Os Filhos De Araendys - 04

Três dias se passaram e muitos outros mais. O cansaço ia tomando conta do grupo à medida que caminhavam pela mata fechada. Os mercenários Cruôres haviam interceptado a mensagem do encontro do povo Araendys. O vento, o frio e o medo foram dispersando as pessoas que iam perdendo a esperança naquele grupo. Boatos começavam a correr entre as pessoas:

- Não devemos confiar nesses exus e muito menos nesses elfos. Eles estão nos levando para uma emboscada!

A desconfiança crescia enquanto notícias de que outros grupos haviam sido abatidos pelos implacáveis Cruôres se espalhavam. O encontro combinado não chegou a se realizar e a escuridão se intensificou em Heuteria.

- Parece que um novo ser lidera os mercenários e magos Cruôres. Ele busca o Livro dos Segredos. – Disse o caboclo para o mago branco.

- Devemos procurar a família Arhuanda! Nossas esperanças estão se resumindo a poucas chances de ações, que não podem aceitar erros.

Quando o grupo de elfos, caboclos, gnomos, exus e anões liderados pelo sábio mago comunicou ao diminuto grupo os recentes acontecimentos e a nova decisão de rotas o grupo de humanos se negou a acompanhá-los.

- O que faremos? – perguntou um elfo.

- Deixemos que eles decidam o que acharem melhor. Nós não podemos nos atrasar. Precisamos reativar o antigo clã dos magos anciões. – Respondeu o líder mago.

No dia em que o grupo dos seres elementais da natureza liderados pelo mago decidiu sua partida a discordância entre os humanos chegou ao limite e a incapacidade de lidar com a diferença se manifestou com intensidade na natureza humana.

Ordenados pelo mago a não interferirem, elfos, caboclos de demais elementos da natureza decidiram descer às terras abaixo dos caudalosos rios do sul.

- Deixem que eles errem, e possam aprender com os próprios erros. Vamos!

O agrupamento humano deixado para trás teve sob sua companhia a entristecida presença do desespero, da incerteza e da ira. Não chegavam ao acordo quanto ao destino que deveriam seguir. Muitos homens se levantaram como guias e convencendo mais, outros menos, caminharam em grupos menores para lugares obviamente perigosos e tantos foram os que com as próprias pernas seguiram para a morte rápida.

Tita seguia com seus pais e irmãos adotivos em um dos grupos, quando foram cercados por vários grupos de mercenários Cruôres que devastavam a região em busca de inocentes onde pudessem projetar o ódio que sentiam por tudo, espalhando morte e medo.

- O que temos aqui? Um pequeno número de miseráveis condenados à morte. Infelizmente, ou felizmente, estamos aqui para cumprir nosso papel no mundo e lhes apresentar aquilo a qual foram destinados: uma morte nas mãos de um mercenário.

O atropelo dos pés dos gigantes se confundiam com suas gargalhadas, enquanto eles atravessavam o maior número de pessoas com suas lanças e espadas. Os pais adotivos de Tita, e mais algumas poucas outras pessoas conseguiram escapar indo cada um para cada lado. No entanto, durante a confusão da fuga, Tita novamente se encontrava perdida e sozinha.

Nas suas pequenas mãos ainda estava o bilhete que tinha recebido, e que tinha ocasionado a agressão contra seu protetor e pai momentaneamente. Ela abriu o pequeno bilhete e olhando para aquela paisagem de destruição deu graças à Grande Mãe por saber ler.

O bilhete vinha de seus pais, de quem tinha se perdido em uma das cidades onde tinham sido atacados. Estava escrito que eles estavam vivos e sabiam dela. Para que ela tomasse cuidado e que logo se reencontrariam. Falava para procurar um ser chamado Marabô, e que não se assustasse com sua rude aparência, pois era um ser de bom coração. Dava algumas orientações de como encontrá-lo.

Tita seguiu por dentro as altas montanhas amareladas e pouco povoadas, cuja estrada inóspita e difícil, representava, em verdade, segurança. Caminhava com seus pés delicados de criança enquanto o sol esquentava o solo, queimava-lhe a cabeça e os ombros e mostrava-lhe o caminho.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 09/10/2012
Reeditado em 09/10/2012
Código do texto: T3924063
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