COPA da Bicharada 2014 (homenagem)

A seleção formada pelos atletas dos zoológicos, fazendas e vários ecossistemas, está assim escalada: Leão com o visual mudado, no gol; Coelho na lateral direita; zagueiros: os ferozes rugidos do Urso e Tigrão. Na lateral esquerda: o serelepe Ratinho, vulgo camundongo; no meio de campo: Jaguatirica espanando a flecha do índio Peri de José Alencar comandando a cabeça de área; o andrógino Surubimandim com sua espada pela direita (pressentindo o perigo de gol, a enfia no primeiro buraco que encontrar) e na armação, Ganso: o bicho que degusta e digere tudo até ferro e consola as suas dores enfiando a cabeça no buraco. No ataque: Pato ( como se movimenta o campo inteiro, o técnico diz que ele é fundamental porque Pato aqui, Pato ali; em Pato oculá ) e o paraguaio Caballos Ferrero; ( o próprio nome diz sobre a potência da patata) com o malabarista Foca jogando pela ala esquerda. Esquema tradicional da seleção: 4-3-3.

Quatro na defesa, três no meio e três no ataque; assim a torcida não poderá reclamar que não terá jogadas de linha de fundo, os pontas de oficio estão lá é para isso. A seleção está bem arreganhada, certo seu Alberto? Resta saber se terão competência para executar o que foi traçado no papel. No banco de reservas a seleção conta com o dono do terreiro: Galo ( o disgramado e guloso quanto mais come mais quer ) e o potente Cavalo coice de égua ( como é moda, bate até mãe ), esse Brasileiro, para o meio de campo; Cação dos mares para a zaga e laterais; o esperto pula-pula Tiziu para o ataque e meia; fechando com Andorinha Frufru para o gol. Essa não faz verão; pois foi convocado somente para constar na súmula do jogo.

Dificilmente Leão, o titular absoluto e rei da selva, será abatido pelo ataque adversário. Caso isso venha acontecer, a fêmeas caçam por ele. Um breve comentário sobre Leão. Ele veio para o jogo com o visual mudado, deve ser por causa da emoção de disputar a partida final pela seleção. Tingiu a juba acaju, com mechas douradas bem reluzentes, arrepiou a crista com gel e o rabo geometricamente aparado e bem torado. Frisou na cabeça em letras garrafais as iniciais de seu nome e o número da camisa: LRS 10; que que dizer: Leão o Rei da Selva é o camisa 1 mas é dez como animal. Isso mesmo Leão, a missão que nos conduz aos mistérios interiores, é sempre frisado pelo antagonismo intimista! Boa sorte e faça bonito no gol da seleção, tanto quanto está o seu visual para a decisão; Leão! Narrador esportivo também põe e tira a criança do cueiro.

Tarde quente aqui em Arroio Grande; onde tem água e sol, tem futebol; e o futebol é a vida e o ópio da bicharada. Temperatura beirando os 40 graus, com os raios solares transformando a energia solar em fotossíntese, com isto, os jogadores não podem reclamar da falta de abundância de alimentos e do baixo teor de nutrientes. O campo está em perfeitas condições: grama alta, bem verde e viçosa e por mais que haja perda de energia ao longo da cadeia alimentar, o estoque fatalmente abastecerá a todos. Que ninguém sofra dos males da desnutrição, assim esperamos; basta em outros campos.

O juiz será o índio Gavião Pataxó, que vem para o gramado munido com arco, flecha e tacape, qualquer sinal de ataque às suas terras ele se defende e bate na boca: uah, uah, uah. Branco Firo da Puta invadindo terra índio, tem que morre; auxiliado na bandeira amarela pela experiente e sempre bela Joaninha. Na bandeira vermelha, a Guatemalteca Teniaflores; essa bem amistosa, não parasita o bioma intestinal e muito menos se aloja em ninguém, sobrevive às suas expensas. O quarto árbitro é o mexicano Camacho Zorroastro, o bicho de pelos sedosos e brilhantes.

Tudo pronto para o início da partida. O juiz confere os últimos detalhes. Faz sinal de "ok" para os arqueiros. O melão vai rolar, mas antes um minuto de silêncio em homenagem àquele que foi cantador de hinos nos estádios, o monumental Canário da terra; que foi pego numa armadilha por traficantes de animais silvestres no mês passado e devido à longa viagem de pau de arara, abriu o bico e acabou falecendo.

