A fúria do Boi Tatá

DICA DE LEITURA: A fúria do Boi Tatá.

Esse conto poético (narrada pelo autor) foi baseado a um fato acontecido durante o tempo em que o personagem principal trabalhava na Cia Vale do Rio do Doce. O relato tem como pano de fundo, a mineração com toda a sua peculiaridade que havia na época relacionada ao setor de produção e pessoal das minas, controlado pelo seu maior órgão administrativo o escritório do Areão. Uma história inusitada onde a vida cultural em meados da década 70 ganha corpo e vida, ora com muito humor, ora meio triste e cômica, mas que vale a pena ser lida para nos situar em um tempo que já passou.

Os personagens apresentados, que dão vida à trama, são fictícis, mas baseados em situações reais. Os diálogos onde acontece parte da aproximação das personagens, com o seu meio de interação vem retratar de forma única aquele momento vivido pelo autor.

Quem diria?

Quem poderia dizer ou mesmo imaginar que a indústria do extrativismo de minério de ferro, por ser duro mais que enrijecido render-se à subjetividade de um simples homem que, por algum instante, deixou de ser de ferro, ao gritar que doeu? O certo é que nem ele mesmo sabia explicar o quanto era tamanha a sua dor, que nele doeu a ponto de sentir na carne o corte pela faca cega que não corta, quando muito esmaga a virtude desse homem que tinha um dos sentidos mais que sensível, ao ouvir os acordes sonoros oriundos, a harmonia do Acordeom.

Ainda com pouca prática e domínio do instrumento, mas já deslumbrava feito criança, ouvindo e tocando o que há de melhor das inúmeras cantigas de roda e outros ritmos também, sem deixar de incluir forró pé de serra, que por sinal vivia o seu grande momento de sucesso com o Rei do baião - Luiz Gonzaga de Ouro. O seu maior exemplo de um Sanfoneiro, o seu grande ídolo.

Essa sua vontade em relação à música, aumentava quando alguém o convidava para participar de um evento na cidade. Ele começava a se sentir o tal. Aliás, já pensava ser um dos melhores sanfoneiros da região. Sempre com muito amor e dedicação na escolha de um bom repertorio, no intuito de agradar. Procurava se esforçar o máximo para participar cada vez mais das festas que com freqüência aconteciam e com isso, mantivera uma vontade que era constante de tocar o seu preferido e admirado instrumento.

Com essa sua vontade mais do que maluca, por achar que todos estavam gostando da sua música. Santa ingenuidade! - de pensar assim, em relação ao seu chefe, por exemplo, detestava quando ouvia falar de alguém que gostava de cantar ou tocar qualquer instrumento, mas nem por isso ele desistiu. Era uma pessoa resistente e determinada. Não abandonava a idéia de tocar a sua sanfona, nem mesmo sabendo que o seu chefe odiava música e o tal instrumento que gostava de tocar. Era o chefe por muitos temido, por ser uma pessoa ruim e severa. Francisco Belarmindo, mais Conhecido como “Chico coisa ruim”. Logo quando alguém avistava vindo aproximando dizia, cuidado com a coisa Ruim, ele vem lá, vamos todos tomar cuidado. _Oh! Meu Deus. Pra muitos a sua presença era como a morte, um inferno. Pior ainda! Se de alguém ele não tivesse nenhum tipo de empatia que fosse positiva, um bom exemplo disso só para simplificar essa situação: Geraldo boa Morte, vulgo o Boi Tatá, para quem não sabe o significado dessa expressão um tipo de boi furioso e bravo. Que apelido é esse? Para muitos parecia ser estranho, porém ele não se importava, bem-aceito por se tratar de um apelido recebido dos companheiros e amigos de trabalho, que o apelidaram de Boi Tatá. Para os que não o conheciam casava o seu apelido como sendo uma pessoa desajuizada e ignorante, ao mesmo tempo irresponsável sem muito se preocupar com tanta coisa assim.

Portanto, só à aparência, com ele havia outras virtudes. Elogiado pelos colegas por ser um fiel companheiro, em virtude da sua forma leal de ser. Agora, enquanto o ofício da sua profissão um operador de máquinas pesadas fora de estrada, que procurava executar a sua função com muita eficiência, pois tinha consciência das exigências por se tratar de um setor que exigia o máximo de produção.

Se há alguém que ainda se lembra dos antigos causos engraçados que com frequência aconteciam e que tenha ficado na memória de algum companheiro da época, que fala das proezas vividas pelos operários chamados homens de ferro, pois então, trata-se de um bom momento para ser relembrado daqueles tempos. O momento é único para refletir sobre essas histórias que será o assunto central desse conto poético. Cujo enredo conta a verdadeira história de um homem que gritou enquanto doeu. Esse a contecimento, em princípio, meio triste com situações cômicas, mas que nem por isso, perde o seu humor. Ora visto, com um final feliz... Em certos momentos de maneira bizarra, que só vai saber mesmo quem sente a ação da imposição daquele que usa o poder de forma desumana contra uma pessoa desprovida do poder e a maldade, para se proteger desse que se sente o poderoso, o dono da razão. É meio esquisita essa forma de se expressar, porém é a maneira que era usada entre eles, entendo que faz parte da linguagem que compõe esse tipo de vocabulário que se ouvia e falava no pé da serra do famoso pico do Cauê.

