Admirável mundo novo



                        Ele tinha acabado de chegar de um planeta distante da terra.  Talvez, a distância fosse de uns trezentos anos-luz.  E esse planeta, amarelo, ficava bem  no centro de uma linda galáxia, de iluminação feérica. Ao contrário da terra,  de um azul que começava a desbotar, situada humildemente na periferia da via láctea, que parecia estar fugindo, tal a velocidade com que se expandia rumo a um buraco negro.
                        Oxalá,  chegue lá...
                        Aparecia altas horas da noite,  naquelas horas tardias em que rareavam os frequentadores de um bar, próximo a um presídio de segurança máxima, no bairro de Bangu, na cidade do Rio de Janeiro.
                        Chegou a fazer amizade com um tal de Julião, carcereiro antigo do presídio. Naturalmente,  o Julião sondava o estranho e levava a conversa  para a criminalidade da cidade.  Falava dos presidiários, sempre revoltados. E a conversa terminava sempre sobre os julgamentos do Júri.  Era adepto da punição e se dependesse dele todos os bandidos assassinos seriam sumariamente metralhados.  A grande ideia era aumentar consideravelmente o número de presídios.  A violência era prática generalizada em todo o planeta terra, que se transformava num grande ringue de luta: homem contra homem. Saudades das humildes brigas de galo, de tempos remotos...
                        O homem do planeta amarelo ouvia essas declarações com assombro. Exclamava, ironicamente: - “Belo planeta”.  E dizia para o carcereiro: - “ desde sempre, no país em que moro (disfarçava e inventava um país inexistente)  não existem  códigos penais, muito menos Código de Hamurabi, por serem absolutamente desnecessários.  Naquela terra distante havia apenas um Ministério. E se chamava Ministério para a defesa do Ser Humano  e a preocupação máxima do povo era, finalmente,  descobrir o sentido da vida no universo. Estavam chegando lá...
                        Povo que se dedica à descoberta do sentido da vida tinha que ser mesmo  de outra galáxia. Não havia esporte de competição. Boxe,  corrida de carros, luta-livre, nem pensar. Televisão, novelas, jamais ouviram falar.
                        É verdade que o futebol ainda era jogado, mas apenas para suar a camisa, como exercício.  Estranhamente, só jogavam de camisa amarela.
                        Como também  o universo não é perfeito,  o jogo  adorado pelas pessoas era a peteca na praia.
                        Com os petequeiros separados por uma rede amarela.
 



              Nota:  Um conto para exercitar a fantasia.