Trás a porta,o quê levo a porta?

Trás a porta, o quê levo a porta?

Em tempos muito recuados, numa pequena povoação, perdida entre as montanhas, numa casa muito humilde, moravam dois irmãos, como não tinham família chegada, viviam os dois sós naquela casinha, herança deixada pelos seus pais. Como um deles era um pouco atrasado mental, a casinha ficou como herança, para o irmão mais velho, na condição de olhar pelo irmão mais novo, o que era atrasado, o mais velho nunca tinha arranjado com quem casar, pois sabia que poderia haver problemas com o irmão e a sua mulher, caso resolvesse casar, assim ia vivendo, aturando o irmão, que o ajudava em muitas tarefas nas terras, onde semeava alguns cereais, que dava para ambos e por vezes até vendiam ainda o que sobrava para sua alimentação. Também tinha umas quantas cabeças de gado, que serviam na lavoura, e para se deslocarem à povoação, ou para irem à feira.

Mas começaram os moradores daquela povoação, a serem assaltados, com tanta frequência, que alguns ficaram na miséria. Roubaram o gado, a criação, aos dois irmãos até lhe roubaram a pouca mobília, num dia em que foram à feira, coitados quando chegaram a casa, vira a porta arrombada e nem os tarecos escaparam, como chamavam à mobília naqueles lados. O mais velho, aborrecido com a sua sorte, não quis pernoitar em casa, uma vez que nem tinha onde se deitar, nem mesa para por os pratos da ceia, nem cadeiras para se assentar. Então com medo, ainda assim não voltassem os larápios, para ver se lhe palmavam algum dinheirinho, do gado que vendeu na feira. Então resolveu ir para o pinhal, ali próximo da casa, como havia pinheiros, que tinham uma engenhoca, onde ele por vezes dormia a sesta, pois tinha passado umas pranchas de uma pernada à outra, resolveu ir para lá, pois sentia-se ali mais seguro, para poder pensar o que ia resolver da vida, ainda se fosse ele só, sabia-se desenvencilhar, mas com o irmão, não podia deixa-lo abandonado, não tinha coragem para isso. O irmão ainda ficou lá por casa, a fazer não sei o quê, então começou a gritar, ó mano o que queres que eu faça? O irmão mais velho gritou: Olha, fecha a porta, o outro respondeu. O quê levo a porta? Não fecha a porta! E esta disputa não tinha fim, fecha a porta, levo a porta, até que o mano mais velho, para não se aborrecer mais diz-lhe: Sim trás a porta. Pensava ele que o irmão não podia com a porta, nem sabia retira-la dos gonzos, mas o outro era meio loco, mas tinha uma força fora do comum, e não teve com mais medidas retirou a porta e apareceu com ela às costas. Então o mano mais velho disse ao outro, eu dizia para fechares a porta olha mano, como não temos nada para roubarem, eu trouxe a porta para não a roubarem, porque as outras coisas já roubaram todas. Pronto tens razão olha vamos dormir, porque amanhã é um novo dia, pois mas eu vou por a porta ao pé da gente, para não a roubarem, não podes com a porta, pesa muito, o melhor é deixares aqui a porta. Não senhor mano, eu ponho a porta lá em cima, tu ficas aqui e atas a corda que eu puxo, vais ver que é ver se te avias, a porta ao pé da gente, Depois de um esforço, lá ficou a porta no cimo do pinheiro, o mano choné todo contente, deitou-se perto do mais velho, que já estava a deixar-se dormir, quando ouviram umas vozes, mesmo por baixo do pinheiro onde estavam. Eram uns ladrões, que tinham acabado de fazer uns assaltos e à luz de um candeeiro a petróleo, contavam o dinheiro, dividindo as coisas roubadas, e falavam alto, esta é para mim este é para ti, o mano atrasado mental, pegou na porta, deixando-a cair disse: Então pra gente não é nada? Os larápios, quase que iam apanhando com a porta em cima, largaram tudo, e há pernas para que te quero, fugindo a sete pés que ninguém os viu mais, os dois manos, recuperaram as sua coisas e muito dinheiro, que deu para refazerem vida, compraram uma caçadeira, para se defender, o mano mais velho, acabou por arranjara uma moçoila, casou e o irmão também ficou a viver com eles, em boa harmonia.

J .Rodrigues (Galeano) 27/09/2015

Galeano
Enviado por Galeano em 29/09/2015
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