JOÃOZINHO E OS CAVALOS ENCANTADOS

Num pequeno lugarejo um camponês viúvo, criava seus três filhos, Pedro, José e João.

Para sustentar seus filhos o viúvo cultivava uma horta, que além de abastecer o lar ele vendia na feira livre da localidade mais próxima.

E mesmo estando cercada sua horta, toda noite era invadida e alguns canteiros eram comidos por algum animal ou bicho, pois não havia rasto para identificá-los.

Assim o senhor Manoel, o viúvo, pediu ao teu filho mais velho, que cuidasse da horta à noite, e assim Pedro fez. Arrumou sua "tralha" e foi cuidar da horta.

Porém, ao amanhecer, seu pai foi ver o que aconteceu, e encontrou Pedro dormindo, e alguns canteiros de cenouras devorados. E o senhor Manoel ficou muito bravo, falou que Pedro era irresponsável, não servia para cuidar da horta. Pedro ficou muito triste e ofendido com a palavra áspera do pai. E Joãozinho, o caçula, ficava em volta do pai, falando:

- Deixa-me pai, eu quero ajudá-lo.

E seu pai respondia:

- Não Joãozinho, você é muito novo. Quem vai é José, e não vai dormir!

E a noite chegou, José foi para a horta, e ficou sentado, olhando a horta. E assim que amanheceu o dia, seu Manoel com os outros dois filhos foram lá ver, e encontraram José sentado com os olhos abertos, porém estava dormindo. Novamente o senhor Manoel estava zangado, e falou que os dois filhos mais velhos não serviam para nada. E Joãozinho continuava a pedir ao pai que deixasse ele ir.

O pai no princípio se negava, depois para ficar livre da insistência de Joãozinho, falou:

- Então vai Joãozinho, se você dormir vou lhe dar uma surra, para não teimar mais.

E Pedro e José, estavam com raiva da insistência de Joãozinho, e resmungavam ?

- Será que este moleque pensa que é melhor que nos dois? Quero só ver! Ele vai

dormir e levar uma surra do papai.

À noite, Joãozinho, pegou sua rede, bastante espinho de laranjeira, e foi para a horta. Armou sua rede e colocou os espinhos, ficando somente o lugar de sentar sem colocar. Com isso, Joãozinho ficaria sentado, e se cochilasse esbarrava nos espinhos e acordava.

E assim, já era alta da madrugada, um silencio total que foi quebrado com um barulho semelhante ao andar de cavalo. E ao olhar para a porteira da horta, envolta uma claridade, ele viu um cavalo branco muito lindo e enorme. E o cavalo falou para Joãozinho:

- Meu nome é Cavalo das Aguas, preciso comer um pouco, você deixa?

E Joãozinho respondeu;

- Sim, eu deixo, pode comer a vontade, mas não come tudo, senão meu pai vai ficar

bravo e bater em mim.

E assim o cavalo, que era encantado fez, comeu as hortaliças e despediu de Joãozinho.

- Joãozinho você é um menino muito bom, se precisar de mim, de um assobio e

chame por Cavalo das Águas.

E ao invisível desapareceu, ficando somente o barulho de seu galope, que logo não se ouviu mais.

Mal esperaram amanhecer lá estavam, Pedro e José, quase a carregar o pai, dizendo.

-Venha ver Joãozinho dormindo também. Ele é irresponsável. Queremos ver o estrago na horta.

E quando abriram a porteira, notaram que horta estava linda, verde, os canteiros com as hortaliças viçosas e não tinha nenhum destruído, e Joãozinho aguando-a.

E o senhor Manoel ficou muito feliz, agradeceu o filho, tecendo uma série de elogios. Mas, Pedro e José, não estavam gostando da situação, além da inveja e maldade estava crescendo um sentimento de vingança para com seu irmão, que inocentemente adorava seus irmãos.

Na outra noite, Joãozinho foi para a horta e armou a rede colocando os espinhos conforme a noite anterior. E na madrugada, novamente escuta os galopes e na porteira, novamente pede permissão para entrar, outro cavalo. Um cavalo alazão que falou: "Posso entrar e comer um pouquinho?" E Joãozinho consentiu, e o cavalo após ter comido disse-lhe:

- Quando precisares de mim assobie duas vezes, e chame pelo Cavalo da Mata !

