Um conto da Besta Ladrador (Como o Cavaleiro da Besta feriu Gilfret.)

Um conto da Besta Ladrador

(Nota:O conto a seguir é um fragmento recriado das antigas histórias da “Demanda do Santo Graal”)

Artur, Rei de Camellot, foi coroado aos quinze anos e único cavaleiro puro e justo o bastante para empunhar a Excalibur, a espada sagrada. Justo era também com seus cavaleiros, pois mandou construir o enorme salão onde estava a Távola Redonda, uma mesa sem quebras ou cantos, onde todos sentados seriam simbolicamente iguais entre si.

Entre os valorosos guerreiros sob o comando de Artur, estavam grandes lendas, como Lancelot, Merlin, Gawaine e Palamades: O Cavaleiro da Besta.

Palamades herdou o título de Cavaleiro da Besta por perseguir, durante doze anos sem descaço, uma fera terrível, a Besta Ladrador. Fez da tarefa seu destino e mataria qualquer um que se opusesse em seu caminho.

Um dia uma criatura desceu as montanhas. Estava sedenta e resolveu buscar água enquanto não saia em busca de uma nova presa para se alimentar. Grande, forte e temível, a besta trazia terror e má sorte por onde fosse avistada. Costumava atacar gado e carneiros que passassem perto da floresta, se alimentava da carne e ossos dos animais que matava, por vezes atacava fazendas e devorava galinhas e coelhos.

Parada na beira do lago sob o luar, a fera se baixa para beber água.

Descendo o leito do rio estava Gilfret, um caçador daquela região. Homem comum que vivia da caça de animais pequenos e venda de peles para a manufatura de vestimentas. Andava sempre com seus cães de caça e um farejador, levava sempre seu arco e flecha e um punhal que herdara de seu avô.

As ondas no lago passaram despercebidas por Gilfret, mas seus cães notaram a agitação quase inexistente nas águas que desciam o rio. Existia uma presa ali perto e seus cães de caça já estavam prontos para uma perseguição noite adentro. Gilfret deu ordem e foi levado por seus cães até a criatura escondida nas sombras.

Sentindo o perigo e a agitação no lago a besta logo ficou alerta e, ao ver os cães se aproximando, tratou de fugir. Era forte e terrível, mas não era páreo para tantos. Esperta, correu por dentro da mata e desapareceu no breu.

Gilfret não pôde acreditar naquilo, era a Besta Ladrador. Ele esteve próximo da criatura e descobriu que não era só uma lenda para dar medo nas crianças e mantê-las fora das florestas, era um monstro real. Com medo ele fez o sinal da cruz e agradeceu por não ter sido uma vítima naquela noite. Seus cães devem tê-la afugentado, pensou ele, e o certo a fazer seria avisar ao Rei, pois a criatura representava perigo para todos os fazendeiros que moravam às margens do rio.

Cavalgou até Camellot o mais depressa que pôde. Contou o que viu e logo estava sendo escoltado até o castelo para falar pessoalmente ao Rei.

-Senhor! Uma flecha atirada pelo mais hábil arqueiro não é capaz de voar tão rápido quanto aquela criatura pavorosa é capaz de correr!

O Rei imediatamente mandou homens na caçada. Deveriam trazer-lhe a criatura morta antes que algum inocente se ferisse ou ela matasse animais em sua cidade. Gilfret foi à frente, sabia os caminhos da floresta como ninguém e se lembrava da rota que a criatura usou para fugir na noite passada. Incitava seus cachorros com gritos e puxões nas coleiras, fazendo-os babar de excitação por uma perseguição sangrenta.

Mas o Cavaleiro da Besta já vinha no encalço da fera e sabia seu paradeiro antes que o Rei fosse avisado. Estava nas montanhas há dias, sem sorte em sua busca, mas sempre com o fogo no coração aceso e pronto para um combate homem e fera. Naquele dia avistou Gilfret e seus cães na floresta, e percebeu que ele estava em busca de sua caça, a Besta Ladrador. Com um ar de autoridade e raiva o Cavaleiro gritou:

-Retorne ou será morto!

Gilfret não queria voltar, estava seguindo pista da fera e estava confiante que ia pegá-la. Seria uma honra e um prestígio cuidar daquele assunto para o Rei. "Ganharia fama, dinheiro e um status de Cavaleiro da Côrte", pensava ele. Não parou sequer um momento e continuou seguindo seus cães.

O Cavaleiro notou que o caçador não iria voltar, estava lhe desprezando, negando cumprir a ordem de um cavaleiro da Távola Redonda. Com raiva ele empunhou sua espada e apontou para o caçador. Com um golpe rápido e mortal ele cravou a lâmina através do elmo daquele que o desafiou, levantando o couro da cabeça com a perfuração. Retirou a lâmina mortal e viu o corpo do homem cair desorientado.

Gilfret não sabia onde estava, se era dia ou se era noite,...

...fechou os olhos.

Olhando para o homem no chão o Cavaleiro disse:

-Continuarei minha busca, pois é mais importante do que um companheiro que agora jaz nas montanhas.

Rapidamente partiu em sua interminável busca pela Besta Ladrador, ninguém podia se opor à sua caça, ninguém.

E Gilfret morreu ali sobre a terra.

Juan Pedro e Samily de Araujo de Almeida
Enviado por Juan Pedro em 27/01/2013
Código do texto: T4107434
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