O Vampiro na Livraria


13 de agosto 2014
O vampiro entrou na livraria olhando com curiosidade para os volumes coloridos que foram agrupados em ilhas de gêneros da moda. A antiga ilha de literatura vampiresca não mais existia, fora suplantada por literatura hot, termo genérico que os marqueteiros inventaram para rotular qualquer livro com conteúdo erótico. Stephenie Meyer era apenas mais um autor na prateleira, entre Richard Matheson e Charles Morris. As pessoas estavam perdendo o interesse por vampiros, agora a moda era couro, látex, lenços de seda e chicote. Para o vampiro não era uma boa notícia, ele gostava da literatura vampiresca, gostava de rir das peripécias inverossímeis que os humanos supunham que os vampiros fossem capazes de cometer. Vampiros-fada, vampiros espaciais, vampiratas, vampiros ciborgues, vampiros galãs, vampiros demoníacos, vampiros paspalhos, vampiros-qualquer-coisa, que essa lista vai longe. Os vampiros se distanciaram tanto das criaturas amaldiçoadas que foram em seu início que podiam representar qualquer papel neste mundo pop. Podiam ser bonzinhos, mocinhos, quase angelicais. Tudo era permitido no mundo dos livros.
Ele foi até a prateleira de lançamentos e procurou alguma coisa que lhe interessasse. Pegou o mais recente lançamento da série de Cassandra Clare e se dirigiu ao caixa. Teria que esperar a nova onda de livros vampirescos, de Anne Rice a Stephenie Meyer foram vinte anos. Poderia esperar mais uns vinte anos, afinal, tinha todo o tempo do mundo para esperar pela sucessão de gerações e a alteração do gosto das massas. Nesse ínterim iria se contentar com outros temas, tinha a impressão que a ficção científica ia voltar ao topo depois dessa onda de literatura orgástica.
Sentou-se na cafeteria. Gostaria de poder pedir um daqueles refrescos de sangue de Charlaine Harris, mas infelizmente ainda não estavam a disposição no mercado. Pediu um café que não ia tocar e abriu o livro na primeira página. Sua última conexão com a humanidade ainda estava ali, nas páginas dos livros. Abriu o volume e através das vozes das personagens se lembrou de sentimentos que imaginava perdidos para sempre.
Mauricio R B Campos
Enviado por Mauricio R B Campos em 13/08/2014
Reeditado em 13/08/2014
Código do texto: T4920605
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