MEU SEGUNDO OLHAR...

Aconteceu no Bairro do Rodeio, localizado na cidade de Cáceres-MT, precisamente à Rua Radial 01, na chácara de tcha-Lalá...

Um lindo lugar em volto de mangueiras, larangeiras, goiabeiras, pitombas, cangicais, manduvis, bocaiuvas, fruta-pão e outras... e mais ao fundo perto do Rego de tcha- Lalá, um córrego feito á máquina para evasão das águas das chuvas, sendo o Bairro do Rodeio muito alagadiço.

Assim próximo aquela vazante, local onde as crianças desfrutavam das delícias da infância, num lazer de inúmeros mergulhos... Crianças estas a maioria todas netas de Tcha-Lála...

Maria Olegária da Silva Couto, Tcha-Lála... Descrevê-la com a alma. Uma anónima que não pertencia à elite Cacerense, mas pertencia como matriarca da família Couto, esposa do poaeiro Rafael Marques do Couto e teve 12 filhos e incontáveis netos. Que abrigavam todos na mesma chácara, início dos anos 70. Uma senhora de pele morena-cabocla, miúda, olhos castanhos escuros e meigos, cabelos longos pintados de brancos, mãos calejadas pelos afazeres e lidas. Ao arraiar do dia ela já encontrava-se de pé, com seus afazeresdes domésticos desde a fabricação manual da farinha de mandioca, doce de furrundum, e até a fiação manual de redes.

Bom, pode-se perguntar o que ela tem a ver com essa história... Tudo! Pois, ao cair da noite, a luz das estrelas, sentados em banquinhos seus netos rodeavam-na e escutam-na contar as mais lindas estórias, contos e lendas. Diante disso eu era apenas uma criança que fugia da televisão tocada a luz de motor e preferia juntar-se aos seus netos, Janete, Márcia, Vanderlei, Patrícia, Fábio, e outras a fim de sonhar com as estrelas.

Como é necessário sonhar! Sonhar...viver sem temer, é apaixonar-se por um cantar de João de Barro, e emocionar-se com o voar de um beija-flor.

Espelhandando-me em Tchá-Lála, certo dia em meio a bagunça e algazarra dos intermináveis banhos... Parei um momento, com o corpo submerso na água, apenas com a cabeça para fora d'água, apoiada no barranco... segurando o barro branco com as mãos coloquei-me a sonhar... Viajando num mundo de sonhos, fantasias, invenções, que naquele momento tive em minhas mãos o poder... Fui deusa-menina! Poderia fazer o que quisesse naquele mundo...

Parei o tempo, analisei em minha volta, marinhos, capins, forragens, besouros, formigas e o cheiro da terra. Que fascínio, a natureza fala. Olhei mais ao longe vi as laranjeiras, mangueiras, goiabeiras... e num segundo olhar... ela me buscou, ela capturou-me, um frondoso pé de guaraná. O famoso guaraná de rala que tchá-Lála fazia artesanal e consumia da mesma forma, com grampo colocado em um banco, grossa enfiada neste grampo para firmar e ralava o guaraná para tomar de madrugada e ao cair da tarde.

Capturada pelo guaranazeiro, meus olhos encheram minha alma de uma paz, naquele momento entrei dentro da natureza, eu pertencia a ela, não como humana... Mas, como animal, ou melhor, entrei como simples inseto, e descobri que insetos também amam!

Descrevendo o guaranazeiro, era imensa, sua raiz grossa e saliente para fora da terra, protegida pela forragem natural e pelas folhas que caíam transformando-o em adubo para a terra que o sustentava, seu tronco necessitava de cinco crianças de mãos dadas para abraça-lo e muitos galhos e folhas, e guaranás se abrindo e despencando lá de cima, forrando o chão.

Mais ao alto uma linda casa de Marimbondo Tatu, acompanhava a curva do galho grosso, perdi o olhar... vendo-os voar todos muito poderosos. Escorregando os olhos para o pé do guaranazeiro, havia um enorme formigueiro... Pertencente à Formiga Tucanguira. Assim o ele estava protegido, quem ousaria chegar perto?