Ao amanhecer, novamente os irmãos curiosos estavam com muita inveja de Joãozinho, visto que a horta estava mais bela ainda, e o seu pai admirando o trabalho do filho caçula.

Assim Pedro e José comentavam-se entre os dentes:

-Temos que dar um jeito nesse moleque! Onde já se viu querer competir conosco! E papai fica derretendo pelo fedelho!

E a noite, Joãozinho, vai para horta e faz como das noites anteriores, e não tarda começa ouvir os galopes, e a frente da porteira, um lindo cavalo preto, pergunta a Joãozinho ?

-Posso comer um pouco de suas hortaliças ?

Joãozinho consentiu, e o cavalo comeu...Comeu e depois lhe disse antes de ir embora.

- Sou o Cavalo do Sol, se precisares de mim de três assobios.

E seu pai e irmãos puderam contemplar uma horta muito bem cuidada, produzindo de tudo, com hortaliças viçosas e saudáveis. Seu pai não cabia em alegria podia ir à feira do reino mais próximo vender ou trocar por outras mercadorias que estavam precisando.

E assim o Senhor Manoel juntamente com os três filhos, embora longe do olhar do pai, Pedro e José falavam palavras maldosas a Joãozinho, e perto tratavam-no com elogios. Colheram as hortaliças, e arrumaram-nas para uma pequena viagem de dois dias para o vilarejo.

Porém, os filhos não iriam, ficariam para tomar conta dos afazeres e do sítio. E os dois começaram a cultivar maus pensamentos para com o inocente Joãozinho.

Convidado-o para passear um pouco no bosque que perto dali existia. O rapazola para não magoar os irmãos e agradá-los, pois nos últimos dias o clima entre eles estava para tempestades, aceitou o convite do passeio. Mal podia ele pensar o que seus irmãos queriam.

Após andarem muito pelo bosque, entre imensas árvores, cuja mata era densa e fechada, quase não existia trilha, eles pararam e falaram.

- E Joãozinho, você fez de nós uns "bobos de corte", perante papai você é o melhor,

e o melhor sempre são os irmãos mais velhos, então vais merecer o castigo.

Joãozinho fala:

- Meus irmãos, eu nunca quis fazer mal algum, somente ajudá-los.

Impiedosamente, seus irmãos jogaram-no ao chão e furou seus olhos. Mesmo com

Joãozinho pedindo clemência. Sendo a intenção de seus irmãos, que ficando cego não retornaria, morreria de dor e fome no meio do bosque. E deixando-o lá, retornaram a casa, como se nada sucedera. E quando o pai chegou, seus irmãos disseram-no que Joãozinho tinha ido embora, cansará de viver lá, trabalhando e na pobreza.

Senhor Manoel, muito triste pensando que seu filho tivesse abandonado-o, chorava todos os dias.

Enquanto isso no meio da mata, Joãozinho sofre com a dor dos olhos e com muita sede e fome. Tentava em vão andar em meio a árvores, apalpando, ele não sabia se era dia ou noite, apenas com os sons dos pássaros e alguns bichos, parecia distinguir o anoitecer e o amanhecer. Mas, quando já não restava mais forças, lembrou-se do Cavalo das Águas, e chamou-o e deu um assobio, muito fraco. E quase sem esperanças, ele escuta um cavalgar, e em seguida uma voz perguntando.

-Escutei o seu chamado! O que queres meu senhor?

Joãozinho mal podia conter a alegria, então pediu:

-Estou com fome e sede, pode levar-me a algum lugar?

E o cavalo disse-lhe:

-Você é muito generoso, tem um bom coração, levarei você e darei o que beber e comer, e conte-me o que aconteceu?

E num passo de mágica, Joãozinho estava em cima do Cavalo das Águas, cavalgando sem saber para onde, e chegou a um lugar onde bebeu água e comeu e descansou. Após contou o que ocorreu. O Cavalo das Águas pediu que o seguisse a beira de uma mina, pelo qual intitulava-se "mina milagrosa", para os bons e justos de coração, e que Joãozinho lavasse os olhos. E assim o fez, e como um raiar do dia Joãozinho começou a ver, tudo era tão lindo! Indescritível!

O lugar era pitoresco, uma grama verde enraizada num vale, com riacho percorrendo entre as pedras, que brilhavam feito pedras preciosas. As árvores majestosas com flores e fintas faziam uma sombra refrescante, uma brisa acariciava a natureza naquele lugar, onde a paz reinava.