Voltado ao assunto, que diz respeito ao tal chefe sem limite, que com certeza não seria nada simpático a Geraldo Boa Morte, menos ainda com esse seu apelido de Boi Tatá. Não deveria ser desse jeito, tampouco no ambiente de trabalho, mas para ele enquanto chefe não importava se havia motivo ou não, tomaria atitude que pudesse punir ou prejudicar sem levar em conta quem iria sofrer as conseqüências. Resultado este que, para ele o chefe, não importaria. Afinal, não seria ele que sentiria o desleixo da humilhação, para saber o quanto é difícil viver os maus bocados que iria de sofrer essa personagem, só mesmo estando no seu lugar o Boi Tatá, para saber o quanto foi doido. Muitas das vezes se sentindo acuado a ponto de chegar ao absurdo de ser ameaçado a ser mandado embora da empresa. Quando percebemos que a coisa se desvirtua do normal de forma negativa, não tem como achar graça. No entanto, fica visível a tristeza de quem sente, contagiando outros que também ficaram tristes se lamentando dizendo: Ah! Quanta turbulência e maldade. Na verdade, não se sabe de que forma agir, nem ele e muito menos os que solidarizava com seu problema. Quando deparamos com algo meramente injusto seja com quem for, sempre vai haver um tipo de reação. Uns não sabem bem se gritam ou choram, ou se esbravejam da situação, mais do que se espera é normal termos indignação, de certo momento que sentimos oprimidos a ponto de nos desesperar.

Não! Não. Eu já disse que não... Enquanto eu for o chefe quero que todos tenham a mesma opinião que eu tenho, de não gostar de nenhum tipo de instrumento musical. Menos ainda quando se trata dessa Sanfona que uns e outros tocam por aí... Que para mim não tem a menor graça. Essa era vontade do Berlamino o Coisa ruim, que todos o seguissem tendo os mesmos sentimentos e opinião os quais ele tinha o coisa ruim. Mas manter a sua opinião de não querer e de não gostar e querer transferir para os demais a mesma sensação já era algo quase que impossível de acontecer pelo fato de que a primeira semente estava semeada e nascia com força total. Em função da sua sensibilidade já havia um número razoável dos adeptos influenciados pelo toque da sua sanfona, tanto na sua comunidade e região mais próxima da cidade. Os colegas de trabalho se orgulhavam muito por ter com eles um artista com pseudônimo ou apelido de Boi Tatá. Ele ouvia esses elogios com muita simplicidade, entretanto, não deixava por menos e exibia seu talento tocando a sua sanfona a ponto dos que tecem elogios a seu respeito dizerem - eita sanfoneiro da peste, que toca sem dó e piedade essa sua sanfona, ou melhor, seu acordeom oito baixos pé de serra, coisa de nordestino cabeça chata, peculiar a sua origem de ( Caculé ) interior do nordeste.

Sabemos que nem tudo são flores. Instintivamente quem deveria de gostar por imaginarmos de ser um pouco mais esclarecido em função do cargo que ocupava deveria ser o Francisco Belarmino, o Chico coisa ruim. Em se tratando de um chefe de setor, sobretudo, deveria ser exemplo, o espelho de compreensão de toda a turma, sem entrar no mérito de ser o chefe, esperava-se dele respeitar ou mesmo aceitar as manifestações populares e culturais, entretanto, não era bem assim! Tratava-se de um sujeito bronco sem sensibilidade alguma. Qualquer comentário a respeito de arte classificava-a logo como besteira e muita bobeira de quem gosta, agora imagina ouvir uma declaração tipo essa de uma pessoa como ele ocupando o posto de um chefe, no qual todos esperam ter um pouco mais de cultura e sensibilidade, logo dizer que não gostava de música? Menos ainda de quem gosta de cantar e tocar seu instrumento? O certo seria se não relacionasse as coisas alheias à sua administração enquanto chefe seja lá com quem fosse. Mas nem por isso, ser ou não ser um sanfoneiro para ele o chefe já bastava para se indignar, porém para esse sanfoneiro já considerado uma pessoa folclórica desse seu meio com atitude espontânea já não levava tanto em conta o que pensavam a seu respeito, por achar que nem Cristo agradou a todos. O tempo passava seu jeito assumido de ser e agir não. Acreditava ser primordial para a propagação de a sua música ser sempre autêntico, talvez seja esse um dos motivos porque, de forma rápida, veio o reconhecimento das pessoas, diga-se de passagem, com certeza foi o que lhe proporcionou de maneira repentina o seu sucesso na cidade e região. Sempre bem requisitado para tocar nas festas juninas: nos bailes, nos botecos e tantos outros lugares que possa pensar de bom e estranho: o ponto dos aflitos, o Cai n’água, até mesmo nas zonas boêmias. A cidade vinha crescendo voltado a época de forma tímida com o surgimento de novos bairros, um bom exemplo disso o bairro Caminho novo. A origem a esse nome de Caminho Novo é tão original a esse lugar, visto como um caminho de ligação para outros lugares, mesmo com o crescimento de outros bairros adjacentes não muda tanto assim com a atualidade, continua sendo um bairro de ligação aos demais. Uns anos à frente passa a ser um dos bairros com mais opção de diversão, com aparição de bares e várias boates, zonas boêmias. E para não ficar no vácuo vou citar algumas delas: Sozinho, Maria escurinha, Arlete, João Luzia e capim gordura. Creio serem essas as mais famosas se não me faltou a memória. Os nomes faziam referencia aos seus proprietários, lugares onde a boemia era freqüente na velha e ainda pacata Itabira.