Inexplicavelmente, já adentrada na natureza como inseto, compreendi o valor do amor, atualmente tão esquecido. E coloquei-me a viajar neste mundo só meu, egoisticamente, que hoje depois de uns vinte oito anos ponho-me a relatar as crianças, assim partilho as fantasias, e peco-lhes para sempre ao olhar algo, não esqueçam do segundo olhar, não deixem de fantasiar, e façam o seu próprio mundo e depois partilhem, porém não esperem vinte e oito anos.

E foi assim...

Existiam dois reinos distantes com culturas e povos diferentes. Um Reino de Marimbondos Tatus, povo muito respeitado, voadores, palácio riquíssimo, localizado ao alto do frondoso guaranazeiro. Esse reino possuía rei, rainha, príncipes e princesas, serviçais, guardas reais, todo o aparato de um reino digno e luxuoso.

E ao chão, entranhado no pé do guaranazeiro, o Reino das Formigas Tucanquiras, povo também muito respeitado, trabalhador, não possuíam luxo, mas, eram portadores de uma riqueza hierárquica, povo cujo o lema sempre foi guardar para nunca faltar. Possuía rei, rainha, príncipes, princesa e todos os recursos de um reino.

Viviam eles cada qual em sua vida, quando por uma coincidência, alguém de um reino encontrava o outro, simplesmente ignorava a existência do outro, e isso quando alguém do Reino do Maribomdo Tatu, resolvia dar um passeio ao chão em busca de caça. Assim a paz em cada reino perpetuava.

No Reino do Marimbondo Tatu, existia o Rei Tatu, a Rainha Tatá, o príncipe Tutu e a linda princezinha Tatí. O rei muito sério, enérgico, afinal não é fácil ser um chefe de família e comandar um reino sozinho, A rainha muito gentil, doce, meiga, sendo ela que acalmava os ânimos do Rei Tatu, pois tudo para ele era motivo de ataque para guerra, sentia se ofendido e partia com o seu inúmero batalhão, e sempre vencia. O príncipe Tutu, esse boa vida, não tinha preocupações, tinha tudo o que queria e seria sucessor de seu pai, para que se preocupar? Sua vida era apenas voar. A linda princesinha, adorável criança, muito mimada pelo pai e mãe, um xodó para o reino onde todas as atenções eram dispensada à ela.

No Reino da Formiga Tucanguira, o Rei era o Tucan, este um pouco mais inseto, para não dizer humano. Sempre tinha um conselho bom para dar, seu reino era comandado de democraticamente em forma de cooperativa entre todos, ali a igualdade realmente existia. Mas a rainha, Tucanquira, essa realmente era de amargar, pensava muito em si, seu egoísmo era visível. Ela era uma verdadeira ditadora, cujo o Rei Tucan tentava muitas vezes em vão deter sua arrogância de poderio. Dois príncipes o Tuqui e Canqui, gémeos idênticos, índole maleável ora pela mãe e ao entrar em confronto com a sabedoria do pai, geralmente mudavam de ideias... Assim, os pobrezinhos estavam longe de ter suas próprias ideias e rumos na vida.

E a guerreira, a princesa Guira, não por ser princesa, mas, realmente era linda. Mesmo caçula, com todo o mimo de pai e mãe, ela enfrentava sua mãe que a queria como uma porcelana, roupas finas, muito luxo. Prometida ao príncipe de um outro Reino de Formigas Tucanguiras, o príncipe Racan. Mas, Guira era guerreira, andava iguais as demais do reino, levantava cedo e colocava-se ao serviço conforme as demais. Não temia nada, sempre defendia o que ela acreditava estar correio, muito inseta, sofria diante do sofrimento alheio, sempre uma patinha arniga a oferecer.

E no Reino das Tucanguiras era comum ouvir:

A rainha Tucanguira esbravejar:

_ GuiralGuiraf Você se ponha em seu lugar, é princesa... Comporte-se como tal! É a vergonha desse renomado reino, motivos de fofocas. Vista com as rendas que lhe comprei, vai estudar artes, fazer seu enxoval, afinal é prometida de Racan!

