A Casa

Fecho os olhos...

Estou em frente a uma grande casa de pedras, percebo que o lugar onde piso um dia foi coberto por grama, e agora nada mais é que um solo seco e arenoso. Lentamente caminho em direção ao grande portão de ferro, está enferrujado, mas mesmo assim ainda matem aquela beleza antiga. Desenhos de pequenos corações entre as grades mostram que aquele lar um dia possuiu amor. Abro-o vagarosamente, ao mesmo tempo em que ecoa dele um ruído agudo e cortante que me faz lembrar de meus tempos de infância, não tão distantes, porem inalcançáveis. Pé sobre pé avanço em direção a enorme porta de madeira, ela é pesada, porem frágil, o tempo desgasta qualquer coisa. Antes de abri-la paro para olhar em volta, tudo está tão triste e vazio, fica difícil de acreditar que aquele lugar nem sempre foi assim. Arrasto a porta vagarosamente, e quando a luz entra por completo naquele lugar frio, sinto como se a vida renascesse por entre aqueles cômodos, e novamente tudo voltasse a ser como era. Mas é apenas uma sensação momentânea. O ar gélido me toca como se quisesse me tomar por inteiro, porem o calor da rua impede que eu me perca nos caminhos gelados do desconhecido. Há tanto para olhar, tantos corredores, tantas salas, tantos quartos, fico me perguntando onde estaria a chave que desvenda os segredos que o passado tomou pra si. Estaria atrás do pesado piano? Entre os brinquedos das crianças? Dentro da gaveta da escrivaninha? Na cama onde um dia dormiram os pais? Ou talvez em cima da grande mesa de jantar, onde todas as noites se reuniam à família, e onde todos sempre estavam felizes. Nego-me a procurar, talvez o que eu encontre sejam as repostas das perguntas que nunca fiz, e o que descubra sejam segredos que nunca desejei guardar.

Saio para fora, estou chorando, e nem ao menos me sinto triste, é como se fosse um castigo por tentar reviver o passado, não há como passar por ele, sem derramar lagrimas. Corro até o jardim, ou o que acho que um dia foi jardim. Das roseiras só sobraram os espinhos, das árvores apenas os galhos, da vida, apenas a morte. No centro há um pequeno balanço que julgo eu um dia ter sido branco. O vento nunca permite que ele descanse, ele nunca para, talvez esteja lutando, talvez seja a única coisa sem vida que queira viver.

Suavemente uma musica começa a tocar, é tão leve e chego tão de mansinho que parece o sussurrar de um mistério, que nem mesmo o silêncio é capaz de desvendar.

Meus olhos pesam...

O sol se despede...

O balanço e o vento param...

É hora, de fechar os olhos, e dormir...