A Fé Trespassada - Parte Final

Os soldados estavam todos preparados diante dos portões. Os escudos foram levantados e as lanças afiadas. Eleandil mediu o peso da arma e olhou para os homens. Chamou os Espadas de Glórienn restantes para permanecerem na vanguarda. Naquele dia, o estilo de guerra élfico seria abolido. Seriam uma parede de escudos e não a graça pura das espadas fatiando os bárbaros na dança conjunta dos filhos eternos.

Ouviram os tambores dos inimigos batendo forte. O barulho atormentava as almas mais fracas, mas enchia Eleandil de resolução. Quando os portões se abriram, não por magia ou por força, mas sim porque os elfos queriam escapar, a escuridão da noite entrou com o fedor do acampamento bárbaro. Eleandil viu as estrelas do norte e soube que era o tempo de rumar para lá onde a podridão humana reinava.

Um grupo de elfos tentou fugir à frente. Eles correram na direção dos goblinóides. Eram vinte. Nove deles hesitaram e naquela mera parada, flechas e lanças os perfuraram. Os outros passaram livres pelos portões, sumindo na escuridão. Eleandil suspirou e gritou.

- Qual o primeiro lema?

- Minha eternidade se resume a amar aquela que me agraciou com um único motivo nobre para morrer! Que um suspiro de amor seja minha última prece à Única Senhora dos Elfos!

Então eles rumaram na direção dos portões e ali se mantiveram. Os inimigos investiram velozmente, berrando como animais desesperados. Seus olhos vermelhos brilhavam na noite como estrelas que prenunciavam a morte.

Os elfos cerraram as fileiras e os escudos bateram uns nos outros. Sentiram a presença do amigo ao lado e confiaram no sangue e na fé que os unia. Foram as lanças que seus irmãos forjaram que se enfiaram nas entranhas podres dos primeiros goblinóides a se aproximarem. E foi o brado de guerra de irmãos de fé e sangue que saltou na noite acima dos gritos desgraçados dos oponentes.

Juntos aos portões, eles resistiram. Ali eles mataram mais de cem filhos de Ragnar. Quando a manhã chegou, havia doze corpos de elfos caídos no meio dos cadáveres. Eleandil ajudou a carregá-los e cremá-los, pois não os deixaria junto ao lixo.

Os sobreviventes seguiram em procissão para o norte. Eleandil se recusou a chamá-los de refugiados. Eram romeiros rumando para novas terras onde reformariam a fé da Única Senhora dos Elfos. Que todos os Lemas da Senhora Eterna estivessem em seus corações.