A Princeza Guira responde:

_ Mamãe, por favor, deixe-me. Além do mais não quero casar-me com Racan, não o amo. Ele é um inseto muito ambicioso, sem ideais. Mamãe ele é um engomadinho!

A discusão continua.

_ A culpa é sua Meu rei Tucan, deu asas para uma formiga... Ela não as tem!

Sorrindo em suas vestes simples, ela põe-se a cantar e segurando sua mãe, fazendo-a

dançar a força, diz:

_ Alegria, mamãe... Tenho asas, voo longe nas asas do sonho... Da ilusão... Imaginação! Voando eu vou seguindo o meu coração! Um dia... Quem sabe encontrarei algum inseto e realizaremos um sonho de amor verdadeiro entre nossos corações!

A rainha inconformada:

_ Olhe Guira, mandarei você ao internato! Longe dos fofoqueiros e da vergonha que me dás! Siga exemplos de seus irmãos Tuqui e Canqui, insetinhos de ouro! Por favor, meu calmante... Preciso repousar-me!

Assim Guira dá um beijo doce em sua mãe, e sai ao lago do pátio do palácio, com seus inúmeros larintos, junta-se as demais operarias e põe-se a trabalhar.

Enquanto isso no reino dos Marimbondos Tatus, não é diferente. O rei Tatu está sempre em prontidão para atacar, fazendo diariamente vistoria em sua guarda real.

_ Guardas! Sentido... Posição! Quero-os sempre em posição de ataque. Temos que estar atentos ao inimigo!

No castelo, muita correria, pois o rei deixava todos muito eletrizados, com sua mania de querer estar sempre em posição de combate. Porém, não conseguia dominar seu filho Tatu, que sempre entre os dois havia discussão acirradas, cuja presença da mãe era inevitável para apaziguá-los, e sempre começava assim:

_ Tatu, meu filho! Você será meu sucessor... Comporte-se como tal, vista-se como um verdadeiro guerreiro. Onde está tua farda?

Tatu, responde.

_ Meu pai, farda?! Para quê? Se eu vou dar uns "roles por aí", afinal jovem é outro "papo"! Derrepente posso encontrar uma gatimbonda tatuzinha... lindinha, precisando de um jovem destemido para salvar a marimbondina em perigo... Fui! Fui!

E saiu em seu voo, e o pai, quase teve um ataque de nervos.

Assim a família Real dos Tatus e Tucanguiras, cheias de afazeres, preocupados cada qual com suas próprias anteninhas. O príncipe Tutu era considerado o irresponsável e a linda princesinha Guira a guerreira em prol os menos favorecidos, uma idealista e para a nobreza Tucanguirense "uma desajustada".

Ela era o tipo que se irritava com a injustiça, porém ao contrário de Tutu, esse marimbondo, não era nada inseto, egoísta só preocupava no seu bem estar.

Tutu, não só era folgado, como um arrogante, do tipo eu sou príncipe e mando no pedaço.

Mas, nesse mundo inseto, tudo é possível acontecer. E assim... Um certo dia os dois reinos estava em alvoroço. O Reino dos Tatus como sempre era aquela eletrizante prontidão para ação de combate, uma comédia!

No Reino Tucanguira, era a rainha organizando tudo para noivar a Guira com o Racan. É a rainha em exagero falava-se em alto tom:

_ Guira, filha da minha anteninha predileta, preste atenção, hoje o seu futuro noivo Racan, estará aqui, então por tudo que é mais inseto... Não me decepcione. Coloque teu lindo vestido, cujas sedas vieram do país dos bichos das sedas, e tudo que eu dizer sorria e consente com a cabeça. Não é minha linda formiguinha!

Guira responde:

_ Mamãe, noivado! Era só o que me faltava! Ainda com aquele inseto "amofadinha", tenha paciência! Olha vou trabalhar com as demais operárias, precisamos estocar alimentos, o inverno está próximo. E a senhora gastando em festas, de um noivado que não é de meu agrado, invés de economizar! Querendo apenas mostrar-se para as outras formigas que é a melhor de todos os Reinos das Formigas! Oras, Mamãe... Tenho mais o que fazer!

