O PISTOLEIRO

O pistoleiro cavalga em sua égua branca chamada Morte.

Ele nunca viu o amor, nunca o sentiu e talvez nunca vai sentir.

Ele nunca se rendeu, sempre lutou até quase cair sem forças.

Suas cicatrizes são marcas de várias guerras e batalhas.

Seus antigos companheiros estão mortos agora,

Já foram heróis de guerra e batalhas.

Hoje são mais mitos do que lendas, ou historias antigas.

Já foram esquecidos no desconhecido do desconhecimento.

Cavalga devagar, quase sem forças e esperança.

A velhice já bate a porta da sua vida, a morte o rodeia.

Não é mais tão ágio quanto foi na sua juventude.

Pensa na sua juventude, nos seus pais e nos seus irmãos.

Não tivera uma vida de conforto,

Deste do raiar do sol ao anoitecer sombrio,

Trabalhava até suar seu corpo magro e sangrar a mãos.

Não reclamava, nem chorava, isso não fazia parte de sua vida.

Ele tinha um talento, não um simples talento.

Assim como a parábola da Bíblia, o usaria com destreza.

Seu talento era ser frio como a pedra de São Thomé.

Nada tirava sua concentração, nada o abalava.

Um dia saiu para caçar com seu pai, que tinha bocas para alimentar.

Uma emboscada no meio da mata, na escura madrugada.

Os disparos foram para matar, a terra ia requerer o seu sangue.

Ele não ia entregar, como uma extensão de sua mão, começou atirar.

Duro golpe foi ver, seu pai a chorar e a lamentar.

Assim era a vida por estas bandas, uma dança de ciranda.

A roda era composta pela fome e a morte, as vezes na faca ou na bala.

E no centro o Cirandeiro gargalhava nas sombras, vestido de morte.

Sangrando e amadurecido antes do tempo, o menino volta pra casa,

Chamas ao longe anunciam, o que seu rosto agora duro e frio já previa.

Que a vida e a morte caminham de mão dadas, uma é dádiva da outra.

E pela última vez na sua vida ele demostra algum sentimento, ele chora.

Mas nos campos de batalha, que ele travava sua luta pessoal,

Já distante daquela fatídica madrugada, ele atirava e matava.

Tinha ganho muitas batalhas e perdido tantas outras,

Mas no fundo sabia que ia perder a guerra como perdeu na madrugada.

O mundo não é mais o mesmo, porém, ainda é muito violento.

O pior da violência, é que que se tornou bem mais explícita.

Apesar de a vemos todos os dias, e todos os dias a vemos.

Só reclamamos ou sentimos, quando bate a nossa porta.

Cavalgando devagar ele chega a um lugar, onde ainda restam cinzas.

Madeiras secas e negras ainda apontam para o céu, o que restou de uma casa.

Desce devagar da Morte, a homônima se aproxima levantando a poeira no vento seco.

Ele se entrega, já sentindo a dormência, seu corpo quer ainda relutar,

Não há nada mais que possa fazer, a morte é uma dádiva da vida.

Alberto Amorim
Enviado por Alberto Amorim em 30/03/2015
Reeditado em 30/05/2015
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