O Gigante e o Poço

Às beiras da floresta Mercúria existe um velho poço. Um desses poços que os aldeões usam para retirar água para sua aldeia e os viajantes para seus enfadados animais.

Ele foi edificado pelos anões na Primeira Era, quando Mercúria ainda era moça e as suas árvores eram tenras e delicadas. Quando Gládia ainda era chamada de Terra de Salém e os Reis ainda eram todos sábios. Muito antes mesmo das velhas águias do Rocha pousar em suas cordilheiras. E das criaturas fantasmagóricas de agora, jazerem na floresta Mercúria.

Ele foi todo feito de pedras lavradas e adornado com plantas trepadeiras. Escavado na rocha até atingir o manancial que brota no imo de Mercúria.

Das primaveras vívidas e coloridas de outrora só restou o limo nodoso sobre as poucas pedras restantes. Mesmo assim a sua água, incessante era límpida e refrigerante.

Eis o motivo que muitos ainda arriscavam retirar água daquele anoso poço.

Juvial, o Modesto, arriscara essa empreitada com seu atrapalhado amigo Temerso, o Tolo.

Juvial, receoso de que seria motivo de pilhéria entre os seus, acompanhou o amigo a retirar água do Solitário, como eles tratavam o velho poço. Já Temerso fizera uma aposta e não queria perder o galardão.

Juvial é um jovem Cervauno da raça dos galhardos, possui belos olhos castanhos em contraste com a sua pelagem ocre. Apesar da pouca idade já ostenta dois pontudos cornes levemente inclinados para trás. Enquanto seu tolo amigo, Temerso, é da raça dos Rhenos. Olhos pretos e vívidos, porém curiosos demais. Possui a pelagem cinza chamuscada de negro.

Cada um portava sua arma. Juvial um leve arco com meia dúzia se setas. E Temerso uma lança.

Não eram somente as lendas que residiam os assuntos referentes à Mercúria, de que Ogros, Gigantes e Ciclopes habitavam a floresta, que os dois jovens Cervaunos temiam, mas também o fato de afirmativas convincentes de que essas e mais outras criaturas saiam de Mercúria para buscarem água no velho solitário.

E eles mais do que qualquer coisa não queriam ser surpreendidos. Por estas ou por qualquer outra criatura medonha e desconhecida.

O silêncio era petrificante e o ar gelado que desciam das copas das centenárias árvores frigiam ainda mais os ossos e o mais íntimo das almas dos companheiros.

O uivo do vento cortando os galhos e o ranger das árvores compunham a mais peculiar e fantasmagórica harmonia. Como uma orquestra de criaturas mortas celestes e demoníacas ao mesmo tempo.

A penumbra acima e adentro da floresta era notável. Com mais de noventa metros de altura e troncos que para serem abraçados necessitariam de mais de dez homens adultos.

Temerso fez uma careta ao lembrar-se dos homens. Sabia que os dois reinos estavam em guerra. Castélia, a nação dos homens e Faunália, a nação dos da sua espécie: Centauros, Faunos, Cervaunos e Rinotauros.

Duvidava que qualquer um dos homens, os macacos pelados, como eram a chacota entre os Centauros, entraria naquela velha floresta. Ele acreditava que após aquele dia, mostraria o seu valor. E até quem sabe não lhe dariam um novo nome de guerra: Temerso, o Bravo.

A hora passava e os dois não queriam ficar mais um minuto ali.

- Depressa Tolo, recolha logo esse balde e vamos sumir daqui. – Juvial começara a tremer.

- Estou a sentir daqui o trepidar dos seus cascos na rocha, seu medroso – brincou Temerso. Já vamos sair daqui.

Temerso lançou o vaso de carvalho no poço e foi sustentando a corda enquanto este descia. Pode sentir o vaso tocando a água no fundo quando a corda tencionou. Certo de que já enchera ele começou a puxá-lo.

Antes mesmo de terminar sua tarefa, quando o vaso ainda estava na metade do caminho, os dois amigos ouviram um horrendo e ameaçador rosnado no meio da floresta.

Temerso parou o vaso e Juvial continuou a tremer mais.

- Que coisa foi isso? – arriscou falar quando os lábios pararam de tremer.

Temerso ia terminar a empreitada se não fosse o fato de no meio do mato aparecer um monstruoso e feio gigante. Da altura de três centauros, quase da largura de uma das árvores de Mercúria, marrom e nodoso como um pântano e com uma clava de madeira na mão que Juvial jura que tinha o seu tamanho. Não precisou mais do que um olhar do gigante, com seu horrível e vermelho par de olhos, para os dois amigos, para que eles largassem tudo e saíssem correndo.

O velho e rudimentar gigante nem fez menção de os perseguirem, ele só queria beber água do poço.

Antes de alcançarem a penha onde estavam esperando vários outros amigos e assim que o seu coração parou de bater tão rápido Juvial comentou com Temerso que podia jurar que viu criaturas rastejantes andando sobre o corpo do gigante.

(Episódio onde dois jovens da raça dos centauros tentam provar sua coragem. Em Breve: As Crônicas de Terra Gládia, Livro 01 - A batalha de Castélia)

Sr Marx
Enviado por Sr Marx em 04/06/2012
Código do texto: T3705913
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