Saindo com as demais formigas em busca de alimentos, e a Rainha tentava em vão chamá-la.

_ Guira, por favor, pelo menos venha a tempo, não me magoe estou doente. Criadas! Criadas! Meu calmante!

Guira a frente daquelas operárias, em busca de alimentos, andam, sobem e descem e como sempre eram importunadas por voos rasante de Tutu, que ria e dizia:

_ Trabalhem e eu divirto, afinal sou o melhor!

E Guira fala para as operárias:

_ Ignore-o, esse inseto vive a brincar, o dia é longo, temos muito a fazer.

E perto do rego de Tcha Laia, Guira foi buscar água para as demais companheiras. E afastou algumas patas dali, e teve uma surpresa. O tutu já quase sem forças tentava sair de uma correnteza, e Guira não relutou, pegou um pedaço de pau enorme, pois as formigas aguentam carregar pesos, e jogou-o na água e caminhou até próximo dele, e estendeu sua pata para ele , quase não alcançava, e ela curvou quase a cair também, e antes dele se afogar, ela agarrou-o e puxou para fora d'água. E ele desmaiou.

Guira ficou muito preocupada, e fez o primeiro socorro, que com muita demora o mesmo voltou a si, tossiu muito, eliminou água e disse com uma voz fraca:

_ Obrigada, não me deixe só aqui.

E assim ele adormeceu em seus finos bracinhos, porém fortes. Guira que já estava revoltada com o noivado arranjado aproveitou-se da ocasião para uma boa desculpa para não comparecer a festa.

Arrumou um lugar próximo ao rego, um matinho fechado de malícia, cuja planta possuía espinhos, assim estavam protegidos, já estava no cair da tarde. Como não queria preocupar as amigas operárias, levou água para elas e pediu que retornasse ao reino e falasse para mãe, que a festa era de sua mãe e ela não iria participar, e dentro de alguns dias ela voltaria ao reino. Ela precisava cuidar daquele marimbondo indefeso naquele instante, não abandonaria nenhum ser inseto.

Voltou ao local, limpou-o e acomodou melhor Tutu, que ela nem sabia quem era. Claro que era um lindo rapaz inseto, que pertencia a outra espécie, que voava em voos rasantes em cima delas quando estavam em lavoura. Mas, não podia abandoná-lo, salvo-o da morte, e ele está tão machucado, precisava dela.

Tutu mal mexia os olhos, no local Guira já havia feito um pequeno, aconchegante e seguro acampamento. Alimentava-se das frutas que ali tinha, como: mangas, goiabas, fruta-pão, cajus e a castanha do manduvi. Com pequenas folhas fez pratos, talheres e copos, que utilizava para dar água e alimento ao mesmo, e ele nada de melhorar.

Naquela noite, ela passou muito medo dele morrer, pois ardeu em febre, ela dobrava folhas molhadas e tentava resfriá-lo, os amigos vaga-lumes, vieram e ficaram com seus pisca-piscas iluminando o acampamento entre os espinhos agudos das malícias, a lua estava bela, no entanto a luz dos vaga-lumes era necessária.

A noite foi longa, ela com suas patinhas, começou a delinear o rosto de Tutu, com a folha molhada. E foi despertando algo dentro de si que não queria admitir estava apaixonando pelo impossível. E ele sem forças, sentia sua presença, mas não podia dizer nada, e em delírio de febre ele puxa-a e beijá-a, sem dizer nada. Ela afasta-o, e deita-o, tentando entender sua febre altíssima. O dia está raiando, ela tem que deixá-lo mesmo com febre e ir a busca de ervas medicinais para acalmar sua dor, febre e infecções.

Ainda bem, um local rico em plantas medicinais, uma folha de anador, terramicina, folha de algodão para dor e febre, inflamações variadas. A erva cidreira para acalmá-lo, uma casquinha de aroeira com barbatimão para os machucados cicatrizar e o óleo de copaúba para as infecções variadas. E trouxe e iniciou o tratamento, e foram mais uma semana de cuidados e carinhos, sendo inevitável as trocas de olhares. Tomava os remédios e se alimentava através das mãos de Guira diretamente em sua boca, Tutu não tirava os olhos dela e ela nada dizia, mas não precisava de palavras, os olhos diziam que o sentimento puro é nascido de um olhar!