Nesse tempo tudo corria muito à solta, sob influência constante de pessoas que não paravam de chegar à cidade. E nesse meio infiltrado a essas pessoas lá estava o nosso “Boi Tatá” com toda aquela gente, se relacionando e aprendendo sempre novas coisas.

Talvez seja esse o grande motivo do seu chefe “coisa ruim”, ter uma implicância a mais a seu respeito. Em suas avaliações era constante a sua perseguição, pois o que mais observava era a questão do seu comportamento diante de um perfil, o qual ele não gostava e se justificava dizendo que era uma questão da empresa, uma norma interna a ser seguida sem exceções, visto como regra para todos os funcionários. Segundo ele, o chefe, sob a exigência comportamental, os quais deveriam ser exemplares e dizia não bastar ser trabalhador e produtivo, que, aliás, é um mérito inegável de Geraldo Boa Morte, certo famoso, Boi Tatá. Queira sim, ou não, deve reconhecer que com ele não faltava disposição no trabalho, sempre bem-disposto a qualquer coisa que o mandassem fazer. Orgulhava-se muito de ser um operador de equipamento fora de estrada, o antigo (D- 8 Caterpillar), um trator que tinha por finalidade abrir praças, num formato de bancos escalonados feito plataforma, área de escavação na mina aonde trabalhavam as escavadeiras lotando os gigantes fora de estrada atualmente maiores ainda, que, à sua volta por todos os lados, um enorme aglomerados de operários trabalhando a todo vapor, batendo metas e mais metas de produção, juntos no pé da serra, num ritmo que só parava quando ouvia o apito da sirene avisando que era hora para o almoço ou jantar. Se não, para o tradicional revezamento troca de turnos de forma ininterrupta de um turno para outro. Há um tempo não distante, bem no inicio da exploração o mecanismo ainda era marreta na bigorna quebrando mataco; para quem não sabe, pedra grande de minério de ferro. Um pouco à frente carroças e burros para puxar a produção lotada a garfo de aço e pá, alavancados por punhos fechados movidos a gritos tipo ferrão estimulando os que puxam e empurram num movimento somando força na trilha do progresso erguendo os sonhos.

De uma coisa é certa, a rádio peão aumenta, mas não inventa, é uma tendência ela noticiar o que há de mais trágico, em primeira mão tudo que ela notícia tem um fundo de verdade, com menos ou mais dias acaba acontecendo. Pois bem, a notícia que rondava na boca da rádio peão era que o Jacaré estava abraçando sem pegar e, a qualquer momento iria de abraçar mais um. O clima se tornou tenso de muito terror, por ninguém saber quem seria a próxima vítima. Nesse ar de desconfiança e tantos mistérios não havia outra coisa, se não os murmúrios de forma que, um aqui, outro ali, todos querendo informação. Os mais apressados jogavam verde para colher maduro era o mesmo zum, zum, zum, tentando adivinhar quem deveria ser o infeliz por circunstância dos fatos; uns já desconfiavam que pudesse ser um companheiro mais chegado da turma, até mesmo arriscavam alguns palpites, será o amigo Boi Tatá? Esse tipo de pergunta acontecia de ouvir dos mais chatos e bajuladores, que apostavam ser ele a bola da vez.

As perguntas não se calava. Todos interessados em saber sobre o ocorrido de verdade, quando um e outro indagava sobre o assunto os boatos sempre estava com os mesmos: - logo chega um e outro perguntando de maneira assustada o que está acontecendo por aqui minha gente? Que tumulto é esse? Quem pode explicar tal coisa? Eram essas as indagações que não paravam de ser feitas pelos mais sensatos que não aceitavam tamanha injustiça.

Mas, entre tantos outros, havia o mais conversado para não dizer o fofoqueiro de plantão, Pedro fuxico era um deles que ficava escondido pelos cantos a disseminar o seu veneno com a sua provocação: vai ser ele sim! - que vai ser mandado embora da mamãe Vale do Rio Doce. - ele quem? - Quem te disse a respeito? - Ele respondeu cinicamente - eu sei! Mas, não vou dizer. Aliás, não conto mesmo! Nem que a porca torça o rabo, mesmo se ela for rabicha, mas não conto. Pelo menos por agora ele dizia, porém muito antes já sabia quem seria a vítima e quando ele se lembrava do seu segredo dava boas risadas, ainda em voz baixa e dizia bem feito para esse filho de uma vaca, esse tal de Boi Tatá.

Muito atento e já repudiando aquelas atitudes, outro apontador chamado de João Simão, que também não escapou da turma por receber também o seu apelido de Nego Tim, que já havia percebido aquele ambiente hostil ao contrário do outro apontador por ser ele uma pessoa querida e respeitada pela turma, que dizia ao outro apontador que já não conseguia enganar mais ninguém, por ser um cara malvado. Nego Tim voltou a dizer você acha que os outros não ouvem e nem desconfia de você? E afirmou é claro que sim! - que maldade a sua… Olha cuidado! hem... Se você continuar desse jeito quando morrer só vai te restar o inferno para você queimar na vida eterna. Mesmo com medo e muita desconfiança por saber com quem estava se tratando fez seu breve comentário: tem razão de todos os outros colegas te chamarem de fuxiqueiro e bajulador, foi finalizando... Você é um língua de trapo. Uma coisa é certa, onde há fumaça há fogo. Todavia, não demorou tanto para o fofoqueiro língua quente transmitir a notícia que ele já sabia, porém os demais desconfiavam só não tinham certeza, mas que afinal a partir daquele momento era de conhecimento de todos de maneira oficializada. Sem ter muito que esconder expressava um ar de felicidade ao imaginar que era verídico que o Boi Tatá, seria crucificado. Logo lança o seu grito de satisfação e falsidade: Eu não disse que era ele! — Quem? — Quem? O Boi tatá! - naquele momento então alguém disse... O bicho vai pegar.

