tamanho originalMINHA ÁRVORE CANDOCAtamanho original 

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                               I  

Vou começar a contar essa história como todas as histórias começam:
"HÁ MUITOS E MUITOS ANOS ATRÁS..."

Existia uma enorme, uma imensa fazenda linda, linda.... mas também eram enormes, imensas, as brigas e desentendimentos entre os herdeiros desta bela fazenda que ficava no Rio de Janeiro, lá para os lados de Guaratiba... 

                                  
II 

Assim, em meio a muitas brigas e desacordos, a fazenda foi diminuindo, diminuindo até se transformar em pequenas fazendinhas e depois em pequenos sítios. E os desentendimentos continuavam...que pena! Como é triste uma família, uma “Grande Família” que não se entende!!! 

 
                                 
III 

Os pequenos sítios foram divididos por cercas de arame farpado. Os membros da tal família se cumprimentavam e até se encontravam em festas juninas, natalinas ou enterros de algum deles que de velhice morria, mas quando o assunto era a fazenda e envolvia dinheiro...xiiiiiiiiiiiiii!!!! Aí era cada um pro seu lado e fim de papo. 

                                  
IV 

Ia para lá vários domingos ou feriados. Adorava correr pelo campo, subir nas árvores, soltar pipas com meu irmão, colecionar folhas de arbustos, ervas, árvores, cascas de troncos que colava cuidadosamente em um caderno e depois de saber o nome com os caseiros, anotava e durante a semana em meio as horas vagas das tarefas da escola, pesquisava na antiga Barsa ou Conhecer que eram as melhores enciclopédias da época de minha infância!   


                                   


Buscava a utilidade medicinal para cada uma delas. Era um “hobbie” que mantinha com seriedade de “cientista” e dava o maior trabalhão decifrar tudo aquilo, porque naquele tempo não tinha internet não!!! As informações vinham de pesquisas em livros e só. Vocês se imaginam vivendo num Mundo sem net??? 


                                  
VI 

Mas eu adorava minha “ciência” e tinha sempre meu irmãozinho, ainda bem pequeno pra “descobrir” e colher folhas que ainda não possuía. Era meu fiel escudeiro.
Tínhamos a orientação de nossos pais para não atravessarmos as cercas sem convite formal do parente vizinho, mas eu, moleca que era, nunca respeitava ordens e sempre desobedecia. E pior que papai, "Pôio", como eu o chamava carinhosamente, sabia disso...ele conhecia muito bem sua menina...


                                 
VII

Desde pequena tinha minha própria maneira de pensar e se não concordava com tanto desentendimento familiar, também não concordava com cercas de arame farpado!!! 


                                
VIII

Íamos eu e meu irmão, sempre medroso, levantando arames, passando entre eles, às vezes rasgando a camiseta ou o short e desbravando terras que eu acreditava serem minhas por direito. A dona do pedaço, de todos os pedaços era eu e ponto final. Ou ao menos, dona das minhas vontades, dos meus sonhos e das minhas convicções de criança. Que criança é gente pequena, mas com direito de pensar e que "SABE DAS COISAS"... 


                                 
IX

É...sempre fui metidinha e intrometida, mas muito querida por toda a “parentada” acabava sendo sempre bem-vinda por onde resolvia andar...
Ainda havia muitos pés de laranja que sobraram depois que a fazenda original deixou de ser um laranjal produtivo e exportador até a segunda guerra mundial. A "Grande Guerra" foi o que separou os tempos de fartura dos tempos dos "ARAMES FARPADOS"...que pena! 


                                  
X

A gente se fartava com laranjas-lima (minhas preferidas!), laranjas-da-terra (que eu recolhia e escondia em um saco para levar de presente para Tia Cândida, irmã do meu avô, pois sabia que dali sairia um delicioso doce em calda, ou laranja cristalizada e eu me lambuzaria na próxima visita!) 


                                 
XI

Pelas jabuticabeiras fazia loucuras!!! Usava meus talentos de bailarina desengoçada aprendidos nas detestáveis aulas de “ballet” e subia o mais alto que conseguia para me fartar com tão doces jabuticabas!Eram altas e pareciam ter estado sempre ali. Mas o que agora mais se via em meio ao matagal eram as mangueiras...delícia!!! 


                                
XII

Eram mangueiras de tantos tipos, mangas de tantos sabores que ficava até difícil escolher o alvo...
Manga-rosa, manga-espada, calotinha, e outras que acho que até já sumiram e nem se encontram mais lá...ai, que peninha!!!  


                               
XIII 


Certo dia, em meio aos meus passeios aventureiros de menina sapeca, deparei com uma mangueira especial. Parei, rodeei a mangueira, não deixei meu irmão subir. Sentei bem em frente a ela e resolvi "bater um papinho" pra saber por que ela era "tão diferente" das outras. Era Majestosa, Exuberante...A Maior e mais Magnífica Mangueira que eu já havia visto... 


                                
XIV

Sei que conversar com uma mangueira não parece muito normal, mas eu falava e pronto. E quem quiser que acredite: - Ela respondia!!! 


                                      
XV

Disse-me que era encantada e que seu nome era CANDOCA. Falou que estava velha, cansada e se sentia muito sozinha...e como tagarelou a CANDOCA!!! Para meu irmão ficar quietinho e não atrapalhar nossa conversa, tirei umas bolinhas de gude que carregava no bolso e dei para ele se distrair... 


                              
XVI

CANDOCA me contou muitas coisas de tempos passados, de coisas que aconteceram na "Grande Fazenda" quando ainda era uma só e me pediu para deixar meu nome marcado em seu tronco. 

-Vai doer um pouquinho, mas estava esperando por você e quero que me prometa que vai voltar sempre que puder, querida menina! – falou CANDOCA... 


                             
XVII 


Tirei um canivetinho do bolso (eu carregava de tudo um pouco nos bolsos do meu shortinho...) e com cuidado e carinho, escrevi dentro de um enorme coração que marquei, tirando lascas do tronco de CANDOCA


                             
XVIII

M ³ 74 ..........Marcela & Candoca (o ano era 1974, eu tinha 7 anos. O M ao cubo nem eu entendi o porquê). Só muitos anos depois, mas isso é outra História... 


                                     
XIX 

Ouvi “pôio” me chamando ao longe...meu irmão logo se apavorou preocupado com a bronca que iria levar por estar sumido tanto tempo!!! Prometi a ele que assumiria a responsabilidade, mas ele sabia que eu sempre escapava das broncas que acabavam virando carinhos e sorrisos cúmplices entre nós


                                
XX 

Corremos feito loucos atravessando de volta as cercas de arame! Voltando ao sítio da Tia Neinha de onde papai nos chamava. Passei rapidinho pelas terras de Tia Cândida que vi de longe! Joguei um beijo, gritando:
 
- Semana que vem irei aí,Tiaaaaaaaaaaaaaa!!!! 

Mas ..........mas, isso também é outra História!!!


Será que ainda está lá, A CANDOCA??? 


                              
FIM




by MarCela Torres




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Music tamanho original Luz do Sol  tamanho original Caetano Veloso



 
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MarCela Torres
Enviado por MarCela Torres em 05/06/2007
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T515384
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