Alívio

O suor desce do seu rosto como se estivesse dançando... Você olha com a cara fechada para um outdoor do outro lado da rua, tira alguma coisa do bolso e começa a andar em minha direção.

Eu estou tremendo, e, embora o calor seja sufocante, o suor parece estar entupido pela minha pele. Seus passos são como tiros de metralhadora, meio descompassados, porém mortíferos. Olho para você, olho para o outdoor, olho para a sua mão...

De repente, um estouro. Você cai no meio da avenida (a metralhadora fica em silêncio) .Seus olhos me fitam, mas eu não quero te ajudar. Tenho medo, e também não o tenho. O sangue espalha-se na rua, formando uma poça vermelha ao seu redor. Procuro por alguém que poderia ter dado esse tiro tão certeiro, mas o rosto deve estar escondido na multidão. Seus olhos se fecham, meu sonho começa a existir, meu pesadelo acaba.

A mão aberta mostra uma chave, a chave que me levaria para um novo terror. Já sabia o que você iria fazer comigo, mas não desta vez. Quem golpeou, agora, fui eu. E para sempre. Nunca mais terei que ver teu rosto suado, teu corpo sobre o meu, tua voz parecendo a de um porco. Nunca mais. Enfim, me livrei de você. Aliás, alguém me livrou de você. Mas, de uma forma ou de outra, eu saí vencedora. Agora, poderei ser feliz e construir a minha vida...

-Conhecia aquele homem?

Eu me assustei quando um homem se aproximou pelas minhas costas, pensei mil interpretações, mas só perguntei:

-Por quê?

-Por que ele me devia mais de mil dólares em um jogo, e estava fugindo de mim. Parece que você o conhecia.

-Não era ninguém importante.

-Se parece com ele... Se parece com a menina da foto que ele me mostrou outro dia.

-Este homem era meu pai, mas eu o odiava mais que posso pensar.

- Bem, não me envolvo em casos familiares. Aqui no subúrbio é assim, tu bem sabe. Matar ou morrer.

-E, no caso, eu iria morrer...

-Quer tomar um café?

Em silêncio, caminhamos até a padaria. Eu contei para ele a minha historia. Não queria que as coisas terminassem assim, mas era o jeito. Ou, então, aquele ser iria me matar um dia. Agora eu vou poder viver a minha vida, sem pai, sem mãe e sem ninguém, mas comigo, eu e eu mesma. Agora poderei respirar, sem medo de ser feliz.