RELATO DE UM GAMETA

RELATO DE UM GAMETA

Um dia, não sei por que, ganhei uma corrida, entre milhões de competidores. Como prêmio, fui morar num paraíso, onde comia, dormia, nadava e recebia carinhos e elogios de todos. Tive essa dolce vita por nove meses. Daí, num dia qualquer fui expulso desse éden, chorei muito, e passei a ser chamado por um nome que não escolhi. Aos poucos, fui me adaptando a esse novo ambiente e fui me desenvolvendo. Era tratado com muito amor, mas também chamavam muito minha atenção, diziam, que era para eu ser uma pessoa de bem. Em seguida, mandaram-me para a escola para aprender a ler, escrever e, mais uma vez diziam, para ser alguém na vida. Salvo alguns episódios tristes, tudo caminhou bem nesse período. Aí, após anos de estudo, tive que arrumar um trabalho, afinal, não podia ficar o resto da vida no bem bom da casa dos papais, era, como mais uma vez diziam, necessário construir minha vida. Lá fui eu, ralando todo dia e num belo dia, por acaso, encontrei minha chamada alma gêmea, ou melhor, minha gameta gêmea. Resolvemos ficar juntos, e tempos depois nasceram gametinhas. Continuei ralando, afinal precisava sustentar gameta gêmea e gametinhas, que eram meus três amores. Foram anos e anos de trabalho e finalmente, resolvi que era hora de parar e descansar um pouco. Fiquei extasiado quando nasceu a ganetinha. Mas a alegria durou pouco.

Pouco tempo depois desse dolce far niente, de forma súbita e inexplicável, fui chamado para uma outra missão. Não fui informado do destino, nem o que me era destinado. Assim, parti, e por incrível que pareça, lá estava eu participando de nova corrida.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 13/03/2013
Reeditado em 06/04/2013
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