Contos do Vale Nebuloso- Canção de regresso.

Negro como a noite, o corcel de guerra corria sob a lua cheia levando consigo o senhor daquelas terras. Corria com selvageria típica de um animal que já estivera em vários campos de guerra, em seus olhos negros havia a fúria em suas passadas ágeis a força de um animal de porte nobre que combinava perfeitamente com o guerreiro que trajava uma armadura pesada feita pelos forjadores das montanhas de Fogo. Ambos queriam chegar logo as Terras Nebulosas, longe dali a guerra estourava a busca por m único Rei fizera com que todos os Barões de Aço se rebelassem uns contras outros se esquecendo do velho código a ambição os cegava na busca pelo poder. Mas aquele nobre que tinha pressa em chegar a suas terras desejava apenas garantir a vida das pessoas que viviam no Vale Nebuloso, queria garantir que tivessem uma escolha lutar ou fugir, pois a guerra chegaria até eles e não pouparia ninguém.

Em quanto ele seguia rumo ao seu destino, seu coração estava pesado, sua mente nebulosa como os vales e o medo habitava sua alma cansada.

Percorrendo trilhas que conhecia desde a infância, sentindo o cheiro das árvores, seguido pelas sombras escuras dos bosques, havia uma enigmática magia naquelas terras. Olhos invisíveis aos mortais o observavam com curiosidade e outros com maldade. Aqueles eram dias sombrios para todos, uma época onde lendas e superstições eram levadas a serio pelos mais humildes e tripudiadas pelos nobres. E ele não poderia imaginar que sua chegada traria muito mais terror, não tinha ideia que o mal sem nome apoderara-se de suas terras há três invernos, que os homens de confiança que havia deixado antes de partir foram corrompidos e que os Vales tornaram-se mais letais que os lábios de um demônio da luxuria.

O vento assobiava canções antigas, açoitava os pinheiros, enchia o ar com sua fragrância exótica e que se mesclava a um odor diferente. Em quanto o corcel aproxima-se fora obrigado a iniciar um trote mais lento e suave. O guerreiro sentia atmosfera pesada ao seu redor, agora decifrava o odor diferente que sentia, o cheiro intensificara-se, era carne queimada que penetrava suas narinas, reconhecia aquele odor agora, carne humana, se fosse levado pela emoção incitaria o animal em uma corrida frenética, mas os anos de experiência o fazia controlar o corcel para que diminuísse pouco a pouco a intensidade de seu trote. Pequenas criaturas de olhos brilhantes se escondiam e olhavam o guerreiro com um sorriso diabólico exibindo seus dentes afiados salivando ao sentir o cheiro dele e do animal. Uma nevoa tênue começava a cobrir o chão, as suas espadas exibiam uma aura avermelhada, aquilo significava que algo ruim o cercava, seus olhos de dourado intenso pareciam buscar algo em meio à escuridão. Um grito de horror invadiu seus ouvidos, em seguida um som que parecia a sinfonia do inferno ensurdeceu seus sentidos seu coração gelou por segundos, o corcel relinchou como se buscasse pelo apoio de seu cavaleiro. Então ao sentir seus instintos o alertarem atiçou o cavalo que correspondeu satisfeito o comando, seguiu por outro caminho, ás árvores tentavam agarrar-lhe até que chegou ao alto de uma colina de onde podia ter uma visibilidade do Vilarejo que antecedia seu castelo. Não podia acreditar no que seus olhos viam, talvez estivesse tendo um pesadelo ou estivesse no inferno que os clérigos descreviam em seus sermões. O vilarejo não era o mesmo, as casas ardiam em chamas, corpos queimando no chão, o cheiro era trazido pelo vento como se desejasse provocar-lhe mais repulsa, gritos de desespero ecoavam e mais uma vez uma sinfonia infernal que parecia uma mistura de lamento e gritos invadiam seus ouvidos o deixando atordoado. Implorou aos Deuses que tivessem piedade, mas não foi atendido. Desembainhou as espadas e fez aquilo que era o correto. Desceu em disparada, o corcel parecia feito de vento, suas passadas cortavam o ar noturno e em instantes já estavam na entrada do vilarejo. Seus olhos viram uma criatura humanoide que parecia feita de ossos e carne podre mover-se em sua direção, os olhos eram como fogo de duas tochas e em suas mãos cadavéricas segurava uma lança, trajando uma armadura antiga. Não esperou ser atacado, atiçou sua montaria que foi de encontro ao inimigo sem temer, um comando fez o corcel empinar o que não intimidou o inimigo, mas o ataque do animal foi mais ágil as patas fortes usavam ferraduras incomuns feitas de um material negro presente de um amigo que conhecia as artes das sombras. O alvo cambaleou, soltando um gemido horrendo, mas o guerreiro não deu tempo para que ele fizesse qualquer outra coisa girando as espadas com maestria decepava-lhe a cabeça que rolava pelo solo, mas o corpo continuava de pé confirmando aquilo que ele temia. O corcel escoiceou com violência derrubando a carcaça sem cabeça que ficou no chão em ataques espasmódicos. Seguindo adiante ele viu corpos das pessoas que ali viviam alguns ardiam em chamas escuras, outros estavam disformes e havia alguns que estavam sendo desmembrados por pequenas criaturas de menos de um metro com asas de morcego, chifres que saiam de suas frontes, com olhos vermelhos e dentes afiados que exalavam um odor de enxofre. Que partiram contra ele com selvageria, atacando as patas do corcel com suas garras afiadas.