Maravilhado Joãozinho agradeceu o cavalo. E o Cavalo das Águas disse-lhe:

- Não precisa me agradecer, tudo que se faz de bondade, um dia será retribuído.

Agora vou levá-lo para sua casa.

Mas, Joãozinho não quer voltar, pois teme pela tua vida, e acredita que atrapalha a felicidade de seus irmãos com seu pai. E o cavalo saiu com ele a galopar, e assim Joãozinho pode ver que o mesmo não galopava no chão e sim no ar, como se voasse.

E lá do alto pode ver um lugarejo, um reino em meio às montanhas verdejantes. E o cavalo falou:

- Agora é com você, meu amigo. Seja feliz!

Deixando-o no reino, ele pode ver que existia de um tudo, um castelo, muitas casas todas feitas de pedras, havia artesões, alfaiates, camponeses, e muito mais. Mesmo sem profissão ele pedir serviço para o alfaiate, que o atendeu muito bem, e arrumou serviço e lugar para ele ficar, um quarto no fundo da alfaiataria.

Após, o alfaiate falou da serpente das sete cabeças, que soprava fogo e morava numa daquelas montanhas, e vez e outra saia da montanha de seu sono e percorria o reino, soprando fogo e se achasse alguém na rua ou qualquer outro lugar, ela devorava-os, por isso as casa eram de pedras. E assim foi passando os dias, os anos, às vezes aparecia um cavalheiro dizendo ser corajoso e ia matar a serpente das sete cabeças, porém nunca mais voltava. Outras vezes ela descia soprando fogo e amedrontado o povoado.

João já não era um rapazola, pequeno e franzino, havia se tornado homem, muito belo, com seus olhos negros e os seus cabelos em constante desalinho tomava-o sedutor. Mas, o que mais chamava a atenção em João era sua bondade, sua alegria de viver e sua honestidade. O alfaiate amava-o como o filho que nunca o teve.

O alfaiate costurava para a corte e precisou ir tirar medidas do rei, rainha e princesa para as festas na corte. E pela primeira vez em alguns anos juntos, convidou João para ir junto, assim já ia ficando conhecido do rei, para que no futuro tomasse o lugar do alfaiate, visto que era só e não possuía herdeiros.

E foram para o Castelo, onde toda a formalidade foi obedecida, e fez as medidas do rei, da rainha, e por último da princesa.

João não pode conter a emoção de ver uma moça tão bela, sua bela alva como a flor copo de leite, seus olhos verde cor das folhas e seus cabelos cacheados havia um dourado do sol. Paixão a primeira vista. E a princesa Bárbara acostumada a bailes na corte, com os mais belos rapazes da região e da corte, não pode evitar o olhar para aquele que na simplicidade acabará de ganhar teu coração.

Mas, como o amor e o poder não se mistura, tratou-se de ser profissional e evitou os olhares.

Com o passar do tempo, o rei muito preocupado com o fato da serpente das sete cabeças, viver ameaçando o povo, e o povo começou a ficar revoltados com o rei, e este com medo de perder o trono, sugere que daria a mão de sua filha para o cavalheiro mais corajoso, que conseguisse matar a serpente, assim o rei atenderia o povoado, e dificilmente sua filha casaria com um cavalheiro, pois a serpente jamais deixou ninguém vivo.

E foram chegando muitos e muitos cavalheiros, uns dos reinos mais longícuos, porém muitos nem tentavam, só com a fama desistiam.

João lembrou do Cavalo da Mata, e assobio duas vezes chamando-o. E o mesmo apareceu. E ele pediu que o ajudasse matar a serpente e assim ganharia a mão de quem ele amava muito. O cavalo pediu para que ele fechasse os olhos e ao abrir, viu-se vestido de uma armadura dourada e com uma espada dourada, e o cavalo todo produzido para um combate, e entraram no largo do castelo, e o rei apareceu lá do alto da sacada, os clarins soaram, e o rei abençoou o "Cavalheiro da Armadura Dourada" desejando-lhe sorte.

João caminhou até chegar a porta da caverna, onde de longe sentia um odor de carniça, quase insuportável, e muitas caveiras jogadas, pois ninguém tinha coragem de ir buscar e chorar o seu morto, pois a serpente era cruel, não tinha piedade.

