DO OUTRO LADO DA RUA (20) – A  “MAIS”BRILHANTE ESTRELA DO CÉU 
 
          Aquela velha casa de fundos, do outro lado da rua hoje está fechada...nunca a vi fechada, porque será? Onde estará minha amiga dona Chiquinha? Me dirijo à vizinha mais próxima para me informar se ela sabe algo.
          E, olhe que sabia, dona Chiquinha foi encontrada desmaiada na beirada do fogão de lenha, teve um infarto a minha doce velhinha e está internada.
          Lembra  a vizinha que, “era por volta de umas sete horas da manhã, ou até mais cedo”, quando ela bateu na porta e ninguém atendeu, disse que foi até lá porque sentira algo ruim. Ao constatar que ninguém respondia entrou e, qual não foi sua surpresa ao encontrar dona Chiquinha caida ao chão. Foi um corre-corre danado, ninguém sabia o que fazer, o que pegar;  juntaram algumas roupas, um desassossego realmente causou tal acontecimento. Chamaram uma ambulância que a levou. Ela passou o dia todo ali junto no hospital, mas não tinha notícias da boa velhinha. À tardinha, o sol já se punha quando lá de dentro apareceu o médico anunciando o triste desenlace.
          Após ter sido sacramentada, faleceu calmamente. Nosso Senhor Jesus Cristo a levou para sua mansão celestial. 
          Não mais a vi em vida para me despedir, minha doce velhinha partiu, levando consigo meu carinho e minha saudade. Mas, não deixei de lhe oferecer junto às flores um ramo de alecrim, erva com a qual me abençoara em minhas visitas cotidianas.
          Dona Chiquinha, aquela senhora idosa, que a tantos socorreu nos momentos de necessidade, retorna agora ao plano espiritual, depois de uma longa jornada vivenciada nesta vida terrena. Está de volta à mansão, situada em outro plano, passará por um lento e gradual processo de readaptação à sua nova condição, um trabalho acompanhado por assistentes dedicados e amorosos. Mas o que Chiquinha não lembrará é que seu passado era muito mais forte do que imaginava. Todos aguardam ansiosos a volta completa de sua memória espiritual, para que ela possa viver em plenitude, junto ao grande amor que se encontra à sua espera, seu amado Tunico.
          Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. "É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos"(Fernando Pessoa).
          Passaram-se alguns dias após tão sofrido acontecimento. Olho para o céu e vejo uma estrela mais brilhante entre todas, vejo nela minha doce velhinha e penso; estará minha amiga contando suas histórias para os anjos no céu? Não mais as contará à mim, para que as relate aqui nas páginas deste cantinho.
          Era uma vez, uma doce velhinha, da velha casa de fundos, do outro lado da rua.

         
Moly
Enviado por Moly em 08/10/2012
Reeditado em 09/10/2012
Código do texto: T3922153
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