REINO DE GELO

Era Inverno quando tudo aconteceu. Eu era jovem e forte, tinha energia e vontade de se aventurar mundo afora. Estava no fim de minha adolescência quando decidi sair de casa, com apenas uma mochila velha nas costas e minha espada de prata que recebi de herança de meu avô, saí em busca de aventura, peguei a primeira estrada que vi e segui em linha reta. O inicio de minha jornada não fora muito interessante. Passei por alguns vilarejos onde seres mágicos não existiam, passei por florestas onde a escuridão se dissolve na luz e onde a luz é encoberta pela escuridão, passei também por mares que são feitos de tintas de todas as cores que se misturam e não se misturam. Andei até chegar a um grande portal. Ele era feito de gelo e prata, seus desenhos pareciam ter sido feitos à mão, cuidadosamente trabalhados, pois eram de uma perfeição que eu nunca tivera visto antes. Fiquei ali um tempo apenas admirando aquele imenso portal de gelo. Como era inverno eu não suportei o frio e entrei pelo portal a procura de abrigo pra descansar. Depois de uma noite fria de sono , comecei a explorar aquele reino que se escondia atrás do grande portal de gelo, lá tudo, absolutamente tudo era de gelo: Os animais, as plantas, as florestas, os lagos... Tudo era gelo. Eu estava com fome, em minha bolsa restavam apenas algumas folhas secas de caramelo, que eu pegara na floresta comestível e alguns botões de rosa de chocolate, aquilo não seria o suficiente para eu poder me alimentar pelo resto da semana. Eu então fui à busca de alimento no reino gelado. Mas, onde eu iria encontrar alimento se tudo ali era feito de gelo? Iria eu morrer de fome e ainda por cima congelado? Foi então que encontrei um estranho ser. Ele era de altura média, nem tão grande nem tão pequeno, ele era magro, sua cabeça era fina, e em sua superfície tinham duas grandes afiadas antenas de gelo, o qual me parecia ser sua defesa. Ele ficou olhando curioso para mim, com certo receio se aproximou e para minha surpresa, ele começou a falar! Foi um espanto para mim! Como seres de gelo poderiam falar como pessoas normais? Pois acreditando ou não, ele falava. Sua voz era estranha, era fina e desafinada, mas as palavras saiam perfeitamente de sua pequena boca. Ele me contou que vivera ali desde o seu nascimento, disse também que eu não era o primeiro humano a encontrar o grande portal e o reino de gelo, disse que aquele lugar não iria durar para sempre, e que uma guerra se aproximava. Após ele jogar várias informações sobre esse estranho reino gelado, eu falei para ele que estava faminto. Ele então segurou minha blusa e com rapidez e seu desajeitado andar me conduziu até chegar a uma pequena vila. Nesse minúsculo vilarejo existiam seres iguais a ele. Era uma vila onde seres mágicos existiam. Ele me guiou até sua suposta casa. Ela era baixa, tive dificuldade de ficar dentro dela. Quando encontrei uma maneira de ficar confortável ele me trouxe uma tigela e uma colher, pra variar, de gelo. Eu peguei com receio àquela tigela gelada e enfiei a colher com desgosto em minha boca, foi quando senti um gosto diferente, o qual nunca tivera experimentado antes! Aqueles pequenos blocos de gelo tinham um sabor inexplicável! Era uma mistura de doce com azedo, com um leve toque de morango e limão, o qual dava uma sensação de frescor e satisfação! E a cada colherada que eu dava eu queria mais e mais! Fui tomado por um desejo incontrolável de comer aqueles pequenos pedaços de gelo. Ele vendo que eu estava aprovando sua comida, deu um curto sorriso e se sentou na minha frente em sua poltrona. Após eu terminar minha refeição, perguntei a ele como faria para sair do reino de gelo, ele com um olhar triste disse que eu não poderia sair de lá. Eu então me desesperei. Não queria ter o