Ele juntamente com o Canário do reino e o Pássaro Preto, que por sorte se salvaram, muito nos alegrou. Os nossos pêsames aos familiares do Canário da terra, que os seus afinados pios ecoem pelos escassos campos verdes do mundo inteiro e vida longa para você, Canarinho do reino, Pintassilgo e Pássaro Preto. Este último, se continuarem incomodando-o com sua cor, procure um Advogado e processe o ser obtuso de conhecimento e etnias. As inúmeras dores e melancolias que esses nossos irmãos comumente sofrem, não podem nunca, superar as poucas alegrias do cotidiano; por isto, a Copa da bicharada é um desses momentos raros. O equilíbrio interativo entre as espécies agradece.

Rola o “bosta do Melão” aqui no estádio Corvo Branco do Escaravelho. Deu saída a Cutia, que cheira a fruta, analisa e verifica que não faz parte de seu cardápio, tocando-a para a onça pintada Jaguatirica, que repete a dose e passa para frente. Enfia para Legambê, um animal que evoluiu dos mamíferos e quando recém-nascido foi raptado por franceses ainda na maternidade e por lá ficou, se naturalizando Francês e hoje faz parte da seleção.

Cuidado Legambê, você sabe muito bem dos perigos que está incorrendo no meio dessas feras; o que não é motivo de desespero, se aparecer algum engraçadinho metendo as caras com você, libera aquele seu cheirinho agradável que tudo se resolve. Se ainda não sabe os modos de defesa, faça um curso rápido com os cães, animais cujas narinas deveriam farejar os espinhos do ouriço de longe. Cada ferroada da lança espinhosa nas ventas do quadrúpede é um gemido de dor.

Agora um lance bizarro, a pelota foi rolada para o Coelho e ele não fez caso do lance e continuou sossegado metendo os dentes na saborosa grama. Tá certo seo Coelho, é melhor tomar o gol do que o bucho vazio; o que, além de causar a morte por inanição, quebra a sequencia da cadeia trófica. A indiferença de Coelho, ocasionando quase gol do adversário irritou Cervinho o técnico da seleção. Pode parecer estranho, mas o veado também tem seus ataques de histeria contra os seus comandados. Quando jogava esse senhor de escapadas rápidas, saltos velozes e chifres aterrados à cabeça, aprontou muito nos gramados deixando vários carnívoros com água na boca e língua nos beiços; por isto está vivo. A bicharada queria por queria passar ele na cara e dar uma lambiscada nele. Na constituição da selva, a primeira lei é a salvação individual e cada um que defenda o seu.

Vai entrar Elefante. Jogador lento, mas que impõe respeito no meio de campo. Toca de primeira e exceto as Ienas, que atacam e defendem em bando, que a cada mordida nos restos de caças mostram os dentes caninos, é o único animal que mete medo ao Leão. Uma trombada ou uma patada dele desmonta qualquer império. Embora esteja completamente fora de forma, ele vem para o jogo com o uniforme coladinho no corpo, emoldurando as longas curvas e os volumosos músculos, arrancando arrepios e causando o maior frisson nas elefantites. Quanta virilidade possui esse indivíduo! Ouça o alarido delas: “liiindo; liiindo; liiindo! Cada mercador expõe nas vitrines da moda e do sucesso as mercadorias que possuem.

Segue a peleja: Iguana com suas barbas longas e chuteiras vermelhas empurra o “melão” para a direita; com um rugido devorador corta pela linha de fundo o zagueiro Tigrão, atrapalhado por Urso. Parece que está acordando da hibernação agora; exatamente isso o que está acontecendo, está esfregando os olhos e arreganhando a boca até as orelhas num enorme bocejar. Acorda para cuspir a preguiça de viver, Urso! Aprendeu jogar futebol com zagueiro Brasileiro? Depois que toma o gol que corre para pegar a pelota que está morta dentro dos três paus!

Apita o fim de jogo o árbitro Gavião Pataxó. Termina o jog. Empate numa peleja em que houve entradas fortes, divididas ríspidas e muita emoção. Tivemos aqui uma partida de futebol alegre e descontraída. Para confraternizar, os jogadores que fizeram o espetáculo abraçam-se e trocam camisas. Os 22 bravios e heróis saem de campo aplaudidos, são e salvos e incólumes de qualquer risco de morte.

- O zero a zero só foi possível porque faltou o predador número um da bicharada. Nem eu escapo de suas garras. - falou Lesma Manca, que com sua frieza e escorrimento habitual participou do evento esportivo demarcando as linhas do campo, cujo líquido gosmento é o antídoto para os nojentos.

Onde tem Lesma Manca, tem umidade. Até daqui a quatro anos; isso se Deus permitir e se a bicharada praticante desse esporte de asnos estiver viva e gozando de boa saúde; porque o desmatamento está incendiando tudo. Até lá meus amigos do RL!...mas por favor, faça sexo não faça filho, plante uma árvore, melhore e mantenha o que restou do verde e façam mais campos para o evento esportivo, a bicharada agradece!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 06/07/2015
Reeditado em 09/07/2015
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