Mal eles sabiam que os dois reinos estavam em alvoroço. No Reino dos Tatus, o Rei Tatu, estava entregue a profunda tristeza, já havia cessado às buscas, não tinha mais esperanças, a rainha Tatá ainda esperançosa dizia:

_ Meu Rei, meu coração diz que nosso filho está vivo. Não se entregue, lute contra essa tristeza, você é um vencedor.

E o Rei, balançava a cabeça desolado.

No Reino das Tucanguiras, a rainha teve que suspender o noivado, arrumando uma desculpa qualquer. E o rei preocupado com sua princesinha, dizia:

_ Temo que algo grave aconteceu com Guira, já mandei meu exército em sua procura e nada.

Rainha resoonde:

_ Não aconteceu nada, deve estar em outro reino, escondida, medo de levar bronca da desfeita que fez na festa de noivado que preparei para ela, desisto de Guira. Meus calmantes! Vou ter que fazer uma plástica com o cirurgião Pitanguira, afinal esse desgosto me trouxe, duas ruguinhas na testa e aproveito para colocar algumas graminhas de silicone nos peitos, a mãe de Racan está belíssima não posso ficar para trás, afinal sou a Rainha Tucanguira.

_ Mulher! Você não tem jeito, eu preocupado com nossa filha e você com ruguinhas na testa! " Fala sério!"

A Rainha responde:

_ Olha o vocabulário Rei Tucan!

Enquanto isso,,. Naquele lindo e pitoresco lugar, A Guira foi buscar água e quando voltou, assustou com Tutu, em pé apoiando-se em um pequeno galho fitando a natureza em seu redor, sendo interrompido por Guira. Que fala.

_ Rapaz, não está bom para se levantar, pode ter vertigem e cair, piorando o seu estado de saúde.

Ele responde:

_ Desculpa-me, mas estou bem. Fui muito bem cuidado, enfim podemos agora nos apresentar. Eu sou o príncipe Tutu, e você quem é linda operária, qual é o seu reino?

Ela hesitou, e respondeu:

_ Meu nome é operária Ira, sou do reino Tucanguira.

E ele continua:

_ Como posso recompensá-la por ter salvado minha vida, sou filho do Rei Tatu, ele a recompensará.

Ela notou que embora quase morreu, aquele rapaz era arrogante, o que sua boca dizia, o seu olhar contradizia. Ele era muito convencido, jamais iria confessar o seu sentimento por uma simples operária e ainda mais por uma espécie diferente. Enfim, Guira tratou de evitar fitá-lo.

Apenas disse:

_ Olha senhor Príncipe, aqui será chamado de Tatu, és príncipe no seu reino, é melhor deitar um pouco, sua asa ainda requer cuidados, e quando estiver bom, poderá voar para teu reino. No momento espero que colabore, quanto mais rápido sarar, melhor será para nós dois.

E Tatu atendeu seu pedido voltando a deitar numa rede improvisada de folhas longas, mas muito aconchegante.

A noite para Guira, é longa, os seus pensamentos se contradiziam:

"_ Quem esse sujeitinho pensa que é? Ninguém merece isso, um arrogante, orgulhoso... Ele está se achando!"

E olhava-o, enquanto ele dormia, e pensava:

"_ Mas, estava tão indefezo, tinha um olhar carente... Não posso amar esse inseto, afinal ele não pertence à mesma espécie! Pensamentos... Pensamentos... Quero dormir!"

E o dia chegou, trazendo uma luminosidade dos raios do sol, que lugar lindo. Os pássaros cantam alegres, agradecendo mais um dia, as flores começam a desabrochar, e os insetos se põem a trabalhar, cada qual com sua função na natureza, e não tem feriado e não há cansaço. As abelhas de flor em flor colhem o mel, as cigarras cantam, as aranhas tecem suas teias, as libéluías voam sem parar... Que maravilha a natureza!