Volta o bajulador o puxa-saco dizendo eu sabia... Não quis é dar certeza que era ele. Ficam me criticando chamando por ai... De safado e bajulador e outras coisas mais... Pedro fuxico, o fofoqueiro. Porém, não estou nem ai com vocês que dizem me detestar, um aviso, cuidado comigo... Eu sou o apontador de toda essa turma aqui, logo alguém diz, um tremendo puxa saco do Coisa Ruim. Por ser assim, saiu dando pulo de alegria e dizia a quem perguntasse eu acabei de tirar o seu cartão do quadro de ponto, a mandado do seu chefe Coisa Ruim. E concluiu: - bem-feito pra ele. É um desnaturado, bem fez o Belarmino, Coisa Ruim mandar esse filho da puta embora. Isso sem nunca a vítima ter lhe prejudicado ou feito algo de mal a ele. Quando alguém perguntava ao Coisa Ruim, o porquê de tudo isso, mandar um pai de família embora do seu trabalho, ele logo retrucava mandei e pronto: mandei sim! - e já foi tarde... Por causa daquela diaba da sua sanfona, que nunca gostei e com isso passei a detestá-lo também, tudo isso acontecendo numa tarde.

No outro dia sem bem saber do que estava acontecendo, Geraldo boa Morte, o Boi Tatá, começou a ouvir os ti, ti, ti na condução, o manda brasa, um tipo de transporte para levá-los ao trabalho. Com tantos murmurinhos de um e outro ficou curioso em querer saber também do acontecido. Ao tomar conhecimento logo bem pela manhã ao chegar ao local que todos usavam para bater o seu ponto, avistou certo tumulto generalizado e foi logo perguntando: - O que é isso ai minha gente? - Uai… Que zum, zum, zum, é esse? - Logo vieram as pessoas mais próximas a ele no sentido de boas considerações que, com muita tristeza, tiveram a coragem de contar-lhe o porquê de todo aquele tumulto. Espera amigo que iremos te contar sobre o acontecido, mas você vai ter que nos garantir que vai ser forte e muito forte, para segurar o tranco. Pronto para ouvir? Então, vamos te dizer sem a intenção de te esconder nada do ocorrido, ou melhor, do acontecido viu... Pois então! segura as pontas que iremos de te contar e será agora, tem que ser forte mesmo para ouvir. Você foi mandado embora da empresa! Como assim?- Da empresa Vale do Rio Doce, naquele instante o Boi Tatá, que não era comum com ele bambeou as pernas meio sem jeito abanou a cabeça bem sem graça, gum, gum nou, comsigo mesmo em voz baixinha dizendo pra si mesmo, é muita injustiça o que fizeram comigo viu gente?- Todos responderam infelizmente é o que aconteceu estamos muito tristes responderam os amigos, ainda sem dar conta da tamanha injustiça que estavam sofrendo meio sem palavras um dos seus melhores amigos: Pedro Barganha lhe disse acorda amigo Boi! o que está acontecendo é com você, ele respondeu - é mesmo comigo? - É uai... Preste atenção.

Ele respirou fundo, logo começou a mudar de cor, bufava e contorcia, tremia feita vara verde quase sem cor, com um sintoma já de muita raiva e pavor. Por alguns segundos travou no silencio numa luta interna consigo, demonstrando uma aparência cada vez mais esquisita, fazendo jus ao seu verdadeiro apelido de ser por um raro instante um Boi bravo, um verdadeiro Boi Tatá. Alterou sem controle algum, mugia e berrava em formas de gritos, esbravejando em busca de uma explicação: o porquê do seu cartão não estava no quadro? -Quando de forma bem sinistra, Pedro fuxico, o tal fuxiqueiro apontador que, pelos cantos com um e outro dizia: foi ele sim! - o Boi Tatá que foi mandado embora minha gente, retrucava com voz de autonomia de quem ironizava dizendo - eu lamento muito se ainda existe alguém de vocês que realmente não sabe, disparou Pedro fuxico, com um ar de satisfação se achando. Inclusive, perdendo a noção do perigo que corria, quando ele mesmo quase estourando de felicidade fez questão de oficializa a triste notícia diretamente para o então, Boi Tatá.

Enfurecido com a notícia já bem nervoso indagou com Pedro fuxico: quem me mandou embora seu porco, Safado. Conta-me qual foi esse desgraçado que fez isso comigo de me mandar embora seu infeliz, me diz quem? Seu fofoqueiro de uma figa; diz-me quem mandou - me embora seu porco e fez você tirar o meu cartão do quadro? Seu pilantra excomungado. Meio assustado Pedro fuxico foi logo dizendo sem querer, pois já estava abotoado à sua garganta, me diz seu infeliz quem? - Rateando já cagando as calças ele diz, foi o seu chefe: Francisco Belarmino, de quem você bem sabe o “Coisa ruim”. Cinicamente ele fingia ao dizer eu achei que você já sabia – Mas foi ele sim! O “Coisa ruim” que mandou tirar o seu cartão do quadro e digo mais, te mandando embora da empresa. Naquele instante misturou as duas coisas o Boi Bravo, com o Geraldo boa morte. Ai... Não teve como conter se não fosse bem seguro pelos amigos, que de todas as formas queria encontrar o “Coisa ruim”, seu chefe para tirar satisfação, dando a entender que não seria apenas mais um diálogo.

