Regresso de uma nobre ao jardim da perdição.

Capitulo 1

O velho casarão estava deserto e mórbido. Celine soube no momento em que entrou no grande salão oval e diante dela a escadaria, cujo corrimão era entalhado com maestria. Seu coração estava apertado, tantas coisas haviam acontecido e agora estava ali, como sonhara com aquele dia em sua ingênua infância naqueles dias nublados, que vivia no internato escutando os sussurros das pessoas, os comentários maldosos e o olhar severo das Freiras, todos em coro diziam: “Não passa de uma bastarda não é digna de herdar o sobrenome L’Moon”.

Seus sentidos voltaram-se ao ouvir o tic tac do relógio de madeira escura em um canto do salão e seu brilhante pêndulo de ouro que balançava em um ritmo típico de um relógio rigoroso que não ousava falhar ou errar;

Os castanhos observavam cada detalhe o chão em mármore escuro, as paredes cobertas de por rosas delicadas, o lustre de brilhantes acima de sua cabeça, dois corredores que deveriam levar a outros ambientes cheios de requinte e beleza. L’Moon é um sobrenome que reflete seu poder em cada local da belíssima propriedade que fica em um condado ao sul da Inglaterra.

Quando recebeu o telegrama do advogado da família ficou pálida sempre imaginou que os avos eram figuras imortais, no auge de seu pedestal de ouro, ostentando em seus corações a intolerância e ódio ao lembrarem que o único filho casara com uma mera pintora contrariando tudo e todos em nome de um amor sincero. Infelizmente, não viveram o suficiente para ver a filha crescer morreram em uma viagem e apenas Celine escapou. Recorda-se que os médicos condenaram-na, chegou sem vida no Hospital, ficando em coma por quase seis meses, mas em uma noite despertou, contava apenas com seis anos na época.

A dor que sentiu ao receber a noticia da morte de seus pais a arrasou, destruindo sua alegria e quando seus avos foram ao seu encontro a fulminaram com seus olhos azuis gélidos, a enviaram para o internato por caridade, pois não a tinham como membro da família, mas não podiam larga-la em orfanato a sociedade iria criticar então era melhor fingir falsa preocupação.

Hesitou por segundos, antes de prosseguir com passos firmes pisando em cada degrau como se seguisse rumo a uma expedição rumo a um mundo místico e oculto. Quando deu por si estava em um longo corredor, segui por ele olhando as diversas telas nas paredes de carmim os vasos raros, as portas que abria exibiam quartos suntuosos e convidativos a um longo sono, mas o que realmente lhe chamou atenção foi a ultima porta no corredor que estava entre aberta, sentiu um arrepio na espinha que a fez pensar se não seria melhor ir embora e deixar toda a burocracia nas mãos de sua advogada. Mas em seu intimo o desejo de adentrar aquele quarto a empurrou adiante, ao abrir de vez a porta viu que a luz tênue do fim de tarde adentrava o local. O papel de parede tinha desenhos de folhas, árvores imponentes e pequenas criaturinhas que lembravam crianças dançando no ar, aquilo lhe causou espanto, seus avos não pareciam o tipo de pessoas que gostassem de uma temática fantasiosa ou infantil.

Por fim um choro chamou sua atenção, em um canto mais escuro, agachada com as costas contra a parede ela viu uma criança de cabeça baixa. Assustou-se, pois achou que a casarão estava vazio, talvez, fosse parente de algum empregado que ainda estava na casa ou seria sua imaginação. Com passos lentos aproximou-se e antes que pudesse toca-la a criança levantou o rosto rapidamente exibindo uma bocarra cheia de dentes afiados, olhos violetas brilhantes e orelhas pontiaguda, trajava uma roupa semitransparente e saltou contra Celine como se fosse devora-la, mas o que ouviu foi: “Bem-vinda majestade estávamos esperando você” em seguida tudo a sua volta tornava-se vivo, moveis dançantes, pequenas estatuetas e bibelôs riam alto, sua visão ficava nublada, via vários pontos luminosos ao seu redor causando-lhe cocegas, o cheiro forte de flores silvestres, o corpo inteiro estremecia, sentia-se como se o chão desaparece-se.