mesmo fim dos os outros humanos que morreram congelados, eu tinha que sair daquele lugar. Ele então começou a me contar o porquê eu não poderia sair de lá. Ele disse que o grande reino de gelo já existia há muito tempo e que muitos humanos já passaram por lá para poderem se salvar, mas seus esforços foram em vão. Ele me contou também uma lenda, a qual diz que há muito tempo atrás uma linda rainha de cristal deu a luz a uma pequena menina sem nome. Essa princesa cresceu em seu castelo de gelo. Mas, sua beleza era tão chamativa que o rei do reino do fogo disse que quando ela atingisse a idade de 17 anos ele iria destruir e devastar com todo o reino gelado! Seria realmente o fim do reino de gelo. A mãe preocupada com a segurança da filha ofereceu sua vida em troca da dela, mas o rei do reino de fogo não concordou e matou a rainha de cristal, deixando assim a princesa tomar conta do reino. Desde então, o reino começou a passar por problemas, animais começaram a morrer, grandes plantações de flores e frutas de gelo começaram a derreter e assim, o reino começou a morrer. A menina então sozinha e presa em seu grande castelo de gelo achou um livro. Nesse livro dizia que seu pai, o rei gelado, teria feito uma bela espada mágica de prata, e que jogara ela no mundo dos humanos, e que quando a hora certa chegasse um guerreiro valente e destemido iria vir a esse reino portando a mesma espada mágica de prata, e que só ela poderia matar o rei de fogo. Tendo a princesa lido essas palavras iniciou uma busca incontrolável pelo guerreiro e sua espada, espalhou a noticia no mundo dos humanos, e a noticia atravessou reinos mágicos e não mágicos, montanhas, campos, florestas... E junto com essa busca ela fez uma promessa: A pessoa que fosse a portadora da espada de prata mágica iria ter vida eterna e se casaria com ela e se tornaria rei do grande reino de gelo! Foi então que muitos cavaleiros chegaram ao reino de gelo, a grande maioria vinha com seus cavalos e exércitos, muitos deles tinham também linhagem real, mas nenhum deles possuía a espada de prata, eles eram então congelados pela pequena princesa sem nome. Ao ouvir essa lenda entrei em choque. Senti-me como se fosse o próprio guerreiro! Pois eu portava a espada mágica de prata! Eu retirei minha espada e mostrei ao pequeno ser, para meu espanto, ele confirmou, e disse que aquela era a espada mágica de prata. Eu então fui tomado por uma sensação de medo e ansiedade, pois ele me contara também que era o ano em que ela completava seus 17 anos! E que eu era o guerreiro, o qual iria ser rei do grande reino gelado! Eu estava confuso, era muita responsabilidade empunhar uma espada e matar o rei de fogo. Aquilo era mais aventura do que eu buscava, era mais emoção do que eu podia suportar. Aquilo já se passara dos limites. O que um menino humano que vive em sua pequena casa na fazendo estava fazendo em um reino mágico? O que um simples camponês iria fazer como rei de um reino? Eu parei, pensei e conclui: eu não podia fazer nada. Aquilo realmente não era a aventura que eu buscava. Eu então abri a pequena porta de trinca gelada, e saí. O pequeno ser me seguiu se lamentando para mim, querendo que eu fizesse algo por eles, pelo seu reino, mas eu apenas ignorei. O pequeno ser me seguiu até ao grande portal de gelo, quando chegara ao limite ele parou, ele não podia atravessar se não ele seria destruído. Eu atravessei o portal e saí daquele território frio e melancólico, deixando para traz o olhar triste do pequeno ser, deixando para traz um castelo com sua princesa sem nome, deixando para traz uma guerra, deixando para traz um reino.

Autor: Rangel Amon

Rangel Amon
Enviado por Rangel Amon em 26/12/2013
Reeditado em 02/12/2017
Código do texto: T4625545
Classificação de conteúdo: seguro