E Guira contemplava o raiar do dia, mas foi interrompida por Tatu.

_ Ira! Bom dia! Que lindo está esse raiar de dia, vou tentar voar hoje, e se conseguir vou voltar para casa.

E Guira com o coração apertado, disse:

_ Sim, Tatu... E necessário se esforçar, seus pais devem estar preocupados.

E após um delicioso café da manhã, com frutas frescas como: mamão, bananas e melão, Guira foi levá-lo para o seu primeiro voo depois do acidente.

Ela segurava-o, e muitas e muitas vezes foram pegos olhando um nos olhos dos outro, que tiravam os olhos e continuam os treinamentos.

Tatu pensava:

"_ O que faço? Estou loucamente apaixonado por essa formiga! Eu um marimbondo Tatu! Apaixonado uma formiga! Eu que namorei as modelos mais belas do Reino Tatu! Estou louco, bati com a cabeça!"

E bateu as asinhas, e conseguiu voar... Voou como antes, não apresentava dores. Enfim estava pronto para retornar ao lar. E Tatu chegando ao chão, comemora com Guira, era uma alegria muito grande, riam, pulavam e gritavam. E, de repente, pararam de sorrir, e fitaram-se e como estavam de mãos dadas, se abraçaram e beijaram-se. Sem, falar nada um para o outro se aconchegaram um nos braços do outro por minutos, que rapidamente olhou-se um para o outro e falaram juntos:

_ É... Está na hora de ir!

E...

_ Desculpa, fale você...

Riram, e Tatu agradece Guira:

_ Ira, obrigado por tudo que fez por mim, sem me conhecer, você é muito especial. Nunca vou te esquecer, e vou te procurar para recompensar esse carinho e dedicação que teve por mim.

Guira segurava para não chorar, abraçou-o e ele voou... Foi embora. Ela ficou em silêncio. E caminhou para o seu lar em profunda tristeza, e mesmo sendo forte as lágrimas saiam de seus olhos.

Tatu ao chegar no Reino, foi impedido de entrar, mas ele disse:

_ Sou Príncipe Tatu!

Os guardas disseram que Tatu estava morto, mas levaram até seu pai que estava desolado, e Tatu gritou:

_ Pai! Pai!

Escapando dos guardas, correndo em direção ao pai, que abraçou, e sua mãe e irmã vieram ver aquela algazarra e juntaram-se num abraço só, foi uma festa, cheia de abraços, lágrimas e fàíavam-se todos juntos.

E no Reino logo abaixo, não foi diferente, Guira foi recebida com muita alegria.

Mas, Guira e Tatu, sorriam, mas um sorriso triste, faltava algo, e eles sabiam o que era.

Tatu nas semanas seguintes estava muito triste, não saia de casa e ficava lembrando dos momentos ao lado de Guira. E Guira mesma coisa, tão esforçada, guerreira e trabalhadeira, não tinha forças, e não queria encontrar Tatu, caso saísse. E Tatu também não queria vê-la, estava evitando-a. Mas, como evitar? Se os pequenos corações dos dois estavam em pedacinhos?

Os dois reinos prepararam uma linda festa em comemoração ao retorno dos filhos. E durante a festa muita alegrias, no entanto Guira e Tatu estavam tristes e distantes, esforçava um sorriso para não magoarem seus pais.

Tudo volta como era antes, mas a tristeza consumia Tutu e Guira, e seus pais ficaram preocupados, e tentando entender o que se passava, deduziram que poderia ser algo envolvendo amor. Sendo que Guira e Tatu contaram o ocorrido, menos que estavam apaixonados um pelo outro.

E foi assim que mãe de Tatu indagou-o:

_ Filho estou preocupada com você, afinal está tão distante, infeliz e quieto, não parece aquele inseto alegre e travesso! Fale o que está acontecendo?

_Nada, mãe... Responde o inseto.

_ Tem algo sim, e tem a haver com a formiga que o salvo. Estas amando-a?

_ Claro que não! Sou um marimbondo! Um príncipe! Oras mãe... Imagine amar uma formiga! Responde Tutu.