Certo tipo de acerto de contas, podendo muito bem tomar proporções de difícil controle todos ali presentes pressentiam um cheiro de merda ameaçando uma grande desgraça, isso se a turma do deixo disso não o controlasse. Imagina o quanto essa intervenção foi necessária. A turma do “disse me disse”, interveio segurando-o a pedir-lhe que tivesse muita calma naquela hora, temendo algo pior tipo uma briga corporal, que se bem acontecesse nem capim no local nasceria mais.

Deve-se, no entanto, reconhecer que, pelo estado em que se encontrava o Boi Tatá, devido a tanta ira, todos temiam a uma confusão que poderia ser de forma generalizada por acontecer ali. Principalmente, se levado em conta que este fato poderia prejudicar mais ainda a situação do colega, pois, havendo agressão física, os danos seriam maiores para parte dos envolvidos, colocando em risco toda uma situação, além de comprometer os seus direitos legais de um trabalhador honesto e digno, envolvendo mais alguns ali presentes.

Diante da iminência de acontecer algo de mais grave, tentavam impedir e rogavam a Deus, que o acalmasse. Passado certo tempo, com a insistência dos envolvidos, ele foi se acalmando, na medida em que os amigos lhe pediam. Porém, não deixavam de questionar a todo o momento. O que estão fazendo comigo e minha família. Vejam bem amigos! Eu não me conformo com essa tal covardia que estão fazendo comigo agora. O que fazer diante desta situação? - Sem trabalho! - Com mulher e filhos ainda pequenos e não parava de se queixar. O que é isso? – Oh, meu Deus! o que será de nós agora? - Nesse meio tempo, a ponto de fazer uma loucura, mesmo com tanto apoio vindo dos verdadeiros amigos, nasce com ele uma boa ideia. Logo começou a dizer para si mesmo, bem baixinho no seu intimo, vou para casa agora, nesse momento, quando lá chegar pego a mulher e os meninos e vamos todos direto para o escritório do areão e quando lá chegarmos eles vão conhecer a verdadeira fúria de um Boi Tatá. Dito e feito quando lá chegarmos vamos por para quebrar, eles vão ver com a gente com quantos paus se faz uma canoa.

Já aparentando bem mais tranquilo foi dizendo aos colegas de forma sincera, obrigado meus queridos amigos! por me acalmar. Fiquem tranquilos que estou dizendo de forma lúcida, vocês podem me soltar estou certo de tudo e mais ainda consciente de qualquer coisa que irei de fazer, por isso, mais uma vez fiquem tranquilos agradeço a todos por tudo de bom que terão me feito e digo mais... de coração, obrigado! e podem me soltar, por favor! - com tantos pedidos e suplicas convenceu a todos em soltá-lo, pois, já se sentia suficientemente calmo e sabia bem o que faria, enfatizou com os amigos podem estar certos que vou direto para casa, ver a mulher e os meus filhos.

Ao chegar próximo de sua casa, foi logo gritando o nome da sua esposa: Maria! Maria. Pega os meninos Maria e vamos todos agora nesse instante para o escritório do Areão. Naquele momento ela estava com o seu rádio a pilha ligado ouvindo as suas músicas de maneira bem distraída, mas trabalhando e cuidando das coisas de casa, acompanhada dos filhos, logo se assustou com todo aquele desespero do marido, não sendo tão diferente também deu seu grito de misericórdia. O que é isso Geraldo? – O que está acontecendo homem? - Mulher, Não me faça nenhum tipo de pergunta neste momento, não sei como te explicar nada. Estou banda ôh, tipo louco... Com tudo que está me acontecendo, mas só poço te dizer uma coisa respondendo a ela de forma romântica e carinhosa, meu bem! não tem como te dizer nada agora, eu só te digo que eles vai ver com nós e vão se arrepender. Eles quem Geraldo? - Pois, falava consigo mesmo, repetidamente dizia eles vão ver... Como podem dar autoridade a uma pessoa despreparada igual a esse traste e imundo como todos bem sabem, “Coisa Ruim”, que quase ninguém gosta dele, Maria! - um sujeito feito esse porqueira, fazer isso comigo, ou melhor, com a gente. – Me mandando embora da empresa sabendo muito bem que sou um pai de família, me mandando embora desse jeito sem bem explicar o porquê dessa sua malvadeza que está fazendo com nós, pense melhor mulher. E repetia as mesmas frases. Isso mesmo, inúmera vezes. Pensa bem dar toda autonomia para um sujeito tipo esse “Coisa Ruim”, em mandar um pai de família embora desse jeito, é ser muito cruel... Pode saber que ele é uma pessoa que não tem pai e nem mãe, o pior! - sem Deus no coração. Mas agora pensar que vai ficar assim desse jeito, está ele muito enganado. Pois não vai não... Voltou a falar com Maria! - Ao chegar lá eles vão ver com nós... Quero que eles vejam você Maria, com esse seu barrigão, mais os meninos e começou a dizer os nomes deles, mas não contava em não a lembrar o nome de cada um deles, por estar emocionado só conseguia lembrar o nome de dois, os demais não dava para entender, pois gaguejava tanto que ninguém compreendia o que estava dizendo, somente o nome de dois. Tino Mendes e depois Ana Vera, sendo eles os dois mais velhos. O restante que ficou sem dizer por não lembrar, gaguejava tanto que parecia babar feito um Boi Tatá.

