maçã verde, dois gomos de tangerina. Uma porção para a manhã e outra para a tarde. Café da manhã? Vou pular uma refeição, assim pego o metro mais vazio e posso sentar-me para ler. Ler??? Sim meu próprio diário quando comecei minha própria caminhada para o sucesso. Minha meta emagrecer o mais rápido possível, antes que tivesse que trocar a porta do carro, e do apartamento.

Manhã de segunda-feira 9:30 h.

Acabo de ser demitida, pois cheguei atrasada e fui falar com a gerente, ela não queria ouvir, e minhas palavras de desculpa se misturaram ao ronco de fome. Eu não sei o que ela pensou, mas pensou bem alto, pelo tom de suas palavras: - Saia, já, Saia. Até pensei que era a minha saia que estava um pouco curta, depois é que a ficha caiu. O telefone tocou era do RH me convidando para acertar os detalhes de minha sumária demissão.

Hora do almoço

Entre tapas e beijos com o meu estômago, e com as minhas emoções, consegui sentar-me num “fast-food” é se pronuncia feist e fud, não, não é festa do que você está pensando não, é aqueles restaurantes de sanduba bate entope. Comi o maior, mais gorduroso, e cheio de molho que pude, depois de devidamente empanturrada sentei-me no banco da praça, em frente aos edifícios que caíram e dormi, fui acordada por um batismo de fezes de pombo justamente na minha cabeça. Ah! Que horror! Eu não estava nem sentada, acho que depois do farto banquete eu desmaiei mesmo na calçada, praça por ali, só nos melhores sonhos.

Voltar para casa, tarefa difícil, meu cachorro ia se assustar me ver chegando tão cedo, o sol ainda não estava escondido e possivelmente eu iria atrapalhar seu ronco depois do almoço. Depois de perambular por algumas lojas procurando uma mala, a maior que eu encontrasse, como seu eu pudesse esconder o meu ronco, peguei o metro, e depois um ônibus para casa.

Fiquei aliviada, quando abri a porta e o Shake não acordou. Eu estava tão perdida que nem notei que a sala estava diferente. As cortinas, o que aconteceu com a minha linda cortina branca, estava verde folha, será que as folhas da árvore que margeia minha janela tinham se juntado todas na minha janela. Fui até a vidraça, e observei que as folhas não estavam coladas. Senti um ruído estranho, seguido de um grito. O rúido era o meu ronco, que agora era como um sinal de alerta, para situações difíceis, o grito era da minha vizinha do terceiro andar que berrava incansavelmente, Lad~roa, ladrão, ladrão, ela me deu tantas vassouradas quantas pude resistir, acordei todo enrolada em gesso e gazes, a grafia gazes com “z” sim é material de curativo e não gases do intestino. O que se passou, ainda não sei direito. Acho que escapei por milagre de uma queda livre do quarto andar, não sei, eu fui dormir no domingo com a barriga muito cheia, pois tinha voltado de um rodízio de pizzas delicioso, depois parece que deu ladrão no prédio, não sei, senti muitas dores e ouvi um barulho surdo como de um corpo em queda livre, depois o ronco. As enfermeiras e os médicos dizem que foi um milagre prefiro acreditar que foi a consciência pesada e a vontade de não morrer, e aprender a controlar o vício da gula.

Agora estou realmente de dieta, pois esta comida de hospital é pior do que tudo o que escrevi até agora no meu diário.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 04/02/2012
Código do texto: T3479197
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