E no Reino das Tucanguiras o assunto era o mesmo, o Rei Tucan consolava a filha:

_ Minha filha, diga-me o que passas nessa cabecinha que deixa essas anteninhas derrubadas... Preocupo com você, não suporto vê-la triste assim. Tem algo haver com aquele marimbondo que você salvou? Estas o amando?

_ Claro que não! Sou uma formiga! Ninguém merece... Imagine amar um marimbondo! Responde Guira!

Os pais preocupados trocam ideias, cada qual em seu reino. A mãe de Guira é contra, e deixa bem claro para o senhor seu Rei:

_ Meu Rei Tucan, eu havia desconfiado dessa tristeza de Guira ser um amor... Um amor impossível, pois sou contra! Um marimbondo! Que reino que nós estamos? Minha filha e um marimbondo? Somos espécie diferente, nosso reino é muito mais rico! Somos elites... Eles pobres marimbondos...

_ Mulher! Não pense assim, amor é amor! Não importa raça, classe social... Ela ama-o, e não podemos fazer nada para mudar isso. Responde o Rei Tucan.

E no Reino do Tatu, esbraveja o Rei Tatu:

_ Não! Não! Isso é inaceitável, inacreditável... Enfim isso é impossível. Não permitirei, estou cansado dessas paixões de Tutu. É loucura! Formiga! Somos espécies diferentes, nosso reino é mais rico! Somos elites, ela pobre serviçal e formigai

_ Meu rei, no amor não há diferenças, e sim um completa o outro, no amor puro não tem preocupação com raça ou classe social. Agora é diferente, veja nosso filho mudou, estás triste, porém mais inseto, falando de amor ao próximo, sendo gentil e caridoso! Não seja contra esse amor! Responde a Rainha Tatá.

_ Mulher, minha rainha... Gentil, caridoso e inseto! Filho de Rei Tutu! Melhor chamar um neurologista, esse insetinho batei a cabeça e entortou o ferão! Disse o Rei Tutu.

Enquanto os pais discutem os filhos lembram e relembram de um amor, lindo, puro como um sonho bom, que esta cheia de barreiras imposta não sei por quem, não sabem o porque de leis tão cruéis que a sociedade de Insetos muitas vezes doentia criam e acreditam estarem certas, fazerem uma divisão entre raças, crenças e classes sociais, dificultando assim a paz e união entre os seres insetos, que muitas vezes impedem até uma simples amizade, imagine o amor...

E com esses pensamentos Guira, se levanta e diz:

_ Passou! Tenho uma vida inseta cheia de afazeres, já perdi semanas e semanas de tristeza por um metido, que não merece meu sofrer e nem meu amor! Antenas para frente! Vou passear um pouco!

E mais acima, Tutu indignado confessa ao espelho:

_ Eu sou mais eu! Amor... Amor... Devo estar louco de ficar essas semanas pensando naquela formiga! Vou voar, divertir... E esquecer esse amor impossível!

E cada qual em seu passeio, como resistir de não voltar àquele acampamento cheios de lembranças. Tatu chegou ao local, e apreciou o lugar, deslizou suas patinhas em cada pedaço dali, como se buscasse o calor das patinhas de Guira... Mas, foi surpreendido por Guira, que falou?

_Lembranças... Olá, Tutu!

Tutu assustou e disse:

_ Sim, lembranças. E você?

_ Estou de passagem, já vou... Disse Guira, que tenta sair, porém tutu segura-a e diz:

_Não consigo parar de pensar em você, não consigo viver sem você! Eu te amo Ira!

Ela olha-o, e seu coração dispara e diz:

_ Eu também te amo, seu chato! E estou sofrendo muito!

Assim, os dois conversam muito... Principalmente sobre as diferenças e resolvem nunca mais ficar longe um do outro. O problema é se o amor é tão forte para vencer as barreiras impostas pelos insetos e seus pais.

E Guira falou que seu nome não era Ira, e que era filha do Rei Tucan. E teria muitos obstáculos para convencer sua família que o amava, e a preocupação de Tutu era mesma também, sendo necessário o apoio não só da família mais sim de toda a espécie de insetos.