Adentrando mais, e mais pode se ver lá no fundo, as cabeças todas dormindo num sono profundo, mas João sabia que ao matar uma cabeça, as outras iriam acordar. Voltar não poderia mais, e em seu coração só tinha lugar para a linda princesa Bárbara, então haveria de continuar. E assim o fez, com sua espada dourada e mágica, suspendeu para cima, evocando forças do bem e do amor contra o mal que ali pairava, e a luz que saia da espada era tão forte que ofuscava a visão da serpente que mal podia vê-lo. Porém a serpente estava irada, procurava-o dentro da caverna, jogava-se as cabeças uma contra a outra, lançava sua língua mortal, e urrava com um som horripilante.

E assim montado no Cavalo da Mata, meio a voar ou flutuar, foi furando uma, e outra... Mas, ficando machucado também e quase sem forças, ao longe arremessou a espada com muita velocidade atingindo de cheio o coração das serpentes, visto que era uma serpente que possuía um único coração maldoso, para sete cabeças presas a uma única longa e grossa calda. Os sons da agonia da morte era inevitável, e as cabeças caíram uma por cima das outras, morrendo todas.

Muito machucado e cansado pela luta, sendo impossível levar a serpente ao rei. João chegou perante o rei e disse-lhe que havia matado a serpente, uns duvidavam e falavam.

- Nunca ninguém voltou! Será que ele foi mesmo? Às vezes está fingindo estar machucado!

João disse a população que fosse até a caverna e poderiam confirmar o feito. E muitos foram lá ver, ficando perplexo com o que viram, e João tornou-se herói para o povoado.

Assim, naquele dia à noite, o rei fez uma festa para formalizar o noivado do cavaleiro da armadura dourada com sua filha. Na corte todos esperam, João despede e agradece o Cavalo da Mata, o mesmo fala que apenas retribuiu a bondade de coração que João tem.

Ao entrar todos saúdam com palpas, e assim o rei pedi ao "Cavaleiro da Armadura Dourada" que retirasse a armadura do rosto. E assim João fez, para surpresa de todos era o protegido do alfaiate, o "João Ninguém", mas como?

E para a alegria da princesa Bárbara, que sentiu um alívio, pois não queria casar-se com quem ela não amava, foi declarar seu amor a João.

Passou alguns meses e a festa do casamento aproxima, mas João não estava feliz, pois queria rever seu pai, e seus irmãos, ele não guardava raiva, tinha saudades, e queria que eles viessem compartilhar da mesma alegria.

E lembrou do Cavalo do Sol, e assobiou três vezes. Lá do alto surge o Cavalo do Sol a galopar. João fala dos seus sentimentos e da vontade de revê-los. E montando-o some no céu azul, e chega ao sítio. Não conteve as lágrimas de saudades e alegria, abraçou seu pai e seus irmãos, que falou em arrependimento, e pediu desculpas. João verificou que a idade e o cansaço haviam chegado para o seu pai, seus irmãos embora fortes não tinham mais a mesma destreza da juventude que atualmente ele esta colhendo, e falou que queria levá-los para todos viver juntos, só assim sua felicidade seria completa. E aceitaram, mas como vão? Um cavalo para quatro pessoas? Oras o Cavalo era encantado, pediu para que todos fechassem os olhos e contassem até três... E ao abrirem os olhos já estavam no reino.

João agradece o Cavalo do Sol. E no dia do casamento, muita festa, alegria e felicidade, todos do reino participaram, pois não havia distinção de nada.

No altar improvisado no jardim do castelo, João espera sua amada, e ela chega com uma linda carruagem com três lindos cavalos um branco, um alazão e um negro. E João sorri, vendo seus amigos Cavalo das Águas, da Mata e do Sol. E pensa, que para alcançar a felicidade é através do coração, da bondade, força de vontade e muita luta. E depois que alcançar a felicidade é só preservá-la!

Depois do casamento João e Bárbara embarcaram na carruagem e seguiram para o céu, onde as estrelas contemplaram as suas juras eternas de amor! Querem saber mais... Não sejam curiosos contentem-se com "Foram felizes para Sempre!"

KHASSANDRA GREEN
Enviado por KHASSANDRA GREEN em 21/06/2007
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