Já sem controle algum, a ponto de não se lembrar do nome dos outros seis filhos. Que parecendo ser uma escadinha entre um e outro, num total de oito filhos. Meu Deus! - quando lá chegaram, todos começaram a chorar e gritar todos ao mesmo tempo. Gritava e chorava sem parar e, mais subiam e desciam as escadas, subindo e descendo sem parar como fosse um tobogã, daqui pr’ali, de lá e pra cá, por todos os lados dos corredores.

Não deu outra coisa foi aquela loucura, mulher e meninos que gritavam e choravam todos ao mesmo instante. Ele o Boi tatá, ajudando a fazer o coro de lamentos, me mandou embora né, agora vão ter que tratar de mim, Maria minha mulher e meus oito filhos já contando com o que ia nascer e dizia, sem emprego como posso levar para eles o pão de cada dia. Com fome é que eles não podem ficar e, nem eu... Não sou preguiçoso, ao contrário sou um trabalhador digno de mim mesmo. Com isso toma gritos e choro de mulher e meninos por todos os lados.

Naquela época o escritório do Areão, funcionava como um escritório central da empresa Cia. Vale Do Rio Doce, em Itabira, onde uma boa parte das decisões eram tomadas por aqui mesmo. O departamento de pessoal e administrativo da empresa funcionava quase por completo nesse mesmo local. Com isso imagine só, a alta chefia da empresa vivendo uma situação desta, sabem bem como é. Chegavam e saíam pessoas de todas as importâncias. As visitas eram constantes de alguns políticos por se tratar de uma empresa com o regime ainda estatal. A todo tempo havia reunião com executivos que vinham tratar de negócios relacionados aos interesses da empresa. É muito óbvio que se tratava de um ambiente que funcionava no mais calmo e total silêncio. Não permitiam nada que pudesse atrapalhar a ordem natural desse ambiente. Não é desmerecer, mas não havia a mínima possibilidade da permanência de pessoas que pudessem vir atrapalhar as boas condições de trabalho.

Num certo momento, a inquietação chegou a ponto de chamar a atenção de todos que lá estavam trabalhando. Evidente que com aquele clima hostil de momento, as coisas foram tomando certas proporções de maneira rápida e desagradável, apontam de chegar a uma situação quase que incontrolável. Mas aí vem a grande pergunta, como agir num momento igual a esse? Primeiro uma situação inédita nunca vivida por ninguém, depois por se tratar de crianças e uma mulher acima de tudo grávida, demonstrando uma gestação bem avançada próxima a dar a luz de mais uma criança.

Com o acontecido, foi gerando um ti, ti, ti, generalizado que não parava mais, que acabou chegando ao conhecimento de alguns chefes de departamento, até ao nível máximo que era ocupado pelo superintendente. Não se trata de uma opinião pessoal de quem narra esse conto poético. Todavia, de um homem honrado, um reconhecimento que vai além da empresa na qual trabalhou por muitos e muitos anos. O que percebe são considerações feitas por diversas pessoas dizendo ser ele um ser humano exemplar com a sua conduta de vida. Quanto ao ofício de ser um executivo, trata de um profissional altamente competente, que galgou todos os degraus como funcionário de carreira na empresa, com muito mérito chegou ao cargo de superintendente e o mais alto posto de presidente da Vale do Rio do Doce. Uma trajetória de profissionalismo construída com bastante sucesso. A sua relação com os seus subordinados era algo de muitos elogios, um ser simpatizante que naturalmente foi criando relações efetivas com todos os funcionários da empresa, por preocupar com as questões de melhoria de um modo geral. Por essas e outras razões foi tornando se um cidadão admirado por todos, demonstrava ser uma pessoa bastante sensível às questões que fossem ligadas tanto ao quadro de funcionários da empresa, quanto ao povo da cidade. Com tantas ações prestadas foi obtendo o respeito e carinho invejável dos Itabiranos.

Voltando ao assunto, pertinente ao que estava sendo dito antes, só via portas e mais portas se abrindo e fechando, o comentário era geral, uma loucura, ver aquele senhor, mais aquela senhora, acima de tudo grávida com mais crianças pequenas em sua volta usando das mesmas impertinências, não é fácil de entender. Tornava tudo muito real e constrangedor para ambas as partes, por se tratar daquele local o qual já foi mencionado. Sendo eles ou não, culpado daquela situação. O senhor que ali estava com a sua família se expondo de maneira humilhante, desde que chegou a sua casa e decidiu passar por essa situação, por ele deixava de ser o Boi Tatá, para voltar a ser o Geraldo boa Morte. O cidadão que reivindicava nada mais que o seu trabalho de volta, para continuar tendo e dando dignidade a sua família. Mas que já se orgulhava de si mesmo e mais ainda da sua família, por considerar um objetivo alcançado, pois o que eles mais queriam é mesmo chamar atenção para até então tomarem consciência dos seus problemas que viviam de maneira desrespeitosa. Não deu outra coisa ao deparar com aquela situação com crianças e mulher chorando em soluços, pedindo a volta do emprego do esposo e pai daquelas crianças, que diziam temer em perecer de necessidade, se não voltasse o pai ao trabalho.