Uma fusão de sentimentos estranhos a invadiam e uma cantoria infantil chegava a seus ouvidos, em uma língua estranhamente familiar. Queria gritar, mas sentia a garganta fechar, os olhos arderem e o corpo gelar.

Por fim tudo escureceu de vez em quanto sua cabeça parecia explodir em mil pedaços espalhando na escuridão fragmentos de memorias que pareciam não ser dela e ao mesmo tempo eram dela.

Quando voltou a si estava deitada em sofá, um homem de meia idade e sorriso acolhedor oferecia-lhe uma xicara de chá que exalava um aroma tentador em quanto uma senhora a observa com carinho, imaginou que tudo não havia passado de um sonho estranho.

Endireitou-se no sofá, aceitando o chá, era uma sala fresca, de cor oliva com decoração delicada, quadros de damas pálidas que repousavam em poltronas davam um ar nostálgico ao ambiente que tinha grandes janelas por onde a luz da lua fundia-se a iluminação artificial que o lustre criava delicadamente. Os reflexos de luz fizeram seus olhos ficarem petrificados por instantes, pois podia jurar que havia pontos menores de diversas cores que dançavam dentro dos raios de luz que a lua enviava pelas janelas. Só voltou a si quando a mulher com voz suave apresentou-se, tratava-se da governanta Marie O’Brien e seu esposo Mordomo Ian ambos estavam a sua espera, pois desejavam saber que destino daria a propriedade L’ Moon e a seus empregados. Falou ainda que o momento não era oportuno devido ao falecimento dos avos dela, mas que os empregados estavam ansiosos por saber se ela manteria a propriedade, pois tinham grande ligação para com ela e era algo sincero.

Ao olhar novamente para luz tênue da lua que penetrava o lugar percebeu que não havia nada lá de estranho, ouvindo a mulher percebeu em sua voz um tom lamentoso, devia mesmo gostar do lugar. Após solver um pouco de chá, respondeu com sua voz aveludada que ainda não tinha pensado sobre o assunto e ainda não tinha acabado de estudar os documentos que o advogado da família L’Moon havia lhe passado. Mas que em breve daria a resposta que ela queria.

O casal pediu permissão para retirar-se, parecia estatua vivas do século passado, os modos impecáveis e uma postura requintada. Ao saírem Celine teve a impressão de ouvir um sussurro em seus ouvidos, mas preferiu solver mais do chá, imaginando que deveria estar estressada com os últimos acontecimentos.

Alguns dias atrás não passava de uma mera estudante de Arquitetura sem grandes ambições e agora era herdeira de uma fortuna o que faria de sua vida? Estava curiosa por conhecer a historia da família de seu pai já que a da sua mãe era um mistério. Imaginou-se vivendo em lugar tão luxuoso, olhou o teto, onde uma pintura delicada parecia viva havia diversas jovens dançando ao redor de uma árvore, em quanto outras pareciam feitas de luzes brincando na água, e as cores esmaecidas recordavam mundos submersos. Pensou então que talvez encontrasse um pouco de paz ali, e recostou-se no sofá caindo no sono sem imaginar que nas sombras olhos brilhantes a observavam e um sorriso maquiavélico abria-se em convite de sombras que nenhum humano poderia ver a não ser que tivesse o coração envenenado por trevas e maldades antigas.

"Fadas não existem, duendes não existem e monstros do armário são coisas para assustar crianças malcriadas. Vou provar que esse lugar é normal como qualquer outro, por isso estou escrevendo em meu diário que as estórias malucas da Tia Tess não passam de bobagens..."

Trecho do Diário da pequena Eliza ao aceitar investigar um velho jardim há muito amaldiçoado.

Bêlit
Enviado por Bêlit em 14/02/2012
Código do texto: T3498979
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