E ao retornarem convocaram .uma reunião, cuja pauta seria convencer os insetos que diferenças não existem, que os dois mesmo pertencentes a espécies diferentes eram iguais em sentimentos.

Num plenário muito grande com representante de cada espécie de inseto, embaixo de um centenário pé de mangueira, todos estavam presentes, os gafanhotos, libélulas, cigarras, formigas, marimbondos, abelhas, baratas, besouros, joaninhas, e muitos outros.

Todos muito ansiosos para saberem o porquê da reunião urgente, alguns assustados pensando até em catástrofe, quando Príncipe Tutu, põe-se a falar.

_ Saudações a todos os insetos presentes, a razão dessa reunião é simples, é para falar do amor entre os insetos, que ultimamente não está havendo, e estou falando do amor ao próximo. Somos todos insetos! Necessitamos de união e muito amor!

Mas, foi uma gargalhada, todos riam e cochichavam... e o gafanhoto pediu a palavra:

_ Amor ao próximo! É gozação! Ainda mais vindo de você! És tão cruel, desinseto e não leva nada à sério!

_ Que perca de tempo estar aqui! Falou a barata.

_ Calma, pessoal eu peço calma! Você tem razão eu era tudo isso e mais, porém mudei! O amor me mudou! Afirmou Tatu.

_ Justo você! Amor mudou? Oras meu colega inseto, és tão egoísta, estamos de asinhas caídas com esse blá, blá, seu! Disse a cigarra.

E os olhos de Tatu encheram-se de uma paz e começou a relatar tudo que acontecerá com ele, do carinho que a Guira cuidou-o, sem importar quem ele era.

Nesse momento a mãe de Guira parecia desmaiar, não acreditava em que seus ouvidinhos ouvira, os pais de Tatu já desconfiava, mas também não era a favor. E o Rei Tucan, abaixou a cabeça, passou as mãos pelo rosto, um inseto sensato, pediu a palavra e disse:

_ Pessoal, realmente temos que abaixar as asas, os ferões e as anteninhas, Tutu tem razão! Necessitamos de união, amor, fraternidade, compreensão e amizade entre nós insetos! Afinal somos todos insetos, temos os mesmos sentimentos! E se Tutu apaixonou-se pela minha filha Guira, eu acredito nele! O amor pode mudar os corações duros de alguns insetos, oras ele mudou!

_ Nós do reino dos Cupins também apoiamos! Falou o Rei Cupim.

_ Nós do reino dos Besouro também! Afirmou o Rei Bezou.

_ Somos do reino das Moscas e apoiamos!

E sucessivamente os representantes de cada reino foram levantando e dando o seu apoio. Pode-se até imaginar a Rainha Tucanguira desmaiou, a rainha Tatá sorrio ao filho, isso era um consentimento.

Corações amolecem diante do amor, e o Rei Tatu também falou, olhando para Guira:

_ Eu embora tenha resistido, dou meu consentimento, você salvou meu filho duas vezes, uma socorrendo da morte e a outra mostrando não só para ele como para todos nós, que não importa o inseto e sim ajudá-lo quando necessita de socorro, demonstrou o amor ao próximo. Parabéns eu tenho muito orgulho de você!

Guira fala:

_ Sonhar... Voar! Não deixar que ninguém destrua e roube seus sonhos. Sonhar é viver, não deixem de sonhar, e não roubem o sonho de ninguém! Nunca desistem de algo que desejam muito, desde que esse algo não-faça nenhum mal ao seu próximo! Amam com sinceridade e pureza, é assim o amor que sinto por Tutu. Um amor forte, e lindo como o brilhar de uma estrela na imensidão dos céus!

E assim em meio aos demais insetos, desviando de um e outro, o Príncipe Tutu corre para os braços da Princesa Guira, abraçando-a e rodopiando no ar, segura suas patinhas e leva-a para um voo apaixonado.

Tutu e Guira arrumaram uma maneira de serem felizes, casaram-se ao ar livre, uma linda e simples festa, e viveram pregando aos outros insetos que a diferença não existe quando se ama de verdade, que devemos ser solidários com a dor do próximo.