Vejam bem as coisas acontecia de maneira tão surpreendente que foram envolvendo as pessoas de tal forma que elas foram perdendo a noção do que deveria realmente fazer, de uma forma súbita e curiosa o inesperado veio acontecer quando o superintendente abre a porta da sua sala, que dava acesso para o corredor, ao abrir depara com tamanha desordem ao ver mulher e crianças gritando a mesma coisa, o mais incrível que no instante que ele abre a sua porta, todas as outras portas das diferentes salas se abrem também, parecendo ser um efeito dominó, muitos ao deparar com aquela situação literalmente de espanto, alguns ficaram estáticos feitos estátuas paralisadas sem ação. Menos superintendente das minas, ao ver tudo aquilo não perdeu a sua serenidade e nem a iniciativa no instante de agir. Mesmo sem querer era quase inevitável não presenciar o mesmo escândalo, visto que todos estavam num ambiente nada favorável as circunstâncias, logo ao ver aquela situação refletiu de forma rápida do que possa imaginar, que se diz de passagem desagradável. Se tratando de um local onde atuava a alta gerência desta conceituada empresa, a grande pergunta é alguém deveria ter uma iniciativa mais que rápido para evitar maiores transtornos, surge à maior luz de maneira simples e natural, sem impor mais pânico do que já havia ali. Sem esbravejar, pediu sei lá quem... Que o levasse a sua sala, ao contrário num ar de muita gentileza, não se impôs de maneira alguma ao ver aquela gente desatinada, que a princípio queria muito saber o porquê de tudo aquilo. Sem nenhum tipo de duvida procurou agir direto ao assunto quebrando todos os protocolos possíveis e impossíveis, por não se tratar mais de uma questão de sua alçada ou obrigação, mas que infelizmente aconteceu.

Essa sua atitude fez confirmar sobre aquele homem generoso e sensível e muitas das vezes bem-humorado, não mediu conseqüências ao pedir a gentileza a sua secretária por sinal muito atenciosa, Sandra Lins. Dirigiu-se a ela com fineza, que fizesse a ele um favor, de trazer a sua sala o mais rápido que ela pudesse aquele senhor de imediato, chame-o imediatamente. No instante seguinte, o Sr. Geraldo Boa Morte, foi surpreendido por outra pessoa que se atreveu puxando-o pelo braço de maneira estúpida, esse tal sujeito era o contínuo fazedor de café que muitos o chamavam de preguicinha, que também não deixou por menos, chamando-o bem baixinho de doido e maluco, para completar de dissimulado. Nesse momento Geraldo Boa Morte, se conteve ignorou dizendo a essa pessoa o preguicinha uma única coisa, você também me parece ser mais um desses sem coração, mudou seu olhar de direção e ponto final.

Nesse mesmo instante chega a secretária Sandra Lins, que percebi não gostar nada do que via, mas que também ignora a tal pessoa dizendo a ele, por favor, senhor! pode soltá-lo, que já vamos atendê-lo e assim foi. Assim que ele entrou na à sala, de maneira surpreendente o tal superintendente, o cumprimentou e em seguida convidou para sentar, percebeu o quanto aquele moço de nome ainda desconhecido resolve a perguntar qual o seu nome, por favor, senhor! Ele respondeu firme: o meu nome é Geraldo Boa Morte. Mas os meus colegas de trabalho só me chamam de Boi tatá, mais tranquilo esboçou um meio sorriso e disse, é meio engraçado doutor da maneira que eles me tratam, mas é algo que nunca me importei com nenhum deles. Por perceber que é uma forma carinhosa que eles têm comigo. Naquele momento o doutor e superintendente, sutilmente fez um ar de sorriso também e disse a ele, pois bem, me diz o porquê de tudo isso senhor Geraldo? Você aqui nessa situação com mulher e filhos me desculpa em lhe dizer, mas parecendo fora de si e desatinado. Por favor, não me esconda nada, pois quero saber a razão de tudo isso, ou seja, enfatizou. Você nesse alto alvoroço parecendo um ser incomum com uma senhora e várias crianças gritando de todo jeito sem parar. O Geraldo Boa Morte passou as mãos no rosto tentando diminuir a melancolia profunda que sentia, depois de dois suspiros ergueu seu semblante e começou a dizer: é simples doutor, dizer-te a minha verdade.

Em todos esses anos de trabalho prestados a essa conceituada empresa, na qual eu gosto muito de trabalhar, desde inicio que me ingressei aqui na empresa, tenho sofrido todo o tipo de descriminação e preconceito, sempre perseguido de forma injusta sofrendo constrangimento, que você possa imaginar simplesmente doutor! por gostar de música e de tocar o meu instrumento que tanto gosto doutor! houve uma pequena interferência por parte do doutor: - Que instrumento é esse que o senhor gosta de tocar senhor Geraldo? - Ele respondeu: - minha sanfona oito baixos doutor, ela é tudo que eu tenho para me divertir. Agora, só por que o meu chefe não gosta de música e nem do meu instrumento e menos ainda de mim, por causa de tudo isso fica me perseguindo de todas as formas, a ponto de chegar ao absurdo de me mandar embora da empresa por questões alheias, totalmente minhas e particulares, que não dizem respeito ao meu trabalho que faço com o maior empenho e dedicação. Voltou a dizer me vejo uma pessoa responsável doutor! por isso não mereço ser mandado embora sem motivo algum, agora sem o meu emprego como vou fazer eu e minha família doutor? - Vamos agora passar por necessidades das coisas? Não é justo doutor! - pois então, devolva-me o meu trabalho para que eu e minha família possamos viver com dignidade. É por isso que estamos todos aqui da forma que o senhor está nos vendos doutor. Estamos sim gritando porque está doendo e mesmo sendo de ferro, não estamos resistindo à tamanha dor. É tudo que eu tenho para dizer. Naquele momento caiu sobre todos um silencio total. Após alguns segundos de inércia, sabiamente o superintendente, percebeu que não se tratava de uma pessoa tão estranha a ele.