O guerreiro saltou do cavalo com agilidade, os ataques eram executados com destreza não errando um só alvo, em quanto cortava a carne flácida daquelas criaturas fazendo-as queimar a cada golpe, as espadas emitiam um brilho avermelhado tinham sido criadas com o intuito de destruir as trevas estavam em seu clã há gerações, mas fazia tempo que não se deparavam com o mal.

Ele não se cansou, seguiu a passos firmes destruindo seres cadavéricos, pequenos demônios, buscando alguma vitima que ainda pudesse ser salva, seu coração estava carregado de ódio e culpa. Não deveria ter se afastado de suas terras por tanto tempo. Por fim ouviu suplicas desesperadas, escutou o choro em coro de mulheres quando chegou ao centro do vilarejo viu criaturas de pele avermelhada, com caudas longas pontiagudas, chifres de carneiro corando suas cabeças quase humanas, com garras negras e língua bifurcada.

Um deles carregava uma lança flamejante falando em uma língua proibida, os parecia ser o líder do bando de aberrações demoníacas, havia sobreviventes a maioria eram mulheres e crianças assustados, com feições que expressavam medo e loucura. O guerreiro preparava-se para atacar quando mais uma vez ouvir o som que o atordoou por segundos que foram suficientes para lhe deixar a mercê de cão cadavérico que latiu alertando os demônios da presença do Guerreiro.

O corcel relinchou buscando alertar seu cavaleiro, mas desta vez o som conseguira lhe deixar sem ação por mais tempo, quando uma das criaturas tentou lhe atacar o vento agitou-se violentamente fazendo que tudo a sua volta ficasse em silêncio uma canção celestial tomou conta do ar em quanto às criaturas gemiam em agonia caindo de joelhos em quanto à pela de seus corpos derretia lentamente, o som era uma melodia que recordava os cânticos das sacerdotisas da Deusa Themys ou até mesmo a lendária canção das serias do mar prateado. Aquela música composta apenas por uma voz doce acalmava as pessoas e o guerreiro, mas nas criaturas causava o efeito contrario por fim um clarão cegou a visão de todos por segundos com esforço por entre os olhos o guerreiro jurava ver uma criatura alada, de pele levemente azulada e longos cabelos esvoaçantes pairando sob eles no meio do clarão.

Quando tudo voltou ao normal, as criaturas não passavam de montes de pó carregados pelo vento noturno até que não restassem vestígios delas.

O guerreiro não conseguia compreender o que aconteceu, mas sabia que talvez os Deuses tivessem mudado de ideia e a piedade deles abrandou a desgraça que estava por acontecer. O fato era que agora os portais das sombras estavam abertos outra vez...

Bêlit
Enviado por Bêlit em 14/02/2012
Código do texto: T3498970
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