O Mestre da Colina

...Depois dos tantos passos para chegar até o topo. Sento-me em frente às poucas árvores daqui. Respiro o ar puro que nem sinto entrar em meus pulmões. O vento sopra, retirando todo meu cansaço. Em pouco tempo estou pronto para me levantar; pego a pequena trouxa contendo aquelas poucas coisas necessárias para me manter vivo. E espero pacientemente até o sol cair. Assim, quando não o vejo mais atrás das montanhas ao norte, sinto uma corrente de ar forte vindo contra meu corpo. A grande porta de madeira, com pequenos animais desenhados, colocada contra as pedras se abre. Parte do ar ao meu redor vai sendo sugado com muita força, até que eu mesmo me vejo dentro de um grande nada. Sinto como se esquecesse grandes fardos do lado de fora. Mas não consigo me lembrar quais são. Aqui deixo de usar minha visão. Tudo é tão escuro que meus olhos desistem de enxergar. Minha audição sofre por não encontrar nenhum ruído. Aqui é possível correr para todos os lados sem jamais tropeçar. Posso passar dias e dias andando em uma só direção e não chegar á lugar nenhum. Aqui não uso sapatos. Gosto de sentir o chão frio desse lugar. Tudo e tão plano por aqui.

Finalmente me sento. Em minha frente, um contorno um tanto azulado se forma. Meus ouvidos voltam a ouvir. Palavras sábias começam a invadir minha mente. Conselhos que não são conselhos descansam em minhas mãos. Aqui tenho a liberdade de pensar. Exercito minha mente, adquiro conhecimentos inadquiríveis. Passo a entender, as pequenas incógnitas do meu dia. Os complicados se tornam fáceis. Sinto-me banhado por um mar cheio de significados. Horas se passam.

Uma grande explosão branca devasta tudo. Por instantes consigo voltar a enxergar. Em minha frente aquela figura quase se torna humana. Meus olhos coçam. Paro de pensar, tudo some, estou dormindo.

Sinto algo bem quente em meu rosto. O sol me esquentava, já era dia novamente. Estava deitado perto de arbustos. Aqueles animais entalhados na porta me olhavam como se fossem viver. Antes de pensar em algo, fortes dores de cabeça me atingiram. Não conseguia me mover. Aquilo me impedia de levantar. Um grande estalo finalmente ocorreu, finalizando os grandes períodos de dor.

Nunca tinha conseguido permanecer durante tanto tempo no interior da colina. Acredito que só agüentei por já ter feito isso antes.

Agora começo a me preparar para a próxima vez que ouvirei conselhos. Tentarei falar. Será que há algo para eu ensinar? Por qual motivo fui escolhido, para aprender tudo aquilo?...

...“Em tempos tão confusos, alguém lhe oferecer seus conhecimentos de vida torna-se cada vez mais raro. Ensinar algo, por mais simples que seja, transformará seus dias. Modificará seus pensamentos, sem tentar. Abrirá seus olhos sem tocar. E além de tudo, nada será pedido em troca. Não pedirá nenhum tipo de apoio, nenhum tipo de ajuda. Simplesmente oferecerá sua sabedoria. Com o tempo, você andará com suas próprias forças. Mas mesmo assim o visitará sempre. E novas descobertas serão feitas sem esforço. Ele estará sempre lá, na colina.”...

DelPietro

O Mestre da Colina (07/04/07)