O Diário - Morte. Prólogo

Estou flutuando.

Não! Estou caindo.

Caindo na vastidão vazia, mergulhado na mais sombria escuridão.

Quanto tempo faz? Quanto tempo se passou desde que me dei conta de que estou aqui? Tempo. Será que existe tempo?

Sou interrompido por uma imagem luminosa. Uma serpente dourada se forma. Aproxima-se. E por fim se revela uma estrada assim que a toco bruscamente encontrando o fim da minha queda.

Ponho-me de pé e vejo que a estrada dourada se estende até onde a vista alcança. Começo a caminhar. No percurso não a nenhuma alma viva, Apenas o silêncio que é quebrado por meus passos. Encontro um livro, capa de couro marrom surrado. Não a título. Suas páginas estão todas em branco.

Mais a frente, encontro uma pena, um pote de tinta e uma bolsa de lado. Intrigado, começo a me perguntar se de alguma forma aquilo foi deixado para mim propositalmente?

O cenário a minha volta começa a se transformar. Lápides surgem de todos os lados. Uma névoa densa encobre a vista. Vejo um vulto. Rápido demais para distinguir uma forma. Encorajo-me a prosseguir. Uma árvore centenária se agiganta ao meu lado. Seus galhos secos parecem garras que querem me agarrar. Prossigo. Já caminhei tanto que perdi a noção do tempo. E mais uma vez o tempo me surge. Intrigante fenômeno. O que é o tempo?

Enquanto ponderava sobre esses fatos, paro para descansar as pernas, sentado sobre uma lápide grande, coberta de limo e com uma estranha escultura de um anjo encapuzado, segurando uma espécie de foice, com uma mão e na outra uma ampulheta. Lógico que representa a morte encarnada. Porém, não posso ver sua face, mas sei que seus olhos se fixam em mim. Pego-me então escrevendo no livro abandonado na estrada, faço dele meu diário onde agora essas palavras habitam.

Pus-me á estrada novamente, e agora não estou só, uma coruja me acompanha desde que sai do cemitério. Agora a névoa se dissipou, e a lua cheia clareou minha vista, revelando-me uma cidade. É uma pequena vila, nas ruas não encontrei um rato sequer. Mas que estranho lugar onde as únicas coisas vivas são uma coruja, um vulto e eu. Mas minha afirmação logo foi quebrada quando, me aproximava de uma capela construída no alto do morro com um carvalho imenso ao lado, sinto uma mão me segurar. Ao me virar, sou surpreendido por um par de olhos azuis tão belos e brilhantes que me deixaram sem reação.

- Quem é você? – me perguntou a dona daqueles olhos azuis, com sua pela alva como a neve, seus cabelos loiros esvoaçantes ao vento, e seus lábios vermelhos e sedutores – Qual o seu nome?

Minha surpresa é interrompida por essa nova incógnita. Qual o meu nome? Quem sou eu? Á horas atrás eu caminhava sozinho, e nem ao menos sei quem sou ou de onde vim?

- Você fala a minha língua? – ela perguntava, e seus olhos me enfeitiçavam.

- Eu... Eu não...

Antes que terminasse a frase, eu a vi. Sua túnica era negra como a mais escura noite. Estava encapuzada. Asas de penas negras brotavam de suas costas. Em sua mão direita segurava um artefato que me instigava a dúvida.

A ampulheta.

Roger Silven XII
Enviado por Roger Silven XII em 08/09/2014
Reeditado em 07/12/2014
Código do texto: T4954027
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