Em Itabira havia dois bairros, os quais foram construídos exatamente para abrigar os operários da Vale do Rio Doce na época. O bairro chamado de Explosivo ou pé de pomba; o porquê de dois nomes? De forma preconceituosa algumas pessoas da cidade chamavam os moradores de lá de pé de pomba, em função da terra vermelha que cobria o bairro. Já outro bairro construído na mesma concepção, era chamado de Vila da Conceição. As características dos bairros era algo bastante semelhante em vários aspectos, seus moradores transformaram em uma comunidade de muita união, entre tantas outras coisas que faziam seus moradores, procuravam se divertir na medida do possível promovendo sempre boas festas. Entre tantas festas que eles promoviam uma delas tornou-se a mais tradicional de todas elas, a festa a junina, a festa de São João. Que todos os anos eram realizados na Vila Conceição, compreendida vila um e dois. Com o passar dos anos, passou a ser referência na cidade e região. Vindo gente de todas as partes que possa imaginar, com a sua alta aceitação passou a fazer parte do calendário festivo da cidade e região. Pela grandeza de festa vinham convidados de honra e pessoas ilustres na expectativa de participar do evento, como era de esperar todos os anos, o superintendente era um desses convidados de honra que estava ali para participar com toda a comunidade recebendo toda a honraria a ele desejada.

Por ironia do destino, ali na sua sala, quem? - O mais folclórico animador de todos os anos dessa festa, que reunia todas as classes sociais da cidade, o dito cujo, o sanfoneiro da peste o vulgo, “Boi Tatá”. A partir desse momento de lembranças e relembranças, percebeu que estava diante dele um homem sensível e muito útil, logo de maneira educada e clássica não quis fazer mais nenhum tipo de perguntas a mais a ele.

Superintendente levantou o seu semblante acima dos olhos, para reconhecê-lo melhor. Logo se situou dos vários momentos que presenciou em ouvir também a sua sanfona que ele o Geraldo Boa Morte juntamente com outros músicos formavam uma banda para animar a festa, onde tocavam sobre o extenso palanque construído de madeira, mas que sempre apresentava naquele mais alto-astral que acabava contagiando todo mundo ali presente, com essas rápidas lembranças o fez refletir por um instante, indiferente dos problemas que o levou ali aquele senhor, havia algo de bastante importância a música e toda aquela família com uma senhora grávida e várias crianças se expondo daquela forma que o deixou sensibilizado. Sem deixar transparecer a ninguém o que estava sentindo naquele instante de maneira tranquila e serena procurou adequar uma linguagem de maneira simples, nada de adjetivos e muito menos o tal apelido, pois já sabia qual o seu verdadeiro nome. Sem muito delongar simplesmente pede que mantivesse a calma, pois, tudo seria resolvido da melhor maneira possível, não para ser exemplo para outros, era uma exceção, mas que tomaria todas as providências cabíveis sobre o impasse em relação ao ocorrido. Portanto, primeiro tomaria todas as providências para levar a sua esposa e seus filhos de volta para casa.

Após essa providência tomaria outra iniciativa que através da sua secretária Sandra Lins, que de forma educada atribuiu a ela autonomia para orientá-lo e resolver os problemas, naquele momento Geraldo Boa Morte, bastante feliz e contente se levantou estendeu a mão para esse admirado e inesquecível superintendente, fazendo toda a questão de entrelaçar a sua mão a dele e com os lhos rasos de lágrimas disse quem vai doutor realmente te agradecer muito além de mim e todos aqui presente vai ser essa criança que está na barriga de Maria, prestes a nascer e quando ela crescer saberá também dessa história, pois eu com muito orgulho vau contá-la o quanto você foi importantes em nossas vidas, seremos eternamente gratos e já no clima de adeus ele disse: o nosso muito obrigado! Por tudo doutor. Com a máxima atenção foi conduzido aos finalmente pela Sandra Lins, a comparecer no setor pessoal para de lá ser readmitido o seu retorno ao trabalho deverá ser dentro de alguns dias, outra coisa senhor Geraldo Boa morte, assim que estiver tudo ok! vou sugerir a sua transferência para outra mina, de recente exploração, chamada Jacutinga. Lá com certeza, espero que tudo corra bem e o senhor vai adaptar e possa gostar.

Prevendo um final feliz desse episódio o superintendente de forma gentil, escreveu lhe uma carta após o seu regresso desejando a ele o Geraldo Boa Morte, boas vindas e sorte tanto para ele e toda a sua família e fez uma única recomendação de último. Pediu a ele que procurasse se esquecer do ocorrido e retomasse a vida de forma normal e produtiva, em seu novo local de trabalho, deixando de lado as polêmicas ocorridas. Quanto a sua sanfona que o senhor bem disse oito baixos, que tanto gosta de tocar, não haveria impedimento algum de não poder tocar o seu instrumento e também de cantar. Pelo contrário poderia ele sim! Continuar alegrando o ânimo e a alma das pessoas, pois bem! - quem toca um tipo de instrumento ou canta, os seus males espanta. Informo que Geraldo Boa Morte, vulgo Boi tatá, com pesar veio a falecer em 15 de Junho, de 2012.

Toninho Aribati

Revisão: Geuderson Marchiori

Toninho Aribati
Enviado por Toninho Aribati